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Deep State quer deixar Trump em um caminho sem volta

O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, discursa em uma reunião da Conferência dos Republicanos da Câmara no Hyatt Regency no Capitólio em 13 de novembro de 2024 em Washington, DC.[Andrew Harnik/Getty Images]

Após a vitória de Trump, Joe Biden e o Deep State aceleraram freneticamente um processo de escalada do intervencionismo mundial. Permitiram que Zelensky utilizasse os ATACMS em território russo e, não por coincidência, pouco depois Zelensky declarou que poderia aceitar um congelamento na guerra sob a condição de que a OTAN praticamente ocupasse a Ucrânia.

Concomitantemente, no mesmo dia em começou a vigorar o cessar-fogo entre Israel e Hezbollah, terroristas apoiados pelos Estados Unidos iniciaram a maior ofensiva em anos na Síria. E o episódio mais recente: a tentativa de autogolpe militar na Coreia do Sul. Essa escalada ocorre em três pontos nevrálgicos das tensões bélicas internacionais, todos adjacentes à Rússia.

Os comandantes do establishment americano não aceitam de modo algum que Donald Trump possa colocar em prática as suas ameaças de reduzir o papel dos EUA – inclusive militar – pelo mundo. São muitas as declarações de preocupação com essa possibilidade. O que o imperialismo americano precisa é manter as suas posições, que lhe garantem a hegemonia geopolítica global por meio da exploração das nações que ele subjuga com sua presença militar, de inteligência e seu poderio econômico.

O caso Hunter Biden

Outra medida tomada por Biden, embora não seja tão relevante e impactante como as outras, chamou a atenção pelo nepotismo escancarado ao perdoar seu próprio filho, Hunter Biden, por duas acusações criminais contra ele. E Hunter é um personagem envolvido justamente com o regime ucraniano.

De 2013 a 2018, Hunter Biden arrecadou cerca de 11 milhões de dólares como advogado e membro de conselhos, incluindo empresas ucranianas e chinesas envolvidas em investigações de corrupção. Em 2020, Hunter revelou ser alvo de uma investigação federal sobre impostos. Ele foi aconselhado a corrigir sua declaração fiscal devido a uma renda não declarada de US$ 400 mil da Burisma, empresa ucraniana acusada de suborno. A análise de seus dados revela gastos excessivos com luxos e vícios, enquanto enfrentava dificuldades financeiras, incluindo dívidas fiscais e pessoais.

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A Burisma, uma empresa de gás que nomeou Hunter para uma lucrativa cadeira no conselho, tinha como uma de suas representantes a Blue Star Strategies, uma empresa de lobby administrada por democratas. Em agosto, foi revelado que Hunter buscou ajuda do governo americano (através do embaixador em Roma) para o estabelecimento de contratos da Burisma na Itália em 2016.

As investigações levantaram questões nos Estados Unidos sobre ética e segurança nacional, uma vez que empresas estrangeiras poderiam usar esses vínculos para obter influência. Hunter afirma que cooperou integralmente com as investigações e nega ilegalidades, destacando que usou seus ganhos para pagar dívidas e sustentar a família.

Republicanos, especialmente no Senado, exploraram o caso para investigar possíveis conexões financeiras entre Hunter e o presidente, mas, até agora, não encontraram provas conclusivas. Hunter enfrenta críticas por seu histórico de dependência química, que ele mesmo admite ter influenciado seus gastos e decisões financeiras.

O diplomata ucraniano Andrei Telizhenko, que trabalhou na embaixada da Ucrânia nos EUA a partir de 2015, também foi funcionário da Blue Star, a empresa de lobby da Burisma. Em entrevista ao Grayzone, ele acusou a família Biden de estar envolvida em esquemas de corrupção pessoal na Ucrânia. Curiosamente, Telizhenko foi alvo de sanções pelo Departamento do Tesouro dos EUA por “ter se envolvido direta ou indiretamente, patrocinado, ocultado ou de outra forma sido cúmplice de influência estrangeira em uma eleição nos Estados Unidos”.

Os democratas e os serviços de inteligência dos EUA – como, aparentemente, o próprio Tesouro – tentaram deslegitimar as denúncias contra Hunter Biden, tachando-as de simples “desinformação russa”.

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Mas depois apareceram novas informações, ainda mais preocupantes, sobre o envolvimento de Hunter Biden com os ucranianos. Em março de 2022, a Newsweek repercutiu uma acusação do governo russo, de que Hunter Biden era sócio de um fundo de investimentos, Rosemont Seneca, que financiava dezenas de laboratórios biológicos por toda a Ucrânia. Os russos também denunciaram o próprio governo dos Estados Unidos por estar por trás desses laboratórios, que seriam utilizados para pesquisar doenças que poderiam ser transmitidas para a população russa do Donbass.

“Materiais recebidos nos permitiram traçar o esquema de interação entre órgãos do governo dos EUA e os biolaboratórios da Ucrânia”, disse à época Igor Kirillov, o chefe das tropas de defesa radiológica, química e biológica da Rússia. Ele adicionou que a Rosemont Seneca atraiu atenção devido a um suposto “relacionamento próximo” com os principais fornecedores para “biolaboratórios do Pentágono ao redor do mundo”. A USAID e a Open Society também estariam envolvidas.

Tulsi Gabbard, ex-congressista democrata e nomeada por Trump para ser sua diretora de Inteligência Nacional, reconheceu na época que os EUA financiavam laboratórios biológicos na Ucrânia.

Os casos ATACMS e Hunter Biden vieram acompanhados de uma série de medidas tomadas pelo presidente dos EUA de saída relacionadas à guerra na Ucrânia. Dentre elas,

Informou ao Congresso planos de cancelar US$ 4,65 bilhões da dívida da Ucrânia, segundo a Bloomberg;

Solicitou secretamente ao Congresso um adicional de US$ 24 bilhões para reabastecer os estoques do Pentágono destinados à Ucrânia;

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Intensificou as entregas de armas a Kiev, com um novo pacote de ajuda no valor de US$ 725 milhões, que incluirá possivelmente armas antitanque, minas terrestres, drones, mísseis Stinger, munições para os Sistemas de Foguetes de Artilharia de Alta Mobilidade (HIMARS) e munições de fragmentação para sistemas de lançamento múltiplo guiado.

Impôs sanções ao maior banco russo que ainda não havia sido designado, o Gazprombank.

Por um lado, o indulto de Biden a seu filho repete o nepotismo já visto quando Trump perdoou Charles Kushner (pai de Jared Kushner, casado com Ivanka Trump) por inúmeras acusações de evasão fiscal e outras ilegalidades, em 2020. Por outro, os republicanos fingem que não se lembram daquele caso e já se animam com a possibilidade de Trump utilizar o indulto de Hunter como desculpa para perdoar, por exemplo, os seus apoiadores que invadiram o Capitólio em 2021.

Contudo, a ação do atual presidente indica que é de importância fundamental para os Estados Unidos a manutenção da guerra na Ucrânia pelo fato de os empresários do país colherem enormes lucros com a dependência de Zelensky da ajuda militar. Não apenas as companhias que produzem e fornecem armas, mas de todos os ramos, tanto pela privatização das indústrias e bancos ucranianos quanto pela venda de terras onde existem abundantes riquezas naturais.

Soma-se a isso o aspecto geopolítico: a Ucrânia é uma campo de batalha chave para a manutenção da atual ordem imperialista “baseada em regras” e dominada pelos Estados Unidos. O Deep State sabe que, se perder a guerra, o colapso da sua dominação mundial pode se acelerar, uma vez que a intervenção russa de 2022 já levou a grandes mudanças e contestações a essa dominação. Por isso é preciso que o governo Biden termine deixando uma herança maldita para Trump, a fim de que ele não possa voltar atrás e fique preso às necessidades de guerras e intervenções do aparato do Estado americano.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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