O Irã ampliou consideravelmente seus exercícios militares, com quase o dobro de treinamentos conduzidos em relação aos anos anteriores, na atual conjuntura de tensões regionais, sobretudo às vésperas do retorno de Donald Trump à Casa Branca.
Segundo o jornal Financial Times, cerca de 30 exercícios de ar, mar e terra tiveram início nas províncias do sul e oeste do país, com previsão de continuarem até março. As operações são um exercício conjunto entre a Guarda Revolucionária e o exército regular.
O brigadeiro-general Ali Mohammad Naeini, porta-voz da Guarda Revolucionária, disse à reportagem que “o número de exercícios quase dobrou de um ano para o outro, em resposta a uma paisagem de ameaças que se desenvolveu”.
Os exercícios iranianos são “significativamente maiores tanto em escopo quanto sofisticação, como novos armamentos e participação expandida das brigadas engajadas em ações realistas”, reiterou acrescentou Naeni.
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Em sua gestão passada, o presidente eleito buscou uma política de “máxima pressão” contra o Irã, com novas sanções e revogação unilateral do acordo nuclear firmado por seu antecessor, Barack Obama, em 2015. As ações impactaram a economia iraniana.
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O exercícios incluem operações próximas à instalação nuclear de Natanz e ao estreito de Hormuz, pelo qual passa um terço do suprimento global de petróleo. As localidades carregam importância singular dadas sugestões iranianas de restringir o fluxo de petróleo por Hormuz caso sanções voltem a se agravar.
Os esforços militares coincidem com perdas estratégicas recentes do Irã, como o colapso do regime aliado de Bashar al-Assad, na Síria, e os reveses enfrentados pelo grupo Hezbollah, no Líbano. Teerã também se envolveu, no ano passado, em trocas de disparos inéditas com Israel, no contexto do genocídio em Gaza.
Naeini, porém, negou fraqueza: “O inimigo exibe um falso entusiasmo ao interpretar mal sua situação. O Irã tem se preparado para conflitos complexos, de larga escala, e permanece confiante em suas capacidades de dissuasão”.
Os exercícios devem culminar em uma demonstração de força, com cem mil membros da milícia voluntária Basij, da Guarda Revolucionária, marchando em Teerã.
Naeni, contudo, manteve-se na defensiva: “O Irã não dará início a guerra nenhuma em nossa região, mas responderá de maneira decisiva a quaisquer ameaças”.
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