O Marrocos selecionou a fabricante de armas israelense Elbit Systems, denunciada por abastecer os crimes de guerra em Gaza e na Cisjordânia, como a principal fornecedora de defesa à nação africana, ao firmar um acordo para adquirir 36 sistemas de artilharia autopropulsada, reportou o jornal francês La Tribune.
A capitulação a Israel sucede tensões entre as Forças Armadas Reais do Marrocos (FAR) e a firma francesa KNDS, até então maior fornecedora militar a Rabat. Segundo o reino, as divergências emergiram de falhas técnicas em sistemas de artilharia Caesar, além de atrasos de até dois anos para a entrega parcial dos produtos.
Neste contexto, um novo acordo militar tornou o Estado da ocupação o terceiro maior fornecedor de armas ao Marrocos, com 11% do setor, advertiu o Instituto Internacional de Pesquisa de Paz de Estocolmo.
Marrocos e Israel normalizaram relações em 20 de dezembro de 2020, sob iniciativa do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no fim de seu primeiro mandato, sob os Acordos de Abraão, que incluíram Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Sudão.
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Em troca, Washington reconheceu a “soberania” do Marrocos sobre o Saara Ocidental, cuja população nativa busca independência.
A normalização permitiu aproximações no campo de turismo, comércio e — sobretudo — investimentos militares.
O acordo com Israel foi rechaçado em âmbito doméstico, regional e internacional, que notam violação do Marrocos perante seu compromisso histórico com a causa palestina e o pré-requisito de um Estado da Palestina para construir relações com Israel.
O Marrocos, no entanto, na última semana, juntou-se ao coro de repúdio aos planos de Trump para transferência compulsória de população de Gaza, em favor de anexação de Israel, ao descrevê-los como “precedente perigoso” sob a lei internacional.
Segundo ideólogos israelenses, o Marrocos é um dos possíveis destinos para palestinos deslocados, além de Egito e Jordânia — que rechaçaram o plano.
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Os avanços israelenses, no entanto, parecem contrapor esforços de aproximação com países árabes, sobretudo Arábia Saudita, que reafirmaram no decorrer da semana seu compromisso para com a Iniciativa de Paz Árabe, que condiciona normalização com Tel Aviv a um Estado palestino independente.