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Palestina e o poder do movimento de boicote

Manifestantes pró-palestinos segurando uma faixa pedindo boicote a Israel em Londres, Reino Unido, 7 de setembro de 2024 [Mark Kerrison/In Pictures via Getty Images]
Manifestantes pró-palestinos segurando uma faixa pedindo boicote a Israel em Londres, Reino Unido, 7 de setembro de 2024 [Mark Kerrison/In Pictures via Getty Images]

Em casa, meus filhos palestino-americanos, que nunca pisaram na Palestina, costumam perguntar uns aos outros sempre que veem uma marca: “Isso está na lista de boicote?” É uma pergunta que se tornou natural para eles, um lembrete de que a luta por justiça na Palestina é tanto sobre princípios quanto sobre ação. Essa próxima geração, moldada por movimentos como Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS), é a prova de que a causa da Palestina continua transcendente e insuperável. O crescente movimento de boicote não é apenas uma ferramenta de resistência, mas também um imperativo moral e a forma mais poderosa de resistência popular estrutural no mundo. Este ano nos mostrou o quão longe esse movimento chegou e o quanto mais longe ele pode ir.

O movimento de boicote ganhou um ímpeto extraordinário em 2024, alimentado pela indignação global sobre a crescente violência de Israel contra os palestinos. Os protestos públicos se transformaram em resistência econômica sustentada, com os consumidores se desligando ativamente de corporações cúmplices das políticas de apartheid de Israel. A Starbucks é um exemplo de uma marca global que sentiu a pressão econômica. Relatórios indicam que a gigante do café perdeu milhões em receita devido a campanhas de boicote direcionadas e protestos em várias cidades. Ativistas apontaram para os laços da empresa com grupos de lobby pró-Israel, tornando-a um símbolo da resistência do consumidor contra a cumplicidade. Esse golpe financeiro ilustra o poder crescente do boicote, forçando até mesmo as maiores corporações a considerar suas associações. No entanto, o significado do boicote não é meramente econômico. É o medo de Israel desse movimento que conta a história real. Leis foram aprovadas nos Estados Unidos tentando suprimir boicotes contra Israel, expondo a fragilidade de um estado que depende da cumplicidade global para manter sua ocupação.

No meu estado natal, Texas, uma professora palestina foi demitida por se recusar a assinar um juramento prometendo que não boicotaria Israel. Sua posição de princípios gerou indignação e inspirou o documentário Boycott de 2021, que destacou como essas leis violam direitos constitucionais básicos. Americanos de todo o espectro político, que de outra forma não teriam se envolvido com a causa Palestina, começaram a questionar por que estão sendo informados de que não podem boicotar uma nação estrangeira, especialmente uma que recebe bilhões de dólares de impostos dos EUA enquanto nossas próprias comunidades na América lutam para sobreviver.

O movimento de boicote não é novo, é claro. Suas raízes estão nas lutas antiapartheid da África do Sul, onde a estratégia de isolamento econômico desempenhou um papel fundamental no desmantelamento do racismo institucionalizado.

O movimento BDS, lançado pela sociedade civil palestina em 2005, baseia-se nesse legado, vinculando a luta pela libertação palestina a lutas mais amplas contra a injustiça.

É um lembrete de que a luta pela liberdade em qualquer lugar está conectada à luta pela liberdade em todos os lugares.

Essa conexão encontrou ressonância particular no Sul Global. Nações com histórias de resistência anticolonial veem a causa palestina como parte de suas próprias lutas inacabadas por dignidade e soberania. Ao mobilizar esses governos e seus povos, o movimento de boicote tem o potencial de amplificar seu impacto, como aconteceu na África do Sul. O apoio do Sul Global reforça uma verdade fundamental: boicotes não são simplesmente sobre escolhas do consumidor; eles são sobre poder coletivo.

Ao contrário da resistência armada, boicotes têm como alvo a infraestrutura econômica e política que sustenta a ocupação israelense da Palestina, forçando a responsabilização de governos e corporações. O movimento é eficaz, descentralizado e enraizado no ativismo popular. É precisamente por isso que Israel teme o movimento de boicote. Ele não depende de elites políticas, mas mobiliza pessoas comuns — consumidores, trabalhadores, estudantes — ao redor do mundo.

O exagero de Israel em suprimir o movimento, no entanto, está saindo pela culatra. Leis que criminalizam boicotes e visam ativistas apenas atraem mais atenção para a causa. Elas também levantam questões sérias para os americanos que se ressentem de serem informados de que não podem exercer seu direito constitucional de protestar, especialmente contra um governo estrangeiro. Esse exagero é inspirador, não apenas em termos de solidariedade palestina, mas também um movimento mais amplo por liberdade de expressão e justiça.

Para aproveitar os sucessos de 2024, o movimento de boicote deve se concentrar em coordenação, inclusão e inovação. Há uma série de coisas que podem ser feitas.

Por exemplo, plataformas como o Boycott App são exemplos poderosos de como a tecnologia pode ser aproveitada para agilizar o ativismo.

O aplicativo permite que os usuários identifiquem empresas e produtos dignos de boicote.

Isso torna a participação acessível e informada. Investir em tais ferramentas pode levar o movimento a novos patamares.

Além disso, assim como o movimento antiapartheid fez, o BDS deve continuar a vincular a luta palestina aos movimentos globais por justiça. Por meio de alianças com ativistas de direitos indígenas, defensores da justiça climática ou sindicatos, essas conexões fortalecem o caso moral e político da Palestina.

Em sua essência, o boicote é sobre pessoas. Compartilhar as histórias de palestinos — famílias deslocadas, fazendeiros negados ao acesso às suas terras, crianças presas — humaniza o movimento e lembra ao mundo que a luta não é apenas sobre política abstrata, mas também sobre vidas e futuros.

O movimento de boicote provou ser uma das ferramentas mais poderosas de resistência contra o apartheid e a opressão. Ele transcende fronteiras e ideologias, unindo pessoas em uma demanda comum por justiça. Em 2024, ele nos mostrou sua força; em 2025, ele deve nos mostrar sua resiliência. Para os palestinos e seus aliados, a luta está longe de terminar. E como meus filhos me lembram toda vez que perguntam sobre a lista de boicote, a próxima geração de ativistas já está surgindo. Eles estão aprendendo que a justiça não é um momento; é um movimento. E é um que não será silenciado.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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