O mundo reage aos planos de Trump de “assumir o controle” de Gaza

Mera Aladam
1 mês ago

O anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de que os EUA “assumirão o controle” de Gaza provocou reações confusas e furiosas em todo o mundo.

Na terça-feira, em uma coletiva de imprensa com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, Trump disse que os EUA estão pensando em administrar Gaza em um futuro próximo e deslocar os palestinos de sua terra natal.

“Todos com quem conversei adoram a ideia de os Estados Unidos possuírem aquele pedaço de terra, desenvolverem e criarem milhares de empregos com algo que será magnífico”, disse Trump aos repórteres após uma reunião de três horas com Netanyahu.

Palestinos, segurando faixas e cartazes, se reúnem em frente ao Hospital dos Mártires de Al-Aqsa para protestar contra o ”plano do presidente dos EUA, Donald Trump, de tomar Gaza” em 06 de fevereiro de 2025 em Deir-Al Balah, Gaza.  [Abdallah F.s. Alattar/Agência Anadolu]

No início do dia, ele insistiu que as e os palestinos não têm outra alternativa a não ser deixar Gaza e ir para algum lugar “bom, fresco e bonito”, sem a perspectiva de retornar, e novamente pediu à Jordânia e ao Egito que acolham os palestinos expulsos à força, juntamente com outros países não identificados.

O Hamas rejeitou os planos surpreendentes de Trump sobre Gaza, chamando-os de “racistas” e voltados para a eliminação da causa palestina.

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“A postura racista estadunidense se alinha com a posição da extrema-direita israelense de deslocar nosso povo e eliminar nossa causa”, disse o porta-voz do Hamas, Abdel Latif al-Qanou, em um comunicado.

Aqui, o Middle East Eye analisa algumas reações de outras organizações e Estados:

Autoridade Palestina

O presidente palestino Mahmoud Abbas, com a liderança palestina, rejeitou veementemente as sugestões de uma tomada de controle de Gaza pelos EUA e a expulsão forçada dos palestinos de lá.

Em resposta às propostas dos EUA, Abbas disse: “Não permitiremos nenhum dano aos direitos de nosso povo, pelos quais lutamos durante décadas e pagamos um alto preço para conseguir”.

“Esses apelos são uma grave violação da lei internacional, e não haverá paz ou estabilidade sem um Estado palestino com Jerusalém como capital, dentro das fronteiras de 1967, com base na solução de dois Estados”.

Ele enfatizou que Gaza, juntamente com a Cisjordânia ocupada e Jerusalém Oriental, tem sido uma parte inseparável da Palestina desde 1967.

Palestinos, segurando faixas e cartazes, se reúnem em frente ao Hospital dos Mártires de Al-Aqsa para protestar contra o ”plano do presidente dos EUA, Donald Trump, de tomar Gaza” em 06 de fevereiro de 2025 em Deir-Al Balah, Gaza.  [Abdallah F.s. Alattar/Agência Anadolu]

Abbas também agradeceu às nações árabes, especialmente ao Egito, Jordânia e Arábia Saudita, por sua oposição ao plano de deslocamento dos EUA.

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Ele pediu ao secretário-geral da ONU e ao Conselho de Segurança que tomem medidas rápidas para proteger a lei internacional e acabar com a ocupação israelense.

Egito

O ministro das Relações Exteriores do país norte-africano, Badr Abdelatty, pediu na quarta-feira que a Autoridade Palestina governe a Faixa de Gaza, após a proposta de Trump de uma aquisição do território pelos EUA.

Durante uma reunião com o primeiro-ministro palestino Mohammed Mustafa, o ministro egípcio disse que seu país estava ansioso para que a Autoridade Palestina (AP) “assumisse suas funções na Faixa de Gaza como parte dos territórios palestinos ocupados”, de acordo com um comunicado do Ministério das Relações Exteriores.

Arábia Saudita

O Ministério das Relações Exteriores da Arábia Saudita afirmou sua posição na quarta-feira de que o estabelecimento de um Estado palestino “é firme e inabalável”.

As autoridades disseram que o reino não estabelecerá relações diplomáticas com Israel sem a existência de um Estado palestino.

O Reino da Arábia Saudita também reafirma sua rejeição inequívoca a qualquer violação dos direitos legítimos do povo palestino, “seja por meio de políticas de assentamentos israelenses, anexação de terras ou tentativas de deslocar o povo palestino de suas terras”.

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A declaração do ministério concluiu afirmando que sua posição é “inegociável e não está sujeita a compromissos”, acrescentando que a posição de Riad sobre a conquista de direitos para os palestinos foi esclarecida aos antigos e atuais presidentes dos EUA.

Irã

Uma autoridade iraniana disse à Reuters que a República Islâmica está pronta para dar aos EUA uma chance de resolver as disputas.

No entanto, a autoridade disse que Teerã discorda de “qualquer deslocamento dos habitantes de Gaza, mas as negociações entre Irã e EUA são um assunto à parte”.

“O Irã não concorda com qualquer deslocamento de palestinos e comunicou isso por meio de vários canais. No entanto, essa questão e o caminho do acordo nuclear do Irã são dois assuntos distintos e devem ser tratados separadamente”, acrescentou a autoridade.

Turquia

O ministro das Relações Exteriores da Turquia, Hakan Fidan, disse aos repórteres na quarta-feira que os planos do presidente dos EUA de deslocar os palestinos que vivem em Gaza eram “inaceitáveis”.

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“A questão da deportação em relação a Gaza é uma situação que nem a região, nem nós podemos aceitar, até mesmo pensar sobre isso é uma perda de tempo, até mesmo trazê-la para discussão é errado”, disse ele à Agência Anadolu durante uma transmissão ao vivo.

O ministro alertou ainda que o mundo está mudando para uma “lei da selva”, onde não há considerações sobre as necessidades dos outros.

China

A China disse que se opõe aos planos do presidente em Gaza, acrescentando que é contra o deslocamento forçado de palestinos para países vizinhos.

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Lin Jian, disse aos repórteres que Pequim “sempre acreditou que ‘os palestinos governando a Palestina’ é o princípio fundamental para a governança pós-guerra em Gaza”.

“Nós nos opomos ao deslocamento forçado e à realocação da população em Gaza”, acrescentou Lin.

Reino Unido

O ministro britânico das Relações Exteriores, David Lammy, disse que é preciso garantir que os palestinos tenham um futuro em sua terra natal.

“Sempre fomos claros em nossa crença de que precisamos ver dois Estados. Precisamos ver os palestinos vivendo e prosperando em suas terras natais em Gaza e na Cisjordânia”, disse ele aos repórteres durante uma viagem a Kiev.

França

A França também se uniu às críticas de uma tomada de controle de Gaza pelos EUA, dizendo que o futuro de Gaza não deve envolver “o controle de um terceiro Estado”.

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“A França continuará a fazer campanha pela implementação da solução de dois Estados, a única que pode garantir a paz e a segurança de longo prazo tanto para israelenses quanto para palestinos”, disse o Ministério das Relações Exteriores.

Alemanha

A ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, enfatizou que a Faixa de Gaza “pertence aos palestinos”.

“A população civil de Gaza não deve ser expulsa e Gaza não deve ser permanentemente ocupada ou repovoada”, disse Baerbock em um comunicado.

“Está claro que Gaza, assim como a Cisjordânia e Jerusalém Oriental, pertence aos palestinos. Eles formam a base para um futuro Estado palestino”.

Rússia

O Kremlin enfatizou que a estabilidade no Oriente Médio só poderá ser alcançada com base na solução de dois Estados.

O porta-voz russo, Dmitry Peskov, reiterou a posição de Moscou de que a única maneira de resolver o conflito no Oriente Médio é por meio da criação de um Estado palestino que existirá lado a lado com Israel.

“Essa é a tese que está consagrada na resolução relevante do Conselho de Segurança da ONU, essa é a tese compartilhada pela maioria esmagadora dos países envolvidos nesse problema. Nós a defendemos, apoiamos e acreditamos que essa é a única opção possível”, disse ele.

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Enquanto isso, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, disse que “há planos israelenses para assumir o controle total da Cisjordânia ocupada e tentativas de deslocar os palestinos da Faixa de Gaza”, acrescentando que “praticar uma política de punição coletiva é um método que a Rússia rejeita”.

Austrália

O primeiro-ministro Anthony Albanese disse que o país continuará a apoiar uma solução de dois Estados “onde israelenses e palestinos possam viver em paz e segurança”.

“A posição da Austrália permanece inalterada – hoje, no ano passado e há uma década.

“Apoiamos um cessar-fogo, apoiamos a libertação de reféns e apoiamos a entrada de ajuda em Gaza”, disse ele. Albanese se recusou a comentar explicitamente as observações do presidente dos EUA.

Publicado originalmente em Middel East Eye e traduzido por Desacato

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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