As forças de segurança da Autoridade Palestina (AP) mantêm embates com combatentes e ativistas em Jenin, na Cisjordânia ocupada, há dias, na tentativa de exercer controle em um dos centros históricos da resistência, às vésperas de uma eventual reestruturação da política palestina após a guerra em Gaza.
As informações são da agência de notícias Reuters.
Forças da AP, que exerce um governo semiautônomo na Cisjordânia, via colaboração com a ocupação israelense, avançaram a Jenin no começo de dezembro, para reprimir núcleos ligados aos movimentos Hamas e Jihad Islâmica.
Ao menos três pessoas foram mortas pela polícia colaboracionista, incluindo um líder da Jihad Islâmica e dois civis — um deles, um jovem desarmado de 19 anos de idade. Jenin, neste contexto, lançou greve geral, junto a protestos que tomaram a Cisjordânia.
Estados Unidos — aliado e aliciador de Israel na região — alertou para o colapso da AP, ao pedir à ocupação que envie a Ramallah equipamentos para fins repressivos.
O Escritório das Nações Unidas para Assuntos Humanitários (OCHA), por sua vez, sugeriu uma investigação a violações de direitos humanos pelas forças palestinas.
Tropas militares da AP, em veículos blindados, instalaram checkpoints em torno de Jenin e do campo de refugiados adjacente. Para os residentes, o comportamento de Ramallah é análogo aos abusos cometidos por Israel em Jenin.
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Segundo o jornal israelense Yedioth Ahronoth, as ações da seguem o “modelo de Nablus”, ao intervir na resistência após tropas coloniais debilitarem a infraestrutura.
“A AP não tem tratores como Israel, essa é a única diferença”, destacou o residente Malek Jaber. “A invasão é a mesma. O cerco é exatamente o mesmo”.
O brigadeiro-general Anwar Rajab, porta-voz das forças palestinas pró-ocupação, afirmou que “foras-da-lei” tomaram Jenin, então detidos. Segundo Rajab, a operação busca reaver a “lei e a ordem” e deve seguir até que se cumpram seus objetivos.
O primeiro-ministro da Autoridade Palestina, Mohammad Mustafa, visitou Jenin no fim de semana, acompanhado de comandantes de suas tropas, e insistiu que o intuito é restituir a segurança “no caminho para a criação de um Estado independente”.
Os protestos, no entanto, tomaram outras cidades da Cisjordânia, incluindo Tulkarem, no norte, e Tubas, no Vale do Jordão.
‘Prove a que veio’
A operação parece um sinal da Autoridade Palestina para que “prove a que veio”, a fim de manter seu controle — embora dependente — sobre a Cisjordânia, na esperança de obter um papel no futuro de Gaza — sob genocídio conduzido por Israel há 14 meses.
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A Autoridade Palestina foi fundada há três décadas, sob os Acordos de Oslo, com gestão parcial em Gaza e na Cisjordânia, como parte das juras, jamais cumpridas, por um Estado palestina. Em 2007, perdeu o controle de Gaza para o Hamas.
Israel deseja despovoar e anexar Gaza, mas a AP — sob promessas árabes e ocidentais — almeja retornar ao enclave.
Para Michael Mihlshtein, ex-agente de inteligência de Israel, hoje analista, o presidente da AP, Mahmoud Abbas, busca, sim, mostrar força, à espera de um pós-guerra. “Há enorme pressão sobre ele para fazer alguma coisa, caso queira um papel relevante no dia depois em Gaza”, declarou Mihlshtein.
A operação em Jenin, observou o analista, sucede um cessar-fogo no Líbano, a queda de Bashar al-Assad na Síria e a reeleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, deixando incerto o futuro da região.
Israel acusa a AP de não conseguir controlar os grupos de resistência na Cisjordânia. Para Ramallah, contudo, é a ocupação que fere sua autoridade.
Apesar de diálogos reconciliatórios ao longo do último ano, o partido Fatah, maior facção na Autoridade Palestina, pareceu rescindir, sem um acordo evidente, junto ao governo do Hamas, sobre como administrar e reconstruir Gaza após o genocídio.