Chefe do Hezbollah proclama ‘vitória divina’ em discurso à televisão

O novo secretário-geral do grupo Hezbollah, Naim Qassem, realizou um pronunciamento televisionado, nesta sexta-feira (29), no qual abordou pela primeira vez o cessar-fogo com Israel, que entrou em vigor na madrugada de quarta-feira (27).

Qassem proclamou “vitória divina” após 14 meses de troca de disparos transfronteiriços com o Estado ocupante, além de dois meses de invasão por terra ao Líbano — contida, no entanto, pela resistência no sul do país.

Segundo Qassem, sua vitória é maior do que no conflito de 34 dias em 2006, considerado derrota tática para Israel. Qassem classificou como “massivas” as perdas israelenses, ao notar a evacuação de milhares dos colonatos de fronteira.

Qassem insistiu que o Hezbollah “aprovou” o armistício e que sua coordenação junto ao exército libanês será conduzida em “alto nível” para garantir a implementação do acordo. Contudo, alertou que o Hezbollah está “pronto para a guerra”, em caso de violações.

Para Qassem, os planos do grupo estabelecidos por seu antecessor, Hassan Nasrallah — executado por um bombardeio israelense à periferia de Beirute, no fim de setembro — se mostraram “ágeis e eficientes”.

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Apesar de destruição e mortes, reafirmou Qassem, Israel falhou em superar a “resiliência do povo libanês [que] chocou o mundo e instilou medo no exército inimigo”.

Qassem enfatizou o papel do Hezbollah em reconstruir o país, ao prometer “utilizar todos os mecanismos apropriados para cooperar com o Estado neste sentido”.

Em seguida, reconheceu urgência de “garantir que a eleição presidencial ocorra a tempo”, prevista para uma votação indireta, no plenário do legislativo libanês, em 9 de janeiro, no intuito de superar a vacância que já dura dois anos.

Desde outubro de 2022, quando se encerrou o mandato de Michel Aoun, doze sessões do parlamento, no entanto, falharam em eleger um presidente, sob persistente impasse, que se soma ao colapso fiscal que toma o país.

Qassem notou ainda compromisso em fortalecer a união nacional: “Trabalharemos junto de todas as forças que creem que o país pertence a seus cidadãos e nos engajaremos em diálogo para construir um Líbano unido com base no acordo de Taif”.

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O acordo citado, de 1989, encerrou os 15 anos de guerra civil libanesa, ao determinar um sistema de compartilhamento de poder entre cristãos, sunitas e xiitas.

Em último caso, Qassem reiterou que sua organização “mantém o direito à autodefesa” e a defender seu país: “Lutaremos pela união nacional, mas também para fortalecer nossas capacidades de defesa para dissuadir o inimigo de atacar o Líbano”.

Qassem por fim prestou homenagem a líderes do Hezbollah mortos desde a escalada de Israel em meados de setembro, entre os quais, Nasrallah e o favorito na linha sucessória, Hashem Safieddine.

Seu tributo se estendeu ainda a soldados libaneses, membros da defesa civil e médicos e paramédicos que operaram em campo, vitimados por Israel. Qassem parabenizou o povo e os “milhares de mártires” em solo libanês.

Qassem mencionou também a crise ainda em curso na Palestina ocupada, ao reiterar que o apoio de seu grupo à nação vizinha continuará, sobretudo no contexto do genocídio em Gaza, com 44 mil mortos, 105 mil feridos e dois milhões de desabrigados.

O cessar-fogo, em vigor há 48 horas, todavia, já mostra fissuras, com múltiplas violações de Israel em particular no sul do Líbano.

Sob o acordo, o exército israelense tem de recuar ao sul da Linha Azul, fronteira de facto com o Líbano; o Hezbollah tem de se retirar ao norte do rio Litani; e o exército libanês tem de enviar tropas à zona neutra, para monitorar o processo.

A agressão israelense ao Líbano deixou 3.960 mortos, 16.500 feridos e até 1.3 milhões de deslocados à força, que buscam voltar às suas casas após o cessar-fogo. Não há, porém, horizonte até então para um armistício em Gaza.

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