O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sugeriu “limpar” a Faixa de Gaza de sua população nativa, ao transferi-la à força a Egito e Jordânia, ao conversar com jornalistas a bordo de sua Força Aérea Um, em direção a Miami, na Flórida.
A proposta — que constituiria crime de limpeza étnica, equivalente a genocídio — recebia oposição nominal do antecessor de Trump, o democrata Joe Biden.
As informações são da agência de notícias Anadolu.
O presidente chegou a alegar ter tratado a matéria, por telefonema, com o rei da Jordânia, Abdullah II, que, no entanto, negou a proposta horas depois. Trump indicou ainda levar a questão ao presidente egípcio Abdel Fattah el-Sisi no domingo.
“Eu disse a ele [Abdullah] que eu adoraria que ele pegasse mais deles [palestinos] porque estou olhando para Gaza agora e está uma bagunça — uma tremenda bagunça”, afirmou Trump. “Eu gostaria que ele [Abdullah] recebesse essa gente”.
“Gostaria que o Egito também recebesse essas pessoas”, insistiu o mandatário. “Vou falar amanhã [domingo] com o general Sisi e gostaria que a Jordânia estivesse conosco”.
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“Você está falando de cerca de 1.5 milhão de pessoas e não dá para limpar a coisa toda”, seguiu Trump, ao antever questionamentos. “Sabe? Ao longo dos séculos, tiveram muitos, muitos conflitos. E eu não sei, mas alguma coisa tem que acontecer”.
Trump então descreveu Gaza como um “sítio de demolição”: “Está quase tudo destruído e as pessoas estão morrendo. Então, prefiro envolver algumas nações árabes para construir casas em outro lugar, para que essa gente viva em paz, pra variar um pouquinho”.
Ao denotar a falta de planos, exceto limpeza étnica, Trump alegou que a medida “pode ser temporária ou de longo prazo”.
A gestão Biden manteve oposição formal em realocar os residentes para fora do enclave, sob a prerrogativa da solução de dois Estados pós-cessar-fogo. O governo democrata, no entanto, manteve seu apoio político e operacional ao genocídio israelense.
Trump retornou à Casa Branca em 20 de novembro, após vencer as eleições de novembro de 2024, contra a então vice-presidente democrata Kamala Harris.
No Salão Oval, o presidente chegou a afirmar: “Essa não é nossa guerra; é a guerra deles”. Contudo, notou a destruição em Gaza: “Eu vi uma foto; Gaza é como um enorme sítio de demolição … Vamos ter que reconstruir de outro jeito.
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Ao demonstrar interesses exploratórios, acrescentou Trump: “Gaza é interessante. É uma localidade fenomenal à beira-mar, melhor clima — tudo é bom. Coisas bonitas poderiam ser feitas com ela. É muito interessante o que poderíamos fazer com Gaza”.
Troca e cessar-fogo
No sábado, o grupo Hamas libertou quatro soldadas israelenses ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha, para que fossem transferidas às autoridades israelenses. Durante uma cerimônia, na Cidade de Gaza, as soldadas foram vistas fardadas e sorrindo.
Em troca, foram libertados 200 palestinos, incluindo 30 condenados a penas perpétuas e outros 20 com penas extensas.
Israel mantém hoje em custódia mais de 10.300 presos políticos palestinos, em boa parte sem julgamento ou sequer acusação — reféns por definição. Em contrapartida, o Hamas tem consigo cerca de 96 colonos e soldados israelenses.
A primeira fase do acordo escalonado, previsto para durar seis semanas, entrou em vigor em 19 de janeiro, ao suspender a guerra de extermínio israelense contra a população civil do enclave costeiro.
O acordo mediado por Catar, Egito e Estados Unidos cessou os 470 dias de campanha de Israel em Gaza, que deixou ao menos 48 mil palestinos mortos, 111 mil feridos e cerca de dois milhões de desabrigados.
Em janeiro de 2024, o Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), que julga Estados, com sede em Haia, acatou a denúncia sul-africana por genocídio e crimes de guerra, contra Tel Aviv, registrada em dezembro.
Em novembro, o Tribunal Penal Internacional (TPI), que julga indivíduos emitiu mandados de prisão contra o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e seu ex-ministro da Defesa, Yoav Gallant, por crimes de guerra e lesa-humanidade cometidos em Gaza.
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