Nesta segunda-feira, 20 de janeiro, Donald Trump retornou à Casa Branca para seu segundo mandato, como 47º presidente dos Estados Unidos, após cerimônia de posse e juramento. Não há dúvidas de que o novo mandato de Trump será bastante agitada, dadas suas controversas dentro e fora do país. Seus primeiros momentos na presidência se ocuparam de assinar uma série de decretos executivos que abrangem questões de âmbito doméstico e internacional, promovidas por Trump como de correção de curso sobre as decisões e posições de seu antecessor, Joe Biden. Trata-se também da implementação às pressas de sua anunciada plataforma eleitoral.
A política que Trump adotará sobre importantes questões globais deve divergir, em grande parte, das políticas de Biden. Trump prometeu dar cabo de todas as guerras, especialmente a guerra na Ucrânia, ao avançar a acordos e negociatas. O novo presidente prometeu também impor tarifas sobre diversos países, em particular, seus vizinhos Canadá e México. Trump insistiu ainda em alterar o nome do Golfo do México para “Golfo da América” e anexar o Canal do Panamá e a Groenlândia. Dentre seus decretos, estão a retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris, sobre o clima, e da Organização Mundial da Saúde (OMS). Como se não bastasse, o novo presidente demandou de seus aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) a aumentar suas contribuições à coalizão, em até 5% de seu produto interno bruto (PIB). Países europeus, como Alemanha, prontamente rejeitaram. Trump prometeu ainda hastear a bandeira americana em Marte, além de outros ensejos ambiciosos sob o slogan “America First” — ou “América em Primeiro Lugar” —, a fim de reaver a centralidade global dos Estados Unidos.
O que nos preocupa, no entanto, é o que pensa hoje Trump sobre a Palestina e a ocupação israelense. Embora ninguém saiba exatamente qual será sua política para o Oriente Médio, temos recebido indicações desconfortáveis, além das experiências de seu primeiro mandato. Trump tem seu próprio projeto, preparado por assessores radicalmente sionistas, propagandeado sob o título de “Acordo do Século”. Seu programa busca estabelecer um Estado palestino fraccionado em apenas 70% dos territórios ocupados ilegalmente em 1967. Israel receberia bênção para anexar metade da chamada Área C da Cisjordânia. Trump transferiu a embaixada americana de Tel Aviv para Jerusalém ocupada e fechou o escritório da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) em Washington, assim como seu consulado para relações com as lideranças palestinas na cidade ocupada de Jerusalém Oriental. Ao longo de seu primeiro mandato, todas as contribuições dos Estados Unidos à Autoridade Palestina foram encerradas, de acordo com uma lei aprovada pelo Congresso. Os cortes incluíram projetos de infraestrutura e colaboração de segurança. Trump também deu fim às doações americanas à Agência das Nações Unidas para Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), que provê serviços básicos a refugiados em toda a região.
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Uma de seus primeiros decretos executivos foi revogar as poucas sanções impostas pelo ex-presidente Biden a colonos e grupos de assentamentos ilegais responsáveis por cometer crimes violentos contra os palestinos nativos da Cisjordânia. Trata-se já de certo encorajamento para que tais colonos cometam crimes, à medida que intensificam ataques e pogroms a cidades, aldeias e comunidades, ao atear fogo em cidadãos e casas em diversas províncias. De fato, o projeto de anexação ilegal almejado por Bezalel Smotrich, militante colonial e ministro fundamentalista de Israel, tem como embasamento o “Acordo do Século” e o aval de Trump às declarações israelenses voltadas a capturar à força grandes porções de terra da Cisjordânia. Não há dúvida de que convidar colonos a participar da posse, para além de rescindir sanções, implica em apoio e mesmo incitação a seu projeto supremacista, como uma luz verde para atacar os palestinos.
Cinco meses atrás, Trump declarou que Israel seria pequeno demais e que estava pensando em como aumentar sua área. Isso significa que o presidente americano mantém na ideia de conceder a Israel parte dos territórios palestinos ocupados e mesmo de outras nações árabes, para que o Estado colonial expanda seus domínios a um “tamanho adequado”, conforme sua visão. Mesmo após sua posse, ao comentar da Faixa de Gaza sitiada, como uma localidade geográfica especial, e falar da destruição na região, Trump fez questão de separá-la da questão palestina em geral, sem qualquer vínculo com a Cisjordânia ocupada. Trump admitiu ainda ter dúvidas” de que todas as fases do acordo de cessar-fogo entre Israel e Hamas sejam implementadas. Mesmo ao prometer dar cabo das guerras em todo o mundo, Trump se nega a incluir na pauta um plano de paz permanente no Oriente Médio. Se olharmos com mais atenção aos escolhidos para o sua nova administração, em particular, seu novo secretário de Estado, Marco Rubio, e o embaixador a Israel, Mike Huckabee, veremos personagens excepcionalmente extremistas e enviesadas a favor da ocupação. Huckabee, por exemplo, afirma que “não háá essa coisa de Palestina” e que a busca do povo palestino por seus direitos legítimos “não passa de uma ferramenta política para tentar retirar terras de Israel”.
Tudo que importa a Trump, ao que parece, é completar seu processo de normalização de laços entre países árabes e Israel, conforme os chamados “Acordos de Abraão”, assinados no fim de seu primeiro mandato, ao eliminar qualquer prerrogativa da questão palestina previamente estipulada pela Iniciativa de Paz Árabe. O avanço da normalização entre Israel e Arábia Saudita parece ser a vitória que Trump procura, dado que a normalização, até então, mudou realmente pouquíssima coisa. Nos vemos forçados a contar com a Arábia Saudita para impedir avanços que excluam o devido estabelecimento do Estado palestino, conforme as promessas da monarquia, reiteradas no último ano pelo príncipe herdeiro e governante de facto Mohammed Bin Salman. Qualquer mudança na posição saudita para capitular às demandas de Trump seria uma derrota colossal e a perda de uma oportunidade que talvez não tenhamos mais uma vez.
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Este artigo foi publicado originalmente em árabe pela rede Al Ayyam em 22de janeiro de 2025.
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