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Soldados israelenses em Gaza ostentam má conduta

O Laboratório Palestina: Como Israel lucra com a opressão

Carro destruído por um drone israelense em Tubas, na Cisjordânia, em 3 de dezembro de 2024 [Nedal Eshtayah/Agência Anadolu]

O Laboratório Palestina — do original The Palestine Laboratory —, um podcast realizado pelo jornalista investigativo Antony Loewenstein, inspirado por seu livro homônimo, disponível em inglês na página Drop Site News, é uma excelente pedida para quem quer saber mais sobre como Israel explora os avanços militares e tecnológicos para sustentar a operessão do povo palestino, enquanto lucra comercialmente em escala global.

Essa sinistra intersecção entre ocupação, vigilância e lucro é dissecada em quatro episódios: “Nação startup”, “Como fazer amigos”, “Privatizando a ocupação” e “Depois de 7 de outubro”. O conjunto oferece uma perspectiva, oriunda de ampla pesquisa, sobre a comoditização do domínio militar.

No coração do podcast repousa um poderoso argumento: os palestinos não são apenas desumanizados e subjugados pelo establishment político e militar israelense, mas sua opressão se tornou ainda um empreendimento lucrativo.

Israel tem efetivamente exportado seus meios de ocupação, ao vender suas supostas inovações militares — desenvolvidas e testadas sobre os palestinos — a uma audiência global. Este ponto ressoa por toda a séria, ao pintar uma imagem sombria de como o apartheid e a economia estão assustadoramente interligados.

O podcast é particularmente relevante hoje à medida que Israel mantém seu assassinato em massa, de maneira sistemática, contra a Faixa de Gaza. A guerra de extermínio — que supera 14 meses — tem a seguinte análise de um comitê especializado da Organização das Nações Unidas (ONU): as práticas e políticas de Israel em Gaza são “consistentes com as características de genocídio”.

Lideranças israelenses declaram abertamente seus objetivos estratégicos, incluindo ocupação, anexação e redução do enclave a ruínas. Tais ações, um horror sem paralelo, não são meramente atos de guerra, mas servem como meio para que Israel exponha aos mercados globais suas capacidades militares.

Justaposição apavorante

Um dos mais interessantes episódios deste podcast, “Depois de 7 de outubro”, destaca a conexão entre economia e genocídio. Em 14 de novembro de 2023, em meio ao cerco ilegal israelense imposto contra o Hospital al-Shifa, o maior de Gaza, o exército da ocupação e corporações de tecnologia atendiam, naquele instante, a uma das maiores feiras de segurança nacional do mundo, a Milipol Paris.

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Durante o evento, com mais de 30 mil participantes de 160 países, empresas israelenses ostentaram produtos como armas de controle remoto desenvolvidas pela companhia SmartShooter, testado extensivamente tanto em Gaza quanto na Cisjordânia. Tais produtos são propagandeados com o selo “testada em combate”, isto é, ao se vangloriar da eficácia provada contra comunidades palestinas.

Enquanto Gaza é submetida a uma litania de crimes de lesa-humanidade — incluindo mortes de bebês prematuros em al-Shifa, devido à falta de combustível como resultado do cerco, e diversas covas coletivas deixadas ao redor do hospital —, firmas israelenses colhem os frutos de seu complexo industrial militar.

Loewenstein ilustra de maneira marcante como a limpeza étnica e a ocupação ilegal dos territórios palestinos se tornou uma verdadeira vitrine para a indústria de armamentos de Israel. Vale observar, que a série não se constrange em mostrar as realidades brutais em campo, ao garantir que a voz dos palestinos seja central — sem dourar a pílula ou filtrar os relatos.

Loewenstein conversou, por exemplo, com Mariam Dawas, jornalista de Gaza, que recordou os horrores de sobreviver a seis operações militares distintas conduzidas por Israel. Mariam descreve como civis em Gaza aprenderam a distinguir entre os armamentos que os estão matando: “As pessoas de Gaza sabem quando é um Apache e quando é um F-16”.

Recentemente, novas armas, como jatos F-35, tiveram uso confirmado no enclave, somando-se a uma devastação sem fim.

Tais relatos em primeira pessoa — que perpassam todo o podcast — garantem que o aspecto humano explorado pela agressão de Israel permanece no centro da discussão.

Um padrão preocupante

Para além dos eventos em curso, o podcast mergulha em dimensões históricas do papel de Israel como facilitador da opressão global.

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A jornalista Sasha Polakow-Suransky destaca a relação íntima entre Israel e o apartheid na África do Sul, ao notar como o primeiro ignorou resoluções das Nações Unidas para cessar a venda de armas ao regime racista, ao se tornar, muito pelo contrário, sem principal fornecedor militar. Israel chegou ao ponto de auxiliar o regime sul-africano de apartheid a desenvolver um programa de armas nucleares, ao se consolidar como parceiro na opressão no país e na instabilidade global.

Outro exemplo tenebroso é o relato de Daniel Silberman, ativista chileno cuja família enfrentou a sangrenta ditadura militar de Augusto Pinochet, na década de 1970. Silberman indica a cumplicidade de Israel em armar e apoiar o regime: “Podemos dizer que foi uma bala israelense que assassinou meu pai”. Seu testemunho destaca um padrão preocupante: a indústria de armas de Israel não tem qualquer interesse na paz, à medida que sua lucratividade depende do conflito e da repressão.

Para além das armas, o podcast examina como a vigilância é explorada como ferramenta de dominação. Mona Shtaya, ativista por direitos digitais da Cisjordânia ocupada, proporciona ao público um relato pessoal do que é viver sob vigilância intensa. Essa tecnologia, desenvolvida para controlar a vida dos palestinos, tornou-se um produto majoritário de exportação de Israel, encomendado por regimes autoritários de todo o mundo.

A análise de Loewenstein, portanto, mostra-nos como Israel transformou a repressão em um modelo de prática a outros Estados, cujos governos buscam emular.

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Episódio por episódio, Laboratório Palestina desvela camadas e mais camadas da colonização israelense do povo palestino, ao apresentar uma perspectiva frequentemente ignorada pela mídia mainstream. Enquanto grande parte da cobertura se concentra na violência imediata e implicações políticas, este podcast busca explorar os mecanismos estruturais que perpetuam a ocupação.

Ramificações globais

Loewenstein é adepto de entretecer as implicações das ações israelenses sem perder de visto os próprios palestinos. O pesquisador contextualiza as campanhas de extermínio israelenses dentro de uma estratégia de marketing global, ao mostrar como a indústria militar do Estado ocupante continua a se beneficiar de propagandear tecnologias “testadas”.

Este enfoque duplo garante que o podcast seja tanto informativo quanto profundamente humano, ao dar ênfase às vozes e experiências palestinas, enquanto expõe as ramificações globais das políticas israelenses.

O podcast não hesita em criticar também a cumplicidade da comunidade internacional. Estados-nações, enamorados com a capacidade de Israel de aplicar controle e manter supremacia, costumam se virar à ocupação como se fosse um farol. Este aspecto se ressalta particularmente em “Como fazer amigos”, episódio que detalha as parcerias de Israel com regimes opressivos de todo o mundo.

Como diz Loewenstein, a questão que muitos países parecem enunciar sobre tais práticas não se refere a sua moralidade, mas sim a como sair impune.

Em um mundo cada vez mais cruel e autoritário, Israel se tornou um expert em opressão e modelo a outros. Como demonstra Loewenstein, o fascínio das estratégias israelenses repousa em sua eficácia em manter um sistema supremacista, que reprime toda e qualquer liberdade. Mas este suposto êxito ocorre às custas de milhões de palestinos, cujas vidas são destruídas por tais produtos de exportação.

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Laboratório Palestina oferece uma perspectiva vital e profundamente relevante hoje sobre as mecânicas da colonização. Ao reunir análises de especialistas com testemunhos em primeira pessoa, das vítimas, o podcast é capaz de enriquecer nossa compreensão dos sistemas multifacetados de opressão israelense e suas amplas implicações globais.

Em uma paisagem de comunicação de massa que costuma marginalizar perspectivas palestinas, Laboratório Palestina é diferente. De fato, desafia as narrativas dominantes, contextualiza os crimes de Israel e expõe as consequências abrangentes de sua ocupação. Para todos que queiram compreender as intersecções entre tecnologia, repressão e lucro, neste cenário palestino em particular, este podcast representa uma escuta obrigatória.

Publicado originalmente em Middle East Eye

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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