Gerard Araud, ex-embaixador da França em Tel Aviv, condenou a indicativa alemã de que seu venha a desacatar os mandados de prisão emitidos pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia, na última quinta-feira (21), contra o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e seu ex-ministro da Defesa, Yoav Gallant.
Gallant e Netanyahu são acusados de crimes de guerra e lesa-humanidade na campanha israelense em Gaza, incluindo uso da fome como arma de guerra.
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Apesar de contragosto entre os aliados de Israel signatários ao Estatuto de Roma — pacto fundador da corte —, somente a Alemanha expressou abertamente que não deve prender ambos os foragidos caso estes pisem em seu território.
Steffen Hebestreit, porta-voz do governo em Berlim, disse a jornalistas “achar difícil” que as prisões ocorram em solo alemão.
Para o diplomata francês, que também serviu na embaixada de seu país em Washington, em postagem no Twitter (X), recusar-se a cumprir as determinações do tribunal arrisca o “colapso de todas as pretensões ocidentais”.
Para Araud, a posição berlinense implica que a Alemanha “abdica do direito de dizer uma palavra sequer sobre direitos humanos, lei humanitária a justiça internacional”.
Em mensagem posterior, Araud advertiu que o eventual desacato às instituições mundiais estabelecidas representa “um naufrágio moral e político e um terreno fértil à ascensão de poderes autoritários”.
“Vemos o Ocidente cometer suicídio ao vivo”, acrescentou o diplomata. “Eles não sabem mesmo o que acontece em Gaza?”
Na Alemanha, ativistas mantém protestos por cessar-fogo em Gaza apesar de repressão do Estado. Manifestações reúnem não apenas árabes, palestinos e descendentes, como cidadãos nativos e membros da diáspora turca e da comunidade judaica no país.
Desde a deflagração do genocídio, Berlim apela a uma distorção de sua responsabilidade pelo Holocausto nazista para defender os crimes de Israel, incluindo ao projetar práticas de antissemitismo aos palestinos, ao expulsá-los de faculdades ou negar sua cidadania, descrevendo-os como “apátridas”.
Israel mantém ataques indiscriminados a Gaza desde outubro último, com 44 mil mortos, 105 mil feridos e dois milhões de desabrigados.
Os avanços de Israel seguem em desacato a uma resolução por cessar-fogo do Conselho de Segurança e medidas cautelares do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), radicado em Haia, onde é réu por genocídio sob denúncia sul-africana deferida em janeiro.
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