Persistem divergências entre Hamas e Israel, sobre ‘zona neutra’ e fim da guerra

Um oficial do grupo palestino Hamas confirmou nesta segunda-feira (13) à rede americana CNN que diversos pontos de divergência perseveram entre seu movimento e o regime israelense de Benjamin Netanyahu.

Segundo o relato, o Hamas insiste na retirada militar israelense do chamado corredor da Filadélfia, entre Rafah e o Egito, assim como um compromisso com um cessar-fogo permanente, em vez de temporário, sobre as operações da ocupação em Gaza.

Israel exige estabelecer uma “zona neutra” nas fronteiras leste e norte de Gaza, se estendendo dois quilômetros no território ocupado.  O Hamas pede que a “zona neutra” retorne às dimensões pré-guerra, de 300 a 500 metros da cerca de fronteira.

“Isso significa manter 60 km de extensão de território sob controle palestino, de modo que os deslocados retornarão a suas casas”, observou a fonte.

Conforme duas fontes israelenses e uma fonte estrangeira não-identificada, em contato com o site israelense Walla, Catar, Egito e Estados Unidos — mediadores nas negociações por cessar-fogo e troca de prisioneiros — aguardam agora uma resposta do Hamas sobre um recente rascunho redigido por Doha.

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As fontes israelenses anteciparam uma resposta do Hamas dentro de um dia. “Parece que caminham a um acordo”, afirmou uma delas. “Israel tem sido muito flexível [sic] nos últimos dias, mas aguardamos sua resposta e só assim realmente saberemos”.

Segundo o Canal 12 da televisão israelense, os mediadores pediram ao Hamas que submeta sua resposta à proposta até a meia-noite desta terça-feira (14).

Jake Sullivan, assessor de Segurança Nacional dos Estados Unidos, declarou: “Estamos muitos próximos de um cessar-fogo e acordo de reféns; penso que é possível alcançarmos isso nesta semana, antes que o presidente Biden deixe o cargo”.

O mandatário Joe Biden deve devolver a presidência a seu antecessor, o republicano Donald Trump, na próxima segunda-feira (20), após a vice democrata, Kamala Harris, perder as eleições do início de novembro.

De acordo com Sullivan, “o presidente Biden nos deu direções para colaborar com a equipe futura, para que não enviemos mensagens divergentes”.

Nesta segunda, uma fonte próxima às negociações reportou à imprensa internacional que Doha entregou um “rascunho final [sic]” às pares em conflito, em busca do elusivo cessar-fogo em Gaza.

Segundo informações da agência Reuters, a proposta decorreu de conversas entre o primeiro-ministro do Catar, Mohammed bin Abdulrahman al-Thani; Steve Witkoff, próximo emissário do governo americano ao Oriente Médio, indicado por Trump; e chefes dos serviços de inteligência israelenses.

Yair Lapid, líder da oposição israelense, por sua vez, afirmou ter se encontrado com um oficial catari em Paris. Para Lapid, o prognóstico é positivo, embora ministros de Netanyahu, como Bezalel Smotrich (Finanças) e Itamar Ben-Gvir (Segurança Nacional), tenham declarado objeção ao acordo.

“Quero novamente lembrar Netanyahu: você não precisa deles”, argumentou Lapid. “Ofereci a ele uma rede de segurança política em nome de um acordo. A oferta permanece de pé, mais do que nunca. Se Netanyahu quer e pode firmar um acordo, podemos fechar os detalhes em não mais que meia hora”.

Para Smotrich — colono ilegal radicado na Cisjordânia ocupado — um acordo seria uma “rendição” ao Hamas e uma “catástrofe à segurança nacional israelense”.

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“Não seremos parte de um acordo de rendição que inclua soltar terroristas [sic], parar a guerra e dissolver nossas conquistas, que obtivemos com muito sangue”, alertou o ministro supremacista, ao sugerir deixar o governo.

“É hora de seguirmos com toda a nossa força”, prosseguiu Smotrich. “Ocupar e limpar toda Gaza; e tomar do Hamas o controle humanitário. Então, abrir as portas do inferno até que o Hamas se renda por completo e os reféns estejam todos de volta”.

Netanyahu, por sua vez, é acusado de sabotar acordos prévios em causa própria, sob receios de que o colapso de sua coalizão de governo culmine em sua prisão por corrupção, sob três processos em curso no judiciário israelense.

Israel mantém ataques indiscriminados a Gaza, como crime de punição coletiva e genocídio, desde 7 de outubro de 2023, quando combatentes palestinos atravessaram a fronteira e capturaram colonos e soldados.

O exército colonial alega que 1.200 pessoas morreram na ocasião; número que sofre escrutínio por uma campanha de desinformação e propaganda de guerra, sobretudo após o jornal israelense Haaretz corroborar indícios de “fogo amigo”.

A retaliação israelense em Gaza levou o Estado colonial ao banco dos réus do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), radicado em Haia, sob denúncia de genocídio, registrada pela África do Sul e deferida em janeiro de 2024.

Em novembro, o Tribunal Penal Internacional (TPI), corte-irmã que julga indivíduos, também em Haia, aprovou mandados de prisão, por crimes de guerra e lesa-humanidade, contra Netanyahu e seu ex-ministro da Defesa, Yoav Gallant.

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