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2023–24 concentram metade das crianças mortas por Israel na Cisjordânia, revela pesquisa

7 de fevereiro de 2025, às 13h20

Residência de Laila al-Khatib, de dois anos e meio, morta por disparos israelenses, na aldeia de al-Shuhada, ao sul de Jenin, na Cisjordânia ocupada, em 26 de janeiro de 2025 [Nasser Ishtayeh/SOPA Images/LightRocket via Getty Images]

Quase metade das crianças mortas por soldados ou colonos israelenses na Cisjordânia ocupada, desde o início dos registros, foram assassinadas nos últimos dois anos, o que corrobora a escalada da violência, reportou a ong Save the Children.

Segundo os dados, corroborados pelo Escritório das Nações Unidas para Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), ao menos 224 crianças foram mortas por soldados ou colonos israelenses desde janeiro de 2023 — quase metade do total registrado, de 468 crianças, desde 2005.

Em menos de 40 dias desde o início do ano, ao menos dez crianças palestinas foram mortas em 2025 — a mais jovem de dois anos de idade.

As vítimas se somam a um total de 70 mortos em um dos janeiros mais letais da Cisjordânia ocupada, em contrassenso ao cessar-fogo instituído em Gaza há três semanas, após 15 meses de genocídio.

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O período inclui ainda 309 feridos, entre os quais 57 crianças.

“As crianças da Cisjordânia continuam sendo mortas, como foi nos últimos 16 meses e nas décadas que os antecederam”, advertiu Ahmad Alhendawi, diretor regional para o Oriente Médio da ong Save the Children. “A pausa nas hostilidades em Gaza relegou às crianças da Cisjordânia apenas mais violência”.

“A situação na Cisjordânia não é um conflito ativo, mas sim uma ocupação”, destacou. “O uso da força é governado pela lei de direitos humanos internacional”.

Neste sentido, Alhendawi alertou que o exército israelense age por meio de armas e táticas militares, cujo intuito, na prática, é matar e mutilar crianças.

Antes de 2025, o janeiro mais letal da Cisjordânia, desde 2005, foi precisamente 2024, com 61 mortes, incluindo 14 crianças.

Contudo, crianças mortas por ataques aéreos de Israel tiveram aumento brutal de até 20 vezes, segundo o OCHA, com somente um óbito nessas circunstâncias nos 18 anos entre 2005 e outubro de 2023.

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Em 2024, Israel realizou ao menos 152 ataques aéreos na Cisjordânia — dos quais, ao menos 82 em áreas densamente povoadas como os campos de refugiados de Tulkarm e Jenin —, matando civis e destruindo casas, escolas e infraestrutura.

O ano passado também concentrou outros recordes, com ao menos 4.250 palestinos deslocados à força, 1.760 estruturas demolidas e 1.400 ataques coloniais.

“Tudo isso incita sérias preocupações sobre o uso excessivo da força, com táticas de guerra, incluindo ataques aéreos, aplicadas contrariamente à lei internacional e aos padrões e normas de policiamento”, explicou a Save the Children.

Conforme uma menina de oito anos de Jenin: “Temos medo. Tem balas e lama e eles [os soldados de Israel] jogam gás em nós. Eu estava aqui, sentada na janela, e o vidro caiu em mim. Todo dia tem barulho de drones. Acho que nos acostumamos com isso um pouquinho”.

Restrições de movimento dificultam ainda mais a vida da população palestina. Desde outubro de 2023, quase 900 novos checkpoints e barreiras militares foram montados pela ocupação, impedindo o fluxo de trabalho, escola e outras ameninadas.

Crianças e trabalhadores humanitários costumam esperar, em média, doze horas para que os soldados de Israel autorizem sua passagem.

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