2024 é o ano mais mortal na história para trabalhadores humanitários

Equipes humanitárias distribuem alimentos a palestinos carentes na Faixa de Gaza sitiada, em 25 de novembro de 2024 [Hassan Jedi/Agência Anadolu]

Mais trabalhadores humanitários foram mortos ao longo de 2024 do que em qualquer ano desde que há registros, confirmou a Organização das Nações Unidas (ONU).

Ao menos 281 trabalhadores humanitários foram mortos em 19 países, superando as 280 vítimas documentadas em 2023, reportaram dados do Banco de Dados de Segurança de Trabalhadores Humanitários (Awds), projeto do grupo Humanitarian Outcomes.

Quase dois terços das vítimas — ou 178 trabalhadores humanitários mortos no período — se encontravam na Palestina ocupada, sob escalada colonial israelense, com 175 mortos sob o genocídio em Gaza e outros três na Cisjordânia.

Desde outubro de 2023, com o início da campanha de extermínio de Israel, ao menos 333 trabalhadores humanitários foram mortos em Gaza, indicou a ONU.

As equipes são essenciais para distribuir socorro humanitário a comunidades assoladas por crises, como confrontos armados, desastres naturais e pobreza.

LEIA: Uma agenda para ouvir testemunhos palestinos em São Paulo: a jurista internacional e a jornalista sobrevivente de Gaza

Em Gaza, a situação é particularmente grave pelo cerco absoluto conduzido por Israel há quase 14 meses — sem comida, água ou medicamentos —, com uma catástrofe de fome imposta à população civil, incluindo dezenas de mortes entre crianças.

Trabalhadores humanitários provêm ainda serviços básicos, como saneamento e mesmo vacinação, como o caso da recente campanha em Gaza contra a poliomielite — iniciativa do Ministério da Saúde palestina, Organização Mundial da Saúde (OMS), Agência da ONU para Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) e Fundo das Nações Unidas para Infância (Unicef).

Para além das agências da ONU, trabalhadores humanitários vitimados em Gaza e outras regiões em condições críticas operavam em nome de organizações não-governamentais, como a Federação Internacional da Cruz e do Crescente Vermelho.

Dentre os trabalhadores humanitários mortos pelas consecutivas crises, a maior parte se constitui por agentes locais, com auxílio de entes estrangeiros especializados e proteção consagrada nos termos da lei humanitária internacional.

Em Gaza, a maioria das vítimas são agentes da UNRWA — portanto, das Nações Unidas. Estima-se 243 membros da UNRWA mortos, dentre 13 mil trabalhadores frequentemente difamados como “terroristas” por Israel, a fim de legitimá-los como alvos.

O índice significa um entre cada 50 funcionários da UNRWA mortos por Israel em Gaza — recorde na história das Nações Unidas.

Fora da Palestina, ao menos 103 trabalhadores humanitários foram mortos em condições de crise ou conflito em 12 meses, incluindo 25 no Sudão, onze na Ucrânia e outros 11 na República Democrática do Congo.

Para o porta-voz do Escritório de Assuntos Humanitários das Nações Unidas (OCHA), Jens Laerke: “[As equipes] mostram o melhor que a humanidade têm a oferecer. Porém, estão sendo mortas, em números recordes, em contrapartida”.

“Estados e partes envolvidas em conflitos devem proteger os trabalhadores humanitários, respeitar a lei internacional, indiciar aqueles responsáveis por ataques diretos e dar fim a nossa era vigente de impunidade”, destacou Tom Fletcher, coordenador de emergência e subsecretário da ONU para assuntos humanitários.

Sair da versão mobile