Os livreiros palestinos Mahmoud Muna e seu sobrinho Ahmad Muna foram transferidos a prisão domiciliar nesta quarta-feira (12), por ao menos cinco dias, após uma incursão da polícia israelense a sua livraria em Jerusalém Oriental.
Forças israelenses invadiram a Livraria Educativa de Jerusalém no domingo (9), para prender ambos por alegações de vender obras de “incitação e apoio ao terrorismo”, em evidente operação de censura e destruição de registros.
Os policiais algemaram Mahmoud e Ahmad, saquearam a loja e confiscaram numerosas publicações.
A livraria — célebre entre diplomatas, pesquisadores e cidadãos na diáspora — é reconhecida por sua coleção de obras em inglês sobre a identidade nacional palestina e a história do conflito árabe-israelense.
As autoridades ocupantes citaram um livro infantil de colorir intitulado “Do rio ao mar” — termo geográfico histórico para se referir à Palestina, desde os tempos de Heródoto — como justificativa para prender ambos os comerciantes.
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Após sua soltura, Ahmed caracterizou a prisão como “dura e brutal”, sem qualquer justificativa. Ele e Mahmoud foram ainda proibidos de entrar nas premissas de sua própria livraria pelos próximos 20 dias.
Ahmad disse ao jornal Times of Israel ter passado duas noites na delegacia, separado de seu tio, transferido ao centro prisional de Moscovia.
Murad Muna, irmão de Mahmoud, relatou ao jornal israelense Haaretz que a polícia da ocupação invadiu dois endereços pertencentes à livraria sob mandado assinado por um juiz chamado Chavi Tucker.
“Os policiais usaram Google Tradutor nas obras e levaram tudo que não lhes agradava”, observou Murad. “Eles encontraram até mesmo uma edição do Haaretz com uma foto dos reféns e chamaram isso de incitação. Apreenderam também todo e qualquer livro que tivesse uma bandeira palestina”.
Segundo as informações, parte das obras foi devolvida, mas as autoridades israelenses mantiveram custódia de ao menos dez títulos.
As detenções atraíram protestos na manhã de segunda-feira (10), em frente à Corte de Magistrados de Jerusalém, durante audiência de custódia. Dentre os presentes, Ayman Odeh, líder do Partido Hadash-Ta’al, e Nathan Thrall, vencedor do Pulitzer.
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Diplomatas estrangeiros também condenaram os ataques.
Steffen Seibert, embaixador alemão, declarou apoio a Mahmoud e seu sobrinho no Twitter (X): “Conheço a família Muna, são palestinos de Jerusalém que amam a paz, sempre abertos ao diálogo e às trocas intelectuais. Preocupa-me saber da invasão e de sua prisão”.
Simon Waters, embaixador britânico, fez coro, ao enaltecer a livraria como “parte fundamental da vida cultural em Jerusalém Oriental” e denunciar as operações de Israel como desproporcionais.
Segundo o Times of Israel, a polícia israelense desejava estender a prisão de ambos por oito dias, mas recebeu apenas um dia de autorização judicial.
Os livreiros palestinos, porém, foram formalmente denunciados por “danos à ordem pública” —invés de incitação, acusação que exigiria o aval da promotoria. Acusações, no entanto, não foram registradas.
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