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Conselho do Golfo é um jardim em meio ao fogo, diz primeiro secretário-geral

Abdullah Bishara, primeiro secretário-geral do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG) [Reprodução]

O novo slogan para saudar os cidadãos nos Estados-membros do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG) é “O futuro é Golfo”. Apesar dos contínuos distúrbios regionais devido ao genocídio israelense em Gaza e na Cisjordânia, à invasão do Líbano e ao súbito ressurgimento da revolução na Síria, planos para um futuro mais promissor dominaram a 45ª Cúpula do CCG, realizada em 1º de dezembro no Kuwait.

Embora Abdullah Bishara tenha reconhecido que a cúpula foi realizada em um momento em que o mundo enfrenta “desafios sérios e imprevisíveis”, tal foco não deve ser visto como uma abordagem incomum.

Antes de nosso encontro no Kuwait, a mídia local citou o primeiro secretário-geral do CCG dizendo que os Estados do Golfo estão “monitorando os desenvolvimentos regionais e internacionais que exigem uma série de decisões necessárias”. Contudo, nenhuma decisão foi tomada em relação aos conflitos atuais. A cúpula, que o atual secretário-geral do CCG, Jasem Al-Badawi, descreveu como “histórica”, não proporcionou novas resoluções. Em vez disso, repetiu os apelos por intervenção externa para proteger os palestinos e pressionar Israel a abandonar suas ameaças à segurança e estabilidade no Oriente Médio.

De acordo com o octogenário Bishara, isso é o máximo que os líderes do Golfo realmente podem fazer. “A posição americana é fundamental para resolver o conflito no Oriente Médio”, disse-me ele. “No entanto, os Estados Unidos são incapazes de mudar a posição de Netanyahu” — o premiê de Israel. Diante dessa perspectiva sombria, “o CCG pode apenas tentar convencer potências hesitantes a trabalhar por uma solução baseada no estabelecimento de um Estado palestino”.

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Enquanto isso, políticos do Golfo e a mídia local permanecem focados principalmente na “prosperidade” dos cidadãos pessoas comuns dentro dos Estados-membros. Ao conversar com qualquer pessoa no dia da cúpula — um domingo —, incluindo que viajaram ao Kuwait para o evento, temas frequentemente abordados incluíam melhorar a qualidade de vida, economia digital e liberdade de circulação nos países do Golfo.

A Declaração do Kuwait e o comunicado final da 45ª cúpula do CCG enviaram uma mensagem forte a seus cidadãos: seu bem-estar e aspirações são a prioridade máxima. Bishara acredita que focar em questões econômicas foi a abordagem correta. “O objetivo principal do bloco regional, desde sua criação, tem sido servir aos interesses dos cidadãos do Golfo”.

Ao insistir que o bloco é como um “jardim que prospera em meio a um incêndio”, argumentou Bishara: “A Carta do CCG foca na cooperação comercial, promoção de investimentos e integração econômica”. Bishara reconhece, no entanto, que esse jardim não pode continuar a prosperar se o Oriente Médio mais amplo permanecer em turbulência e instabilidade. “É difícil para a história de sucesso do CCG sobreviver e se desenvolver em meio a uma região conturbada. Por isso, o CCG trabalha incansavelmente para conter a situação turbulenta que assola a região”.

Sobre a questão palestina, o objetivo continua sendo alcançar soluções diplomáticas e políticas, reiterou. Mas essas soluções terão alguma chance, dado os contínuos crimes de Israel na Palestina e no Líbano? “Mesmo que a via diplomática não seja possível, devemos continuar a persegui-la”, insistiu ele.

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Quanto ao direito legítimo de resistência contra a ocupação israelense por “quaisquer meios, incluindo a luta armada”, o ex-chefe do CCG defendeu, no entanto, a “união” dos palestinos sob a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), que atualmente exclui grupos como os movimentos Hamas ou Jihad Islâmica. “Somente a OLP deve decidir as políticas palestinas”.

Bishara argumentou que o CCG está “fazendo o que pode para alavancar suas capacidades e alcançar uma paz abrangente no Oriente Médio”, mas alegou que a desunião dos palestinos é “um obstáculo para o progresso”.

O CCG tem repetidamente pedido o estabelecimento de um Estado palestino com Jerusalém Oriental como sua capital. Embora Bishara admita que alcançar este objetivo será “muito difícil”, ele acredita que o CCG está fazendo o seu melhor para apoiar a chamada solução de dois Estados, promovida pela comunidade internacional e hoje encabeçada pelo príncipe herdeiro saudita, Mohammed Bin Salman.

O veterano diplomata kuwaitiano descartou categoricamente, no entanto, a possibilidade de que o bloco comercial e econômico busque um papel mais ativo e influente na política regional. Apesar de desenvolver parcerias com numerosos países e outras regiões, Bishara não espera que o CCG use seu poder econômico para angariar influência política.

Como um dos diplomatas e políticos mais experientes do Golfo, Bishara serviu como secretário-geral do CCG por doze anos. Antes disso, foi chefe de gabinete do Ministério de Relações Exteriores do Kuwait e liderou a missão do país na Organização das Nações Unidas (ONU). Agora, atua como assessor do Ministério de Relações Exteriores. Seu país esteve por trás da criação do CCG em 1981, uma ideia proposta pelo falecido emir do Kuwait, Jaber al-Ahmed al-Jaber al-Sabah, a fim de se estabelecer uma unidade colaborativa entre os Estados do Golfo.

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Há dez anos, os líderes dos seis Estados-membros decidiram fazer a transição de uma fase de cooperação para uma fase de união, como pedia o falecido rei saudita Abdullah Bin Abdulaziz al-Saud. A cúpula de dezembro destacou o progresso do CCG em direção à união econômica, bem como a um sistema conjunto de defesa e segurança.

Quanto à política externa, cada Estado-membro tem sua própria abordagem. Emirados Árabes Unidos e o Bahrein são os únicos membros que normalizaram laços com a ocupação israelense na Palestina histórica. O Catar mantém boas relações com o Irã e hospeda líderes da Irmandade Muçulmana, enquanto Omã é conhecido por mediar conversas entre Teerã e os Estados Unidos. Omã também já recebeu o premiê israelense Benjamin Netanyahu. Neste entremeio, o Kuwait permanece cauteloso, ao insistir na tese de resolver conflitos pacificamente, como se apresentou durante a Crise do Golfo (2017–2021) entre o Catar, de um lado, e Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Egito, do outro. A política de longa data do Kuwait — repetidamente enfatizada — é que assegurar todos os direitos palestinos, incluindo o estabelecimento de um Estado independente e soberano, como pré-requisito para instituir relações com Israel.

Atualmente, o Kuwait preside o CCG, embora descarte a possibilidade de uma política externa unificada no Golfo. “Sempre haverá distinções nas trilhas diplomáticas de cada Estado-membro”, explicou Bishara. “Devemos compreender que a geografia tem suas próprias imposições”.

As estatísticas oficiais demonstram, de fato, que os Estados do CCG acumularam uma imensa riqueza. Os ativos totais de seus fundos soberanos, combinados, somam US$4,4 trilhões, cerca de 34% dos ativos totais dos cem maiores fundos soberanos do planeta. As economias do CCG cresceram sete vezes mais rápido que a economia global, e o produto interno bruto (PIB) per capita nos países-membros é hoje três vezes maior que a média global. O valor financeiro dos mercados de ações do Golfo é estimado em cerca de US$4 trilhões, conforme números de dezembro de 2023, com as economias do CCG sendo três vezes superiores à média global em termos de renda per capita, de acordo com relatórios recentes do próprio bloco.

O CCG aceitaria, caso solicitado, cobrir os custos de reconstrução de Gaza, Cisjordânia e Líbano após cessarem enfim as violações de Israel? “Essa é uma responsabilidade internacional”, apontou Bishara. Ele prevê que os Estados do Golfo continuarão a contribuir por meio de organizações internacionais, mas descartou a possibilidade de pagarem pela reconstrução do que Israel destruiu.

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Palestina: quatro mil anos de história
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