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Gaza triunfou: Festejemos com os povos livres do mundo

21 de janeiro de 2025, às 03h08

Palestinos retornam a suas casas em meio aos escombros, após acordo de cessar-fogo entre Hamas e Israel, em Rafah, na Faixa de Gaza, em 19 de janeiro de 2025 [Ramez Habboud/Agência Anadolu]

A rendição da entidade sionista às condições do Hamas para dar fim à guerra e o fato de que o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, viu-se forçado a assinar um acordo de cessar-fogo jamais seriam realidade se não fosse pela firmeza da resistência palestina nesta implacável guerra de atrito. A resistência triunfou em Gaza contra a ocupação. Podemos dizer com plena confiança que os palestinos venceram duas guerras concomitantes travadas por Israel e Estados Unidos, após o êxito extraordinário, na forma de resistência legítima, da Operação Tempestade de Al-Aqsa, em 7 de outubro de 2023 — uma incontestável vitória política e militar da resistência radicada em Gaza.

Sim, a resistência e o povo de Gaza triunfaram, apesar da devastação em massa, causada pelo exército inimigo, e do genocídio cometido contra os palestinos pelos últimos 15 meses. Israel matou ao menos 40 mil civis — em maioria, mulheres, crianças e idosos —, além de ferir mais de cem mil pessoas. Tudo isso somado àqueles debaixo dos escombros, cujos números só Deus sabe, para além das dezenas de milhares deslocados de suas aldeias e cidades.

Sim, Gaza venceu, apesar de 70% do enclave ter sido completamente destruído, tornando-se inabitável, como apontou António Guterres, secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU). O Estado israelense bombardeou escolas, hospitais, santuários islâmicos e cristãos, instituições públicas e não-governamentais, centros de assistência humanitária da ONU e redes vitais de infraestrutura. Apesar dos violentíssimos massacres, do enorme sofrimento e dos sacrifícios incomensuráveis do povo palestino, este permaneceu, no entanto, comprometido com seus direitos e suas terras. Os palestinos não fugiram de Gaza ao deserto do Sinai, como esperava a ocupação israelense, à medida que lançou sua guerra brutal.

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Um dos objetivos tácitos — declarados por muitos dos líderes israelenses — era expulsar centenas de milhares ao Sinai, no Egito, como um território alheio, para permitir a ocupação e o reassentamento colonial de Gaza. Este objetivo claramente fracassou junto a outro: exterminar o movimento Hamas e a resistência palestina como um todo. Conscientemente ou não, a liderança israelense não quis aprender com a história de suas guerras, ao ainda ignorar que a resistência é uma ideia e que uma ideia nunca morre. Quanto a seu terceiro objetivo — libertar à força os prisioneiros de guerra — este tampouco se concretizou.

Israel, portanto, falhou em alcançar todos os seus objetivos declarados ou não em sua guerra hedionda contra o povo de Gaza. Nestes 15 meses de sua guerra suja, tudo que conquistou foi a realização de um genocídio desumano marcado pela morte de inocentes e pela destruição horrenda e criminosa de Gaza, ao queimar tudo e devastar comunidades inteiras. Seria criminoso também considerar tais feitos como vitória — seja política ou militar — ou mesmo uma conquista a Netanyahu, cujo nome, pleno de infância, está agora marcado na história.

De fato, a resistência foi bem-sucedida militar e politicamente, junto a seu povo na Faixa de Gaza sitiada. Aqueles que rejeitam ou negam esse triunfo são conspiradores, ignorantes ou derrotistas crônicos. Há até mesmo quem tenha se ofendido com o fato de a resistência ter derrotado os ocupantes — isto é, os árabes sionistas. Quanto aos derrotistas, estes sequer imaginam uma chance de vitória contra um exército que usufrui de um dos maiores e mais avançados arsenais do planeta, com o apoio dos Estados Unidos e das potências ocidentais.

Há ainda ignorantes que enxergam apenas a destruição em Gaza e as centenas de milhares de mártires palestinos e insistem na pergunta: como é que isso pode ser uma vitória? — o que, na verdade, se revela um insulto a seus enormes sacrifícios. Infelizmente, estes são ruidosos nas redes sociais.

Havemos de convir que o acordo inclui termos que vão contra tudo que Netanyahu pregou ao longo da guerra, sobre seus objetivos, incluindo o chamado “dia depois”, como repetido há pouco, em 15 de janeiro de 2025. Trata-se de mais um fracasso para a coleção de Netanyahu e do ex-presidente americano Joe Biden, sobretudo considerando crueldades sem precedentes, como quando soldados da ocupação decidiram ser de bom tom soltar os cachorros para se alimentar dos mortos e dos feridos.

Tudo isso não deve entrar para a história somente como um fracasso de Netanyahu, mas de todo o Ocidente e de árabes colaboracionistas, que não apenas apoiaram as atrocidades como até mesmo participaram delas — uma mancha moral e humanitária perpetuada na história. Em contrapartida, esta é uma vitória da totalidade do povo palestino e de seu direito de existir em suas terras ancestrais na Palestina histórica — isto é, do rio ao mar. Sim, é uma vitória da resistência e do povo palestino. Festejemos com os povos livres do mundo.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.