Repressão da AP segue na Cisjordânia, palestinos na diáspora condenam ações

O Fórum Palestino na Grã-Bretanha condenou nesta segunda-feira (16), em comunicado à imprensa, a campanha em curso das forças da Autoridade Palestina (AP) contra núcleos de resistência popular na Cisjordânia ocupada.

“Esta campanha ocorre em um momento no qual o povo palestino requer solidariedade e unidade, com urgência, para confrontar a intensificação da ocupação israelense, além de sua implacável agressão”, alertou o fórum. “Neste momento crítico, esforços deveriam se concentrar em dar fim ao cerco ilegal de Gaza e ao genocídio realizado no enclave contra nosso povo”.

Para a organização da sociedade civil, a campanha da Autoridade Palestina “contradiz, de maneira direta”, as prioridades e demandas nacionais.

“Tais ações seguem em flagrante contraste com as declarações do presidente Mahmoud Abbas, que alegou compromisso em ajudar Gaza mesmo que custasse sua vida”, reiterou a nota. “De fato, porém, continuamos a ver o sacrifício trágico da juventude palestino sob a guisa da coordenação de segurança com as forças ocupantes”.

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A coordenação de segurança com as forças israelenses são fruto dos Acordos de Oslo, de 1993, que estabeleceram a Autoridade Palestina. No passado, Abbas descreveu as ações de colaboracionismo com a ocupação como “sagradas”.

O Fórum Palestino na Grã-Bretanha reivindicou o fim imediato da campanha, responsável por “maior fragmentação” da sociedade palestina.

“Instamos medidas decisivas para unificar as fileiras diante da agressão israelense, a fim de responsabilizar aqueles que perpetraram crimes de guerra nas cortes internacionais”, concluiu a comunidade. “Este momento crucial exige que superemos divisões políticas, para fortalecer a resiliência e união de nosso povo — não importa suas filiações”.

Em 7 de dezembro, forças da AP executaram Yazeed Jayasa’a, combatente da resistência palestina no campo de refugiados em Jenin, na Cisjordânia, incitando protestos. Segundo informações, a ação foi encomendada pelo exército de Israel.

Para a Jihad Islâmica, grupo nacional ligado a Jayasa’a, “os ataques à resistência em Jenin se alinham plenamente à agressão e aos crimes da ocupação”. Outras entidades, como o Hamas, condenaram a ação, ao advertir para “um convite à divisão interna”.

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Dias depois, entretanto, soldados de Ramallah mataram Ribhi Shalabi, jovem de 19 anos, desarmado, também em Jenin, sob a prerrogativa de ações para “manter a lei e a ordem”, incluindo o cerco a um hospital e corte de água e luz aos moradores.

Em protesto, um oficial sênior do establishment de segurança da AP se demitiu, ao indicar a gravidade da situação.

Nesta mesma conjuntura, a imprensa israelense reportou que Washington solicitou de Tel Aviv que arme as forças da AP para agir em seu nome. Conforme relatos da agência Walla, o coordenador de segurança dos Estados, general Michael Fenzel, reuniu-se com líderes militares da AP para debater os planos.

Na ocasião, o general recebeu pedidos por munição, capacetes, coletes, instrumentos de comunicação, equipamentos de visão noturna e veículos blindados, ao sugerir o escopo e a contiguidade das operações.

Segundo as informações, Jordânia, Egito e Arábia Saudita apoiam a repressão, sob receio de colapso da Autoridade Palestina, incluindo temores declarados de deserção de tropas colaboracionistas e mesmo troca de lado, a favor da resistência.

O domingo (15) foi tomado por confrontos nos arredores de Jenin entre colaboracionistas e unidades de resistência. Para a Jihad Islâmica, a AP, todavia, está em seu limite e “quer apenas encontrar uma saída para alegar controle”.

Neste entremeio, Jenin permanece em greve geral, salvo aulas administradas online.

Conforme o jornal israelense Yedioth Ahronoth, as ações de Ramallah seguem o “modelo de Nablus”, ao intervir na resistência após tropas coloniais debilitarem sua infraestrutura. O periódico sionista notou a importância de preservar a Autoridade Palestina.

As ações de Ramallah coincidem com uma onda de pogroms cometidos por soldados e colonos israelenses contra os palestinos, agravados em paralelo ao genocídio em Gaza — com 45 mil mortos, 106 mil feridos e dois milhões de desabrigados.

Na Cisjordânia e em Jerusalém, são mais de 800 mortos, 6.600 feridos e 11 mil presos por Israel, em uma campanha de massa que dobrou a população carcerária nativa. A maioria permanece em custódia sem julgamento ou acusação — reféns, por definição.

As ações de Israel seguem em desacato de medidas cautelares do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, onde o Estado colonial é réu por genocídio sob denúncia sul-africana deferida em janeiro.

A mesma corte reconheceu em julho, em decisão histórica, a ilegalidade da ocupação na Cisjordânia e Jerusalém, ao ordenar evacuação imediata de colonos e soldados, além de reparações aos nativos.

A recomendação de Haia, em setembro, evoluiu a resolução aprovada por maioria de dois terços da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), com prazo de um ano para ser implementada.

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