O Panorama Humanitário Global das Nações Unidas para 2025 previu que 305 milhões de pessoas precisarão de assistência humanitária para sobreviver no próximo ano.
A ONU e seus parceiros assistenciais pediram US$47.4 bilhões para suprir as demandas de 189.5 milhões de pessoas, contudo, sob déficit considerável, reportou o Escritório das Nações Unidas para Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA).
“Sendo realistas, dados cortes anunciados e esperados de alguns dos maiores doadores, e o fato de que os apelos para 2024 obtiveram menos de 44% dos recursos, entendemos que [em 2025] o número de pessoas alcançadas será ainda menor”, disse o OCHA.
Para pôr as demandas em perspectiva, o Conselho de Refugiados da Noruega notou que o gasto militar global chegou a US$2.44 trilhões em 2023, conforme dados da rede Statista, enquanto a corporação Meta, sozinha, teve uma renda bruta de US$47.4 bilhões.
“O Panorama Humanitário Global reflete uma lacuna verdadeiramente alarmante entre o número de pessoas carentes de ajuda humanitária e o número que conseguimos apoiar”, comentou Camilla Waszink, diretora de Parceria e Política da entidade norueguesa.
“É devastador saber que milhões de pessoas carentes não receberão socorro no próximo ano por causa da crescente falta de financiamento às respostas humanitárias”, reiterou. “Com um recorde de conflitos em curso, doadores cortam do orçamento assistencial que pessoas deslocadas e afetadas dependem para sobreviver”.
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Waszink observou que, em um momento em que os maiores oligarcas do mundo, podem viajar ao espaço por turismo e trilhões de dólares são usados para financiar guerra, é algo “incompreensível” que a comunidade internacional não forneça recursos para abrigar as famílias deslocadas ou impedir que crianças morram de fome.
“Há uma urgência em renovar a solidariedade global”, acrescentou. “Estados que já doam devem assegurar que a ajuda acompanhe as demandas e a inflação; Estados emergentes podem competir para se posicionar entre os mais generosos doadores, da mesma forma que competem por ostentosos eventos esportivos internacionais”.
Doadores, insistiu Waszink, devem garantir apoio a crises com menos recursos, para que fundos com destino a lugares como Ucrânia ou Gaza não signifiquem o abandono de Mali ou Sudão, por exemplo.
“Conflitos e um flagrante desrespeito pela proteção dos civis estão motivando demandas humanitárias gigantescas”, explicou Waszink. “É essencial que doadores providenciem os recursos, mas é imperativo investir também no fim dos conflitos, cessação de violações e esforços para impedir que novas necessidades emerjam”.
Desde 2023, apesar das crises concomitantes, houve uma mudança na maneira com que a ONU calcula o volume de pessoas que precisam de ajuda humanitária.
“As Nações Unidas adotaram uma definição mais estreita de ‘demanda humanitária’, em relação aos anos anteriores, para refletir o que diz ser uma análise mais realista das suas prioridades”, advertiu o Conselho de Refugiados da Noruega.
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“É, portanto, importante estarmos cientes que o índice relativamente estável de pessoas carentes comparado ao ano passado [305 milhões em 2024, contra 300 milhões em 2023] não significa que as demandas humanitárias não evoluíram”, concluiu a organização. “Ao contrário, em muitos lugares, a situação piorou bastante”.