Advogados do Chile pedem prisão de soldado israelense por crimes em Gaza

Seiscentos e vinte advogados chilenos reivindicaram a prisão de um soldado israelense dispensado do Batalhão 749 por seu envolvimento direto em crimes de lesa-humanidade e genocídio na Faixa de Gaza, reportou a imprensa local.

Saar Hirshoren está no país sul-africano como turista.

A queixa acusa Hirshoren de “destruir deliberadamente bairros residenciais, sítios de cultura e instalações essenciais; cometer atos desumanos, cruéis e degradantes; e conduzir limpeza étnica e deslocamento à força da população”.

A denúncia se baseia no testemunho de uma mulher palestina refugiada no Chile, cujos familiares são vítimas da campanha da ocupação israelense no enclave sitiado desde outubro de 2023.

“Registramos essa queixa para que uma investigação seja conduzida e, como medida preventiva, para que a prisão imediata do soldado israelense seja realizada, para responsabilizá-lo por seus crimes diante da justiça penal internacional”, comentou na sexta-feira (3) Nelson Hadad, advogado e ex-embaixador chileno na Jordânia, Iraque, Egito e Equador.

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Durante coletiva de imprensa, Hadad destacou “extrema urgência”, ao argumentar que a prisão é necessária “antes da iminente tentativa de fuga”.

“Temos de assumir nossa responsabilidade e não podemos aceitar que, após massacrarem centenas de milhares de palestinos, sobretudo mulheres e crianças, [soldados de Israel] possam vir à Patagônia chilena para tirar férias”, reiterou.

A denúncia ecoa uma decisão histórica, do último sábado (5), sob a qual um Tribunal Federal brasileiro ordenou investigação urgente sobre o soldado israelense Yuval Vagdani, que passava férias na Bahia.

A denúncia se deu por trabalho investigativo da Fundação Hind Rajab (HRF), encabeçada pela advogada brasileira Maira Pinheiro — desde então, contudo, sob ameaças de indivíduos sionistas nas redes sociais.

A HRF, com base em evidências de vídeo e imagens, pediu a prisão imediata do suspeito, por riscos de fuga e destruição de provas. Pinheiro alertou para ameaças à integridade do inquérito e impunidade.

Vagdani fugiu à Argentina, com apoio de sua embaixada — ação que configura obstrução da Justiça, conforme dolo israelense para encobrir os crimes conduzidos em Gaza, segundo analistas.

Em um dos vídeos, publicado em suas redes sociais, diz Vagdani: “Que possamos continuar destruindo e esmagando este lugar imundo, sem parar, até os seus alicerces”. Suas palavras ecoam um padrão de postagens de agentes e lideranças israelenses, incluindo declarações de dolo e desumanização das vítimas.

Para Pinheiro, “este não é um caso de mera obediência a comandos; este indivíduo contribuiu ativamente para destruição de casas e meios de subsistência, e suas declarações e comportamento se alinham aos objetivos genocidas em Gaza”.

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O inquérito brasileiro — realizado agora in absentia — é a primeira vez que um Estado signatário do Estatuto de Roma aplica diretamente disposições legais sem determinação direta do Tribunal Penal Internacional (TPI).

Israel mantém ataques a Gaza desde outubro de 2023, com ao menos 45.800 mortos, 109 mil feridos e dois milhões de desabrigados sob sítio absoluto. Entre as fatalidades, cerca de 17.500 são crianças.

As ações israelenses são investigadas como genocídio pelo Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), em Haia, sob denúncia sul-africana deferida há um ano.

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