Um relatório divulgado nesta quarta-feira (29) pelo Human Rights Watch (HRW) expôs o impacto catastrófico da ofensiva israelense em Gaza a grávidas e recém-nascidos, ao registrar escassez grave de insumos médicos, condições de parto precárias e aumento alarmante no número de abortos espontâneos.
O dossiê de 50 páginas, intitulado “Cinco bebês em uma incubadora: Violações dos direitos das mulheres grávidas sob os ataques de Israel a Gaza”, demonstra como o bloqueio israelense e os ataques diretos a centros de saúde criaram condições que configuram risco de vida durante o parto e a gravidez.
“Desde o começo das hostilidades em Gaza, mulheres e meninas estão passando por gravidez sem cuidados básicos de saúde, saneamento, água e comida”, relatou Belkis Wille, diretora associada do HRW para crise e conflito.
“Mulheres e seus recém-nascidos estão em risco constante de uma morte evitável”, acrescentou.
O relatório traz um retrato funesto do colapso do sistema de saúde materna em Gaza. Apenas sete dos 18 hospitais parcialmente operantes conseguem conferir atualmente cuidados emergenciais de obstetrícia, contra 20 antes de outubro de 2023.
Em alguns casos, devido à falta de recursos, médicos são forçados a utilizar uma única incubadora para cinco bebês prematuros.
A crise levou a um pico drástico em complicações da gravidez. Segundo especialistas citados no dossiê, as taxas de aborto espontâneo aumentaram em 300% desde 7 de outubro de 2023, quando se deflagrou o genocídio israelense em Gaza.
Uma pesquisa da ONU Mulheres revelou que 68% das grávidas em Gaza vivenciaram alguma complicação, com 92% delas reportando infecções no trato urinário e 76% de casos de anemia.
As circunstâncias, incluindo cerco e bombardeios israelenses a rotas de abastecimento, para além de blecautes, forçaram os hospitais de Gaza a dar alta a mulheres horas após o parto, prosseguiu o relatório.
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Segundo uma das mulheres, dispensada quatro horas após dar à luz: “Estava exausta e não conseguia andar. Segurava meu bebê e, com meu marido e meus outros três filhos, tivemos de procurar alguém para nos dar carona”.
O dossiê ressalta ainda o impacto devastador da desnutrição, com 48 mil grávidas sob insegurança alimentar de emergência ou catastrófica, em dezembro de 2024.
No mesmo mês, o Programa das Nações Unidas para a Infância (Unicef) reportou oito mortes entre bebês e recém-nascidos por hipotermia, por conta da falta de condições básicas de abrigo ou habitação.
Em outubro, o parlamento israelense (Knesset), aprovou dois projetos de lei, a serem implementados agora em janeiro, que devem agravar a crise, destacou o HRW. As leis em questão aludem à criminalização da Agência das Nações Unidas para a Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), que provê serviços a milhões de pessoas.
Sob a legislação, Israel cortará todo contato com a UNRWA, o que impedirá na prática a entrega de assistência urgente à Cisjordânia ocupada e à Faixa de Gaza sitiada, além da emissão de vistos e autorizações a equipes humanitárias.
Israel ordenou à UNRWA que esvazie suas premissas em Jerusalém Oriental ocupada, em violação de resoluções das Nações Unidas, com prazo até esta sexta (31).
A HRW instou a comunidade internacional, sobretudo aliados de Israel, como Estados Unidos, a agir imediatamente contra as violações. Para a organização, é dever legal de governos cessar ajuda militar a Israel para pressionar por maiores cuidados a grávidas, recém-nascidos e outros grupos vulneráveis na Palestina.
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