Após 20 anos de tortura e maus tratos nas cadeias da ocupação israelense, Khalil Muslim Barq’ah, palestino recém libertado, descreveu sua soltura como um triunfo da resistência sobre a opressão, em conversa com a agência de notícias Anadolu.
Barq’ah recordou seu sofrimento na prisão, incluindo espancamentos, fome e constante abuso físico e psicológico. O agora ex-prisioneiro atribuiu sua liberdade aos sacrifícios do povo de Gaza e à resiliência do povo palestino.
“Fui condenado a 20 penas perpétuas e servi 20 anos na prisão”, destacou Barq’ah. “Hoje, estou livre e minhas correntes foram rompidas graças à resistência”.
Sentado ao lado de suas irmãs, em um centro comunitário em Ramallah, na Cisjordânia, Barq’ah expressou gratidão: “Nós agradecemos a resiliência do povo de Gaza, que tanto sofreu por um acordo de troca de prisioneiros. Devemos nossa liberdade a sua resiliência e seus sacrifícios e oramos para que as mortes não tenham sido em vão”.
Barq’ah foi preso em 26 de julho de 2002 e condenado sob um tribunal militar israelense a 20 penas perpétuas por suposto envolvimento em uma ação da resistência em Jerusalém. Sua soltura ocorreu no sábado passado (25), como parte do acordo de cessar-fogo e troca de prisioneiros mediado por Egito, Catar e Estados Unidos.
‘Condições insuportáveis’
Barq’ah deu ênfase às condições severas impostas pelas autoridades israelenses contra palestinos encarcerados, ao observar que seu estado físico reflete o abuso e o sofrimento que enfrentou.
“Nossos rostos mostram o tormento e abuso que sofremos”, reafirmou. “Perdemos muito peso por conta das torturas, do espancamento e da fome”.
Apesar dos problemas de saúde, incluindo hérnias de disco e uma úlcera no estômago, o ex-prisioneiro reiterou seu compromisso inabalável com a causa palestina: “Nossa fé em nossa causa e o apoio de nosso povo nos dão força”.
Somos um povo da justiça e seguiremos lutando por nossos direitos.
Barq’ah expressou imensa alegria com sua soltura, ao caracterizá-la como uma vitória da resistência: “Estar entre nosso povo e na nossa terra é um triunfo por si só”.
Contudo, destacou as violações ainda em curso contra aqueles que permanecem detidos nas cadeias da ocupação: “Vivem em condições extremamente severas, à espera de não mais que a sua libertação”.
Troca e cessar-fogo
No sábado, o grupo Hamas libertou quatro soldadas israelenses ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha, para que fossem transferidas às autoridades israelenses. Durante uma cerimônia, na Cidade de Gaza, as soldadas foram vistas fardadas e sorrindo.
Em troca, foram libertados 200 palestinos, incluindo 30 condenados a penas perpétuas e outros 20 com penas extensas.
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Israel mantém hoje em custódia mais de 10.300 presos políticos palestinos, em boa parte sem julgamento ou sequer acusação — reféns por definição. Em contrapartida, o Hamas tem consigo cerca de 96 colonos e soldados israelenses.
A primeira fase do acordo escalonado, previsto para durar seis semanas, entrou em vigor em 19 de janeiro, ao suspender a guerra de extermínio israelense contra a população civil do enclave costeiro.
O acordo mediado por Catar, Egito e Estados Unidos cessou os 470 dias de campanha de Israel em Gaza, que deixou ao menos 48 mil palestinos mortos, 111 mil feridos e cerca de dois milhões de desabrigados.
Em janeiro de 2024, o Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), que julga Estados, com sede em Haia, acatou a denúncia sul-africana por genocídio e crimes de guerra, contra Tel Aviv, registrada em dezembro.
Em novembro, o Tribunal Penal Internacional (TPI), que julga indivíduos emitiu mandados de prisão contra o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e seu ex-ministro da Defesa, Yoav Gallant, por crimes de guerra e lesa-humanidade cometidos em Gaza.
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