Wael al-Dahdouh, editor da rede internacional Al Jazeera em Gaza, foi consagrado com o Prêmio Coragem da ong Repórteres Sem Fronteiras (RSF), em cerimônia em Washington, realizada na noite desta terça-feira (3).
Dahdouh, em mensagem gravada, enfatizou: “Fizemos enormes sacrifícios e pagamos um preço alto: exaustão, noites sem sono, sangue, suor, medo, terror, perda e deslocamento, certos de que todas as notícias, todas as imagens e informações de Gaza, ao longo desta guerra, chegariam ao mundo”.
Dahdouh venceu a honraria por “jamais deixar sua cobertura, apesar de seus ferimentos e da morte de familiares em Gaza”, declarou a RSF em nota. “[Dahdouh] incorpora a própria resiliência e a luta por informações fidedignas”.
Anualmente, a RSF realiza seu Prêmio de Liberdade de Imprensa, para celebrar o trabalho de jornalistas e redes que contribuem para a promoção dos princípios do jornalismo livre em âmbito global.
O júri da 32ª edição contou com repórteres, fotógrafos e ativistas de destaque, de todo o mundo, encabeçado pelo presidente da RSF, o jornalista francês Pierre Haski.
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Em 13 de novembro, Dahdouh recebeu também o Prêmio de Liberdade de Imprensa John Aubuchon, concedido pelo National Press Club, de Washington, que destacou: “Dahdouh viveu tragédias pessoais indescritíveis, enquanto reportava de Gaza”
Em 28 de outubro de 2023, enquanto cobria ao vivo um ataque aéreo israelense ao campo de refugiados de Nuseirat, Dahdouh soube que, dentre as vítimas, estavam sua esposa, seu filho de 15 anos e sua filha de sete. Outros oito parentes morreram na ocasião.
Em 15 de dezembro, Dahdouh foi gravemente baleado enquanto cobria um ataque a uma escola em Khan Younis. Seu cinegrafista, Samer Abu Daqqa morreu no local.
Em 7 de janeiro, Dahdouh perdeu o primogênito, Hamza, também jornalista da Al Jazeera, para um drone do exército de Israel.
Israel mantém ataques indiscriminados a Gaza desde outubro de 2023, mediante violenta campanha de desinformação, desumanização e propaganda de guerra, com ao menos 44 mil mortos e 105 mil feridos desde então, além de dois milhões de desabrigados.
Estima-se, dentre as fatalidades, ao menos 190 trabalhadores de imprensa, à medida que Israel busca encobrir seus crimes ao atacar diretamente a categoria.
As ações de Israel seguem em desacato de medidas cautelares do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, onde o Estado colonial é réu por genocídio sob denúncia sul-africana deferida em janeiro.
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