Forças da oposição síria capturaram dezenas de cidades e aldeias no noroeste do país, ao lançar uma ofensiva surpresa na região de Aleppo nesta quarta-feira (28) — a primeira em larga escala em quatro anos, contra forças do regime de Bashar al-Assad.
Rebeldes tomaram controle de áreas estratégicas a até 2 km de distância da metrópole de Aleppo, sob o objetivo declarado de expandir áreas na Síria para que os deslocados pelos 13 anos de guerra civil possam voltar “com dignidade e segurança”.
Segundo as informações apresentadas até então, os combatentes pertencem, sobretudo, ao grupo Hay’at Tahrir al-Sham (HTS) e sua sala de operações Fath al-Mubeen, que reúne outros batalhões de oposição.
Relatos apontam participação do Exército Nacional Sírio (ENS), embora limitada.
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De acordo com o Observatório Síria de Direitos Humanos (SOHR), ao menos 242 pessoas, em maioria combatentes, foram mortas nos confrontos em menos de três dias. Estima-se que 50 localidades foram capturadas pelas forças rebeldes.
Na sexta-feira (29), a organização reportou, contudo, ao menos 24 mortes civis, incluindo 19 em ataques aéreos conduzidos por aviões russos em áreas opositoras.
Um oficial de segurança de Damasco corroborou à rede internacional AFP que o exército sírio “enviou reforços” a Aleppo, ao insistir, no entanto, que os “agressores não chegaram ainda aos limites da cidade”.
Informações indicam que os preparativos do ataque foram conduzidos ao longo do último ano, a fim de surpreender Assad e milícias colaboracionistas que operam na região.
Mustafa Bakkour, porta-voz do grupo opositor Jaysh al-Izzah, notou ainda que a operação serve de resposta a ataques do regime a áreas civis no noroeste da Síria, no decorrer das últimas semanas.
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Após serem surpreendidas, forças assadistas e milícias ligadas a Teerã responderam com artilharia e disparos de foguetes contra bastiões oposicionistas na província de Idlib e na região oeste da província de Aleppo.
Uma fonte militar da Turquia comentou a situação à rede Middle East Eye, ao apontar que grupos rebeldes lançaram uma “ofensiva limitada” a Aleppo para dissuadir Damasco de “atacar áreas das quais os ataques se originaram”.
Conforme a fonte, no entanto, a operação se expandiu “à medida que as tropas do regime fugiram de suas posições”.
Ancara disse ainda trabalhar para evitar uma nova escalada regional, ao notar a agressão israelense ainda em curso contra a Faixa de Gaza e o território libanês.
A fonte observou também que a operação parece buscar restituir as fronteiras da “zona de desescalada” de 2019, na região de Idlib, estabelecidas sob acordo entre as partes rivais, além de Turquia, Rússia e Irã.
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Setores substanciais da suposta zona neutra, sobretudo perto de Aleppo, foram tomados pelo regime, com assistência russo-iraniana, em 2020, em violação do acordo, ao coagir a formação de novos termos de cessar-fogo para atenuar tensões.
A Síria permanece em guerra civil desde março de 2011, quando forças de Assad reagiram com particular brutalidade a protestos populares por democracia. Desde então, mais de 13 milhões de pessoas — metade da população — foram deslocadas, com ao menos seis milhões fugindo do país, segundo estimativas das Nações Unidas.