Autoridades nos Emirados Árabes Unidos anunciaram neste domingo (24) a prisão de três suspeitos de matar o rabino israelo-moldavo Zvi Kogan, ex-membro do exército ocupante, encontrado morto após desaparecer na última quinta-feira (21).
Kogan serviu à unidade de judeus ortodoxos das Brigadas Givati — unidade colonial cujas raízes remetem à Nakba, ou “catástrofe” palestina, de 1948. Segundo informações, Kogan estava em Abu Dhabi como emissário ortodoxo.
O establishment israelense ostentou o caso como “ato antissemita de terror”, na tentativa de contornar a crise de relações públicas decorrente dos mandados de prisão deferidos pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia, contra o premiê Benjamin Netanyahu e o ex-ministro da Defesa, Yoav Gallant, por suas ações em Gaza.
No domingo, após anunciar previamente a fuga dos responsáveis, o Ministério do Interior emiradense alegou que as autoridades competentes detiveram, “em tempo recorde”, três responsáveis pela morte de Kogan.
“Os indivíduos foram presos e todas as medidas legais foram tomadas”, declarou a pasta. “Descobertas da investigação serão anunciadas após sua conclusão”.
Neste domingo, a agência de espionagem Mossad informou que o Conselho de Segurança de Israel emitiu uma alerta contra eventuais viagens aos Emirados, em nível 3, ou médio, sob a alegação de “ameaças terroristas”.
A mídia israelense, próxima ao exército colonial, insistiu na tese de que Kogan foi seguido por dias por agentes estrangeiros, que supostamente fugiram à Turquia. Conforme a rádio militar Kan, oficiais investigam uma “célula uzbeque, sob diretrizes iranianas”.
De acordo com a versão israelense, Kogan não compareceu a encontros no sábado (23), a cerca de uma hora e meia de Dubai.
A rede israelense Ynet News noticiou que o veículo de Kogan foi descoberto abandonado em Al Ain, a cerca de 150 km de Abu Dhabi, onde o rabino residia.
Desde a normalização de laços entre Israel e Emirados Árabes Unidos, sob os Acordos de Abraão, mediados por Washington, Kogan era representante do Chabad, entidade judaica sionista, responsável por permitir conexões israelenses no reino do Golfo.
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O Chabad é uma organização de tendências extremistas que nega expressamente sequer a existência do povo palestino e pede pela expulsão dos árabes dos territórios ocupados. Membros da organização operam no exterior, via centros de ensino e sinagogas.
O incidente se soma à crise de instabilidade regional devido ao genocídio israelense em Gaza, com 44 mil mortos, 105 mil feridos e dois milhões de desabrigados, sob cerco total — sem comida, água ou medicamentos —, desde outubro de 2023.
Neste entremeio, regimes árabes que detêm laços com Israel — Jordânia, Egito, Emirados e Bahrein — sofrem pressão interna e regional para condicionar relações à atenuação da crise, incluindo estabelecimento de um Estado palestino.
A situação se deteriorou ainda mais mediante ameaças israelenses de deflagração militar em toda a região, incluindo recente invasão ao Líbano e ações esporádicas contra Iêmen, Síria, Iraque e Irã.
A campanha da ocupação segue em desacato de medidas cautelares por desescalada e fluxo humanitário do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), com sede em Haia, onde Israel é réu por genocídio desde janeiro.