A Corte de Magistrados de Colombo, no Sri Lanka, condenou Galagodaatte Gnanasara, monge budista linha-dura, a nove meses de prisão por incitar ódio religioso contra muçulmanos. A rara sentença no país predominantemente budista decorre de comentários feitos durante uma coletiva de imprensa em 2016.
Gnanasara, líder do grupo nacionalista Bodu Bala Sena, é denunciado por sucessivos crimes de ódio, incluindo declarações e violência islamofóbica.
Segundo o website Newswire, Gnanasara recebeu também uma multa de 1.500 rúpias cingalesas (£4), com um mês adicional de pena em caso de inadimplência.
Na quinta-feira (9), a corte enfatizou o compromisso constitucional do Sri Lanka para com a liberdade de crença a todos os cidadãos, independentemente de religião.
Gnanasara registrou um recurso contra a sentença, mas seu pedido para liberdade sob fiança foi indeferido. Trata-se da segunda condenação a prisão de Gnanasara, sentenciado a seis anos em 2018 por desacato, liberado nove meses depois sob perdão do então presidente Maithripala Sirisena.
Gnanasara é também aliado do ex-presidente Gotabaya Rajapaksa, que fugiu do país em 2022 diante de protestos populares contra crise econômica. Durante seu mandato, Gnanasara chefiou uma força-tarefa sobre reformas legais sob pressuposto de “harmonia religiosa”, apesar de seu passado controverso.
O monge foi preso em dezembro por suas declarações de 2016, enquanto estava em liberdade sob fiança por um processo à parte pelo mesmo motivo. Seus processos legais refletem a conjuntura cingalesa de tensões entre budistas e muçulmanos.
A comunidade islâmica do Sri Lanka constitui cerca de 9.7% da população; a maioria se identifica como mouros cingaleses, grupo que remete a comerciantes árabes que se assentaram no país entre os séculos VIII e XV.
Em ocasiões prévias, a Organização para Cooperação Islâmica (OCI) criticou o país por “manifestações claras de islamofobia”, ao exigir medidas duras contra o ódio e a intolerância religiosa.