clear

Criando novas perspectivas desde 2019

Israel usou ‘câmaras de gás’ contra combatentes e reféns, revela reportagem

7 de fevereiro de 2025, às 12h51

Membros das Brigadas al-Quds, braço armado do grupo de Jihad Islâmica, montam guarda nos túneis de Gaza, em 30 de março de 2023 [Ashraf Amra/Anadolu via Getty Images]

O exército israelense “empregou intencionalmente como arma resíduos de bombas para sufocar” supostos combatentes da resistência palestina nos subterrâneos de Gaza, revelou nesta quinta-feira (6) uma reportagem investigativa das redes +972 Magazine e Local Call.

A reportagem se baseou em informações obtidas de 15 agentes da inteligência militar e do serviço de segurança interna de Israel — o Shin Bet —, envolvidos nas operações contra supostos túneis palestinos, desde outubro de 2023.

Segundo as informações, a certa altura, as tropas ocupantes “tentaram compensar a incapacidade de situar com precisão alvos do Hamas” ao adotar armas químicas que culminaram na morte por asfixia de prisioneiros de guerra israelenses.

Os novos métodos permitiram “mortes na casa de três dígitos”, sobretudo de civis palestinos descritos como “danos colaterais”.

A reportagem observou que alguns desses ataques “constituíram os mais mortais na guerra, frequentemente por meio de bombas americanas, que sabemos agora terem matado reféns israelense”.

LEIA: Exército de Israel bombardeou área para matar reféns, afirma Brigadas al-Qassam

Segundo um oficial da inteligência militar, em contato com os repórteres: “Localizar um alvo dentro de um túnel é bastante difícil. Portanto, resolvemos atacar um raio [de até] dezenas ou centenas de metros [de extensão]”.

De acordo com as informações, os palestinos passaram a descrever os ataques como “cinturões de fogo”, incluindo resíduos químicos oriundos das bombas.

Conforme especialistas consulados pela reportagem, bombas antibunkers liberam monóxido de carbono na atmosfera, incorrendo na asfixia de indivíduos em locais fechados, a até centenas de metros do epicentro do ataque.

Tais ações evoluíram a uma política de ataque do exército israelense, cujos registros remontam a 2017.

“O gás continua lá embaixo e as pessoas se sufocam”, afirmou o brigadeiro-general Guy Hazoot, hoje da reserva. “Percebemos que poderíamos atacar qualquer um dentro dos túneis, com bombas antibunkers. Mesmo que não destruam os túneis, elas liberam gás e matam todo mundo. O túnel se torna uma armadilha letal”.

LEIA: Israel usa palestinos como escudos humanos em Gaza, confirma CNN

A reportagem confirmou que ao menos três prisioneiros de guerra israelenses — Nik Beizer, Ron Sherman e Elia Toledano — foram mortos por asfixia em 10 de novembro de 2023, devido a um bombardeio cujo alvo seria Ahmed Ghandour, comandante do Hamas no norte de Gaza.

Oficiais do exército ocupante reconheceram que o intuito era usar as armas químicas contra supostos militantes do Hamas “que pretendiam combater as Forças de Defesa de Israel [FDI, sic]”.

Outras ações israelenses que culminaram na morte de reféns incluíram sucessivos ataques cujo objetivo seria desmoronar as redes de túneis, sem ponderar sobre os indivíduos eventualmente presentes.

Israel lançou sua ofensiva indiscriminada contra a Faixa de Gaza em 7 de outubro de 2023, quando uma operação do Hamas atravessou a fronteira e capturou colonos e soldados.

O exército israelense alegou na ocasião que 1.200 pessoas foram mortas — número sob escrutínio, porém, após o jornal Haaretz identificar evidências vazadas de “fogo amigo”, com ordens gravadas de chefes militares para atirar nos reféns.

Em Gaza, até 19 de janeiro de 2025 — quando entrou em vigor o acordo de troca de prisioneiros e cessar-fogo em curso —, Israel matou ao menos 47 mil pessoas e feriu outras 111 mil, além de dois milhões de desabrigados.

Entre as fatalidades, ao menos 17.500 vítimas eram crianças.

LEIA: Relatório da ONU aponta “crime de extermínio contra a humanidade” de Israel em Gaza