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Soldados israelenses em Gaza ostentam má conduta

A guerra ambiental em Gaza: Violência colonial e novas paisagens da resistência

Autor do livro(s) :Shourideh C. Molavi
Data de publicação :Fevereiro, 2024
Editora :Pluto Books
Número de páginas do Livro :160 páginas
ISBN-13 :978-0745344577

O que Eyal Weizman descreve da geografia e do clima da Faixa de Gaza em sua introdução ao livro de Shourideh Molavi — Environmental Warfare in Gaza: Colonial Violence and New Landscapes of Resistance; em tradução livre, A guerra ambiental em Gaza: Violência colonial e novas paisagens da resistência — se reflete em toda a pesquisa, ao bem retratar a violência colonial de Israel e como esta alterou a paisagem para encaixá-la na narrativa sionista de “fazer florescer o deserto”. Na desertificação de Gaza, há “linhas ininterruptas de fogo e horizonte” que se estendem por todo o enclave, ao tornar a população perpetuamente exposta aos franco-atiradores israelenses. Isso se viu, em particular, durante a Grande Marcha do Retorno, entre 2018 e 2019, à medida que o livro fornece imagens que corroboram seus depoimentos.

Weizman nota que “o ambiente é parte dos mais pelos quais se aplica o racismo colonial; pelo qual se expropria as terras; se fortifica o cerco e se perpetua a violência”.

A pesquisa inicial de Molavi se confinava às oliveiras e laranjeiras de Gaza; no entanto, passou a ver cada vez mais que a terra em si não poderia estar ausente em sua pesquisa. Ao falar de terras e fronteiras, a autora observa que tais expressões, em um contexto colonial, devem apontar precisamente à exploração das fronteiras pelo Estado israelense, ao compreendê-las diante do apagamento colonial dos palestinos nativos, que começou muito antes da Nakba de 1948.

A violência colonial é sobretudo uma violência ecológica.

Por meio de um estudo do meio-ambiente de Gaza ao longo da história, o livro começa ao se referir à classificação do Mandato Britânico a muitas das espécies vegetais da Palestina, ao descrevê-las como “ervas-daninhas”. O experimento de controle das espécies em questão implicava no “desraizamento [pelo Mandato Britânico] da aplicação nativa das plantas”, como aponta Molavi, e, de mesmo modo, como estas eram caracterizadas como “invasivas” pela potência colonial, na tentativa já proeminente de apagar o povo palestino de suas terras ancestrais. A violência colonial, escreve Molavi, é “sobretudo uma violência ecológica”, devido ao apagamento do ecossistema autóctone para substituí-lo por um ecossistema colonial.

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A violência colonial em Gaza se vê sobretudo em como Israel aplainou o terreno e instituiu à força regulações sobre quais vegetais os palestinos poderiam cultivar e até mesmo a altura de suas árvores, ao gradualmente apagar da paisagem oliveiras e laranjeiras — tão comuns à região. O livro explica que, a cada uma das várias operações israelenses, a paisagem de Gaza se altera, seja por demolições de casas ou destruição de terras agrárias, criando vazios consecutivos entre as comunidades e ampliando “zonas neutras” umas sobre as outras, em particular, no norte do território. Neste entremeio, áreas residenciais destruídas por completo se tornam exponencialmente restritas por supostos propósitos de segurança, enquanto terras produtivas são arrasadas pela meticulosa remoção do solo arável. Tamanha dominação da terra, argumenta Molavi, é fundamental à colonização de assentamento e enfatiza o imaginário ambiental do Ocidente, que cria narrativas políticas sobre territórios nativos e seus habitantes, ao alegar “melhorar” o terreno. “A paisagem”, diz a autora, “está bem longe de ser um fundo de plano neutro, ao se demonstrar, no entanto, como um meio de violência ativo e funcional”.

O livro alude às narrativas orientalistas sobre as paisagens do Oriente Médio, sobretudo sua suposta aridez, e como as práticas ecocoloniais foram orquestradas pelo Fundo Nacional Judaico (FNJ), entidade executiva do empreendimento de colonização sionista. Ao mencionar o discurso de Ben-Gurion, em 1951, Molavi nota como o primeiro primeiro-ministro de Israel se referia a suas políticas de reflorestamento como “plantar por razões de segurança”.

Molavi aborda também o Plano de Partilha das Nações Unidas de 1947, que concedeu aos sionistas 85% das terras usadas para citricultura. A Nakba de 1948 e suas intercorrências imediatas — tanto a expulsão dos palestinos nativos como a recusa de Israel em lhes conceder o legítimo direito de retorno — destruíram a indústria de produtos cítricos da Palestina. Embora este mercado fosse frequentemente relacionado a Jaffa, os pomares de Gaza também eram intrínsecos à identidade palestina, com mapas presentes no livro que detalham a produção de frutas cítricas na estreita faixa, dominando a paisagem. A Nakba de 1948, no entanto, alterou as condições de Gaza de participante ativa na economia a um produtor minguante, cujos mercados foram isolados do mundo e seus contratos com o Leste Europeu foram forçosamente revogados, após a ocupação militar de Israel em 1967. Israel, portanto, criou uma ruptura nos vínculos históricos de Gaza ao Mediterrâneo e além.

A coação israelense para que os camponeses de Gaza mudem sua cultura de cultivo se associa a uma narrativa de segurança, não apenas pela altura permitida das árvores, como por herbicidas dispersados pelas forças da ocupação israelense para manter uma situação de vigilância absoluta. “Toda a área restrita de ‘fronteira’ é designada um espaço de visibilidade permanente, isto é, em um estado de observação consciente entre os subalternos colonizados”. A questão dos herbicidas é pormenorizada em um capítulo à parte, no qual se demonstra que Israel declarou abertamente que “dispersar herbicidas aéreos na fronteira de Gaza seria um verdadeiro ‘ato de guerra’”.

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Tentativas decoloniais dos próprios camponeses se deparam com uma violenta repressão israelense, em particular, pela designação absurda da União de Comitês de Trabalho Agrícola como entidade “terrorista”, no ano de 2021, muito embora o sindicato sequer tenha vínculos com facções políticas.

O livro devota ainda um amplo trecho à Companhia de Exportações Al-Shawwa, estabelecida durante o Mandato Britânico e descrita como “o último espaço em Gaza capaz de abrigar as memórias de sua indústria de produtos cítricos”. No que resta deste tesouro, uma instalação abandonada mantinha ainda documentos históricos, na forma de boletos, notas fiscais, cronogramas de trabalho e outros materiais administrativos, que haviam sobrevivido até o momento da escrita — considerados “os últimos arquivos da indústria de produtos cítricos em Gaza”, com destino incerto, contudo, diante do atual genocídio.

Molavi conclui sua obra com a Grande Marcha do Retorno e a Operação Tempestade de Al-Aqsa, e como a paisagem alterada se projeta, cada qual a seu modo, a colonizados e colonizadores, e como os primeiros são capazes de enxergar além de Gaza, para as terras de que foram expulsos os refugiados, sem perder de vista, entretanto, os franco-atiradores cujas miras os acossam. Para a ocupação israelense, a paisagem ecocolonial facilitou os ataques a civis palestinos. A desertificação deliberada abriu caminho à violência de suas forças contra os nativos, enquanto a Operação Tempestade de Al-Aqsa se vê em termos de mudanças geofísicas e de como os palestinos acabaram por empregá-las para sua resistência anticolonial. Esses elementos, sumariza Molavi, exercerão um papel preponderante na luta pela libertação da terra. Apesar dos esforços de apagamento, os palestinos são ainda capazes de mobilizar o espaço que lhes restou, ao unir setores distintos da sociedade contra o colonialismo e a violência de Israel.

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