Neste artigo observamos no sentido da retrospectiva, passagens relevantes da relação entre o Estado brasileiro e a guerra de extermínio promovida pelos Estados Unidos através das forças armadas sionistas atuando na Palestina Ocupada e no Líbano sob ataque. Três momentos ao longo do ano de 2024 reforçaram a relação do Brasil com a Palestina e o Líbano.
O Holocausto palestino promovido pelos invasores europeus
Uma delas, a comparação da campanha militar do Estado Sionista contra o povo palestino – especialmente em Gaza – com um autêntico holocausto. O presidente Lula o fez durante a reunião da União Africana onde o Brasil foi um país convidado, assim como a (combalida) Autoridade Nacional Palestina. O Apartheid Colonial reagiu de forma abrupta, escalando a animosidade através das redes sociais – em especial X (antigo Twitter) – e não por acaso recebendo a governadores de extrema direita, como o de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Este, ex-ministro de Bolsonaro, é um engenheiro militar que deixou o posto na patente de capitão em 2008. O homem que defende a privatização absoluta do serviço público estudou aos custos do contribuinte de 1992 a 2008, “coincidentemente” deixando a farda na sequência.
No domingo 18 de fevereiro o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que: “o que está acontecendo na Faixa de Gaza não é uma guerra, mas um genocídio” e fez referências às ações do ditador nazista Adolf Hitler contra os judeus. Dois dias depois o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já estava sendo considerado “persona non grata” pelo governo de Israel desde que fez um paralelo entre o Holocausto e a guerra em Gaza durante uma entrevista no final de semana. Lula esteve em Adis Abeba, na Etiópia, para a reunião da cúpula da União Africana. Durante o encontro, o presidente instou os países ricos a fornecerem mais ajuda a Gaza, expressando preocupação com a crise humanitária na região.
Em resposta, o governo brasileiro convocou de volta ao país o embaixador em Tel Aviv “para consultas”. O embaixador do Brasil em Israel, Fred Meyer, foi chamado de volta depois de ser constrangido publicamente por seu contraparte em Jerusalém. Após essa escalada declaratória que durou cerca de 45 dias – entre idas e vindas – e postagens sem fim, resultou em um esfriamento das relações, mesmo assim sem interromper o sistema de trocas comerciais (incluindo a venda de petróleo para o Estado Sionista) do Brasil para o Apartheid.
A venda dos obuseiros do Apartheid interrompida
Outro momento importante das relações tensas do Brasil com a colônia avançada do ocidente na Palestina Ocupada foi no caso do congelamento dos obuseiros da Elbit Systems. O ministro da Defesa, Múcio de Oliveira, opera mais como um intermediário dos interesses de generais da reserva (atuando como representantes dos grupos de pressão pela venda de material bélico) do que necessariamente um membro do primeiro escalão do Estado brasileiro em defesa dos objetivos nacionais. O caminho de Celso Amorim, assessor especial para relações exteriores da Presidência da república, foi o de congelar o processo, o que levou a uma reação daqueles que querem realizar a venda (e os benefícios financeiros correspondentes). Ao acusar de “ideológica” a suspensão da compra, Múcio se torna porta-voz do desmonte da indústria bélica brasileira, da diminuição do parque industrial e obviamente, do pouco interesse na recuperação da Avibrás e dos espólios da Engesa (sob controle da Embraer).
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Em setembro de 2024 o site Defesa Net, especializado nas forças armadas (e em geral com posições bem reacionárias e pró imperialistas) dizia:
“O Exército terminou o processo em abril. A escolha é feita por meio de um processo chamado de compra internacional. O UOL apurou que o equipamento israelense foi considerado o melhor por “margens bastante amplas”. O passo seguinte foi o Estado-Maior do Exército dar andamento à aquisição. Esta foi a fase da interrupção do negócio. Nas palavras de um oficial, “houve influência da parte política e o processo saiu do controle dos militares”.
Outro portal muito vinculado aos temas da caserna (este mais especializado nas pautas corporativas), o Sociedade Militar afirma o seguinte:
“De acordo com algumas fontes, o Ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, e o Chefe do Exército, General Tomás Ribeiro Paiva, estão trabalhando para “descongelar” o projeto. Ambos têm como objetivo persuadir sobretudo o presidente Lula a seguir com o acordo. Além disso, Múcio e Tomás Paiva pressionam o presidente brasileiro a solicitar que Israel forneça dois obuseiros para testes no Brasil.”
A compra “ficou congelada” sendo que existe ainda a possibilidade de aquisição dos protótipos do inimigo e assim aumentando a internalização dos interesses dos genocidas nas empresas operando no país. A melhor saída, como já dissemos, era incorporar tecnologia em parceria com algum país do bloco dos BRICS e desenvolver a fabricação a partir de um consórcio comandado pela Embraer (Engesa) e a retomada da Avibrás.
A ponte aérea Brasil Líbano
Por fim, mais perto do último trimestre de 2024, a operação de corredor aéreo do Brasil para com o Líbano foi exemplar. Para este analista, que em diversos momentos disse em programas especializados no Oriente Médio, a vontade seria uma ponte aérea permanente com aviões de carga brasileiros entre Beirute e o primeiro aeroporto de grande porte que aceitasse operar como cabeça de ponte. Sabendo desta impossibilidade, reconheço wue todo o esforço do Estado brasileiro e da Força Aérea na realização dos voos de aviões Hércules de modo a retirar a toda a cidadania brasileira residente no país do cedro, foi atingido por ataques sionistas intensos.
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Em novembro deste ano, a Agência do Governo Federal afirmava que a Operação Raízes do Cedro já havia resultado na retirada de mais de 2000 brasileiros e familiares, além de 24 animais domésticos. No décimo voo foram embarcados insumos estratégicos de medicamentos e alimentos para aquele país, com 3.734 ampolas de filgrastim e 146 ampolas de anfotercina B lipossomal. Somados, os medicamentos oncológicos pesavam aproximadamente 90 quilos e foram solicitados para atender um hospital pediátrico em Beirute.
Em 18 de novembro a Força Aérea Brasileira afirmava que em uma demonstração de competência logística e compromisso com a ajuda humanitária, o Centro de Transporte Logístico da Aeronáutica (CTLA) desempenha um papel essencial na Operação Raízes do Cedro, missão destinada a apoiar o povo libanês em um momento de grande necessidade. O CTLA foi responsável pela preparação e embarque de 33.762 kg de medicamentos e itens de primeira necessidade, totalizando 107,78 m³, que foram transportados pela aeronave KC-30.
Apontando conclusões
As relações do Brasil com a Palestina e o Líbano são proporcionais à correlação de forças que podemos gerar no interior de nossa sociedade. Mesmo não chegando a romper as relações diplomáticas com o Estado Sionista, podemos afirmar que houve alguma assertividade do atual governo brasileiro, ainda aquém do que desejamos.
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