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Soldados israelenses em Gaza ostentam má conduta

A caça aos soldados do genocídio em férias pelo mundo

Soldado israelense Yuval Vagdani, acusado de crimes de guerra em Gaza [Redes sociais/X]

A fuga do soldado israelense Yuval Vagdani do Brasil, acusado de crimes de guerra contra palestinos, colocou foco na quantidade de militares que atuam em Gaza usando métodos crueis, que incluem denúncias de tortura, destruição e roubo de bens, humilhação, sadismo, violência sexual e auto-exposição durante esses atos nas redes sociais.

O caso de Vagdani não é fato isolado. Há mais de um ano, o MEMO deu início a um dossiê de vídeos protagonizados por soldados, divididos por formas de agressão como, degração e humilhação,  destruição gratuíta,  violação da privacidade íntima,  saques, assassinatos indiscriminados e celebrações do genocídio por soldados.

“As evidências, capturadas em numerosas fotos e vídeos registrados e disseminados por muitos dos próprios soldados israelenses, em suas plataformas de redes sociais, ostentam um retrato perturbador de destruição gratuita, saque e desprezo não apenas por propriedades e terras, como pela vida e dignidade dos civis.” – mostra o dossiê.

Verificadores de conteúdos nas redes como BBC Verify, checadores do The New York Times e outros analisaram centenas de vídeos com registros de abusos. “A desumanização desde cima se assenta muito bem embaixo, entre os soldados”, explicou Dror Sadot, porta-voz da ong israelense de direitos humanos B’Tselem.

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Registros que viralizaram expondo as violações deveriam sucitar ações imediatas da justiça internacional e dos países com nacionais ou visitantes recrutados para o genocídio. Isso não aconteceu, em mais uma prova da inação e descaso da comunidade internacional.

Quando a fundação Hind Rajab decidiu agir, Israel demonstrou que, além de não investigar os crimes de seus militares, está tomando medidas para acobertar e proteger os perpetradores.

A partir do desfecho do caso no Brasil, com a fuga Vagdani auxiliada pela embaixada israelense, novas regras anunciadas no último dia 8 impõem anonimato dos militares nas interações com a imprensa e mídias sociais. Com dois anos de registros, os próprios soldados deixaram provas suficientes agora utilizadas pela fundação Hind Rajab juntamente com outros documentos, como denúncias e depoimentos das vítimas ou familiares.

A América Latina entrou nesse radar com mais força a partir da investigação de Vagdani pelo Brasil, aparecendo como destino turístico dos acusados em férias do genocídio. Um caso recente envolve o soldado Saar Hirshoren que inicialmente circulava pela Patagônia argentina, quando foi denunciado por familiares de uma de suas vítimas, partindo depois para o Chile.

A fundação Hind Rajab entrou com processos nos dois países, e usou como provas conteúdos do Instagram do próprio soldado, em vídeos que registram sua participação na destruição de infraestrutura e locais protegidos pelas Convenções de Genebra e o Estatuto de Roma. A segunda ação, protocolada junto à justiça chilena, pede providências para que o acusado seja impedido de fugir do país até sua prisão.

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Nos mesmos moldes, o soldado Amit Nechmya está sendo processado na Argentina e outros estão sendo monitorados e denunciados em países da Europa, Ásia e Oriente Médio.

Ao todo são mil casos apresentados ao Tribunal Penal Internacional (TPI) e levados também à justiça dos países, através de serviços locais de advocacia. É o caso, no Brasil, da advogada Maira Pinheiro, que pediu a abertura de um inquérito da Polícia Federal contra o soldado israelense que passava férias na Bahia. Desde que a Justiça brasileira determinou a investigação, ela passou a sofrer ameaças, inclusive voltadas contra a sua filha de 10 anos de idade.

O Fórum Latino Palestino, que tem integrantes em vários países da América Latina, emitiu um comunicado para que ativistas e autoridades colaborem com as investigações e não admitam a acolhida do acusados no continente.

A menina Hind Rajab fez pedidos desesperados por ajuda, até emudecer. [Foto de família]

Criada para investigar e denunciar os crimes de genocídio em Gaza, a fundação Hind Rajab leva o nome da menina de 5 anos morta por Israel em um dos casos mais dramáticos para os socorristas do Crescente Vermelho e repercussão internacional. A criança permaneceu por 3 horas implorando por socorro através de um celular, dentro de um carro cercado por tanques e soldados atiradores,   ao lado dos corpos de seis membros de sua família mortos pouco antes por ataques israelenses, incluindo o de sua irmã que esteve com ela nos pedidos de ajuda, até ser atingida também. Sozinha, Hind Rajab, os parentes mortos, e dois paramédicos que tentaram ir ao seu socorro desapareceram depois disso, até que seus corpos foram localizados na área de Tel al-Hawa, na Cidade de Gaza, em uma manhã de sábado, 12 dias depois.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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