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Sisi nega visita aos EUA caso deslocamento de Gaza permaneça na agenda

13 de fevereiro de 2025, às 14h25

Presidente do Egito, Abdel Fattah el-Sisi, no Cairo, em 14 de fevereiro de 2024 [Utku Ucrak/Anadolu via Getty Images]

O presidente do Egito, Abdel Fattah el-Sisi, não viajará a Washington para se reunir com o incumbente americano, Donald Trump, caso o plano de deslocamento dos habitantes palestinos de Gaza permaneça em pauta, afirmaram duas fontes de segurança egípcias à agência Reuters.

Trump indignou o mundo árabe, e motivou condenações da comunidade internacional como um todo, ao insistir, nas últimas duas semanas, em um proposta de transferência compulsória dos dois milhões de palestinos em Gaza — isto é, crime de limpeza étnica —, para assumir controle do enclave e torná-lo uma “Riviera do Oriente Médio”.

Trump tem exigido de Egito e Jordânia que recebam as famílias, incluindo ao ameaçar ambos os países aliados de retirar seus bilhões em assistência fiscal.

O Egito notou que Trump convidou Sisi à Casa Branca no início deste mês, após visitas do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e do rei da Jordânia, Abdulla II. No entanto, não houve qualquer confirmação da viagem de Sisi.

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Abdullah pareceu desconfortável ao se reunir com Trump na terça-feira (11), ocasião na qual, segundo o mandatário americano, debateram Gaza.

O ministro de Relações Exteriores do Egito, Badr Abdelatty, também esteve nos Estados Unidos nesta semana, mas fontes do governo alegaram que sua viagem buscou evitar um encontro com Trump.

Abdelatty se reuniu, no entanto, com o secretário de Estado Marco Rubio, que reiterou, no entanto, que o plano de deslocamento dos palestinos de Gaza estaria sobre a mesa, caso Sisi aceitasse o convite.

O chanceler egípcio, conforme sua versão dos fatos, reiterou que a conversa, portanto, seria infrutífera, ao ignorar o plano do Cairo para reconstrução de Gaza, “ao assegurar que os palestinos permaneçam em suas terras”.

Sisi e Abdullah falaram por telefone na quarta-feira (12) e reafirmaram sua posição, em negativa dos apelos de Trump.

Para Sisi e Abdullah — conforme transcrição publicada pela presidência egípcia — é crucial implementar o acordo de cessar-fogo em Gaza, em vigor desde 19 de janeiro, para seguir com a troca de prisioneiros e permitir acesso humanitário.

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Os líderes, porém, prometeram trabalhar com as partes envolvidas — incluindo Trump — por uma “paz duradoura” no Oriente Médio, rumo à “solução de dois Estados”, com o estabelecimento de um Estado palestino nas fronteiras de 1967, com Jerusalém Oriental como sua capital.

Ajuda militar

A cooperação entre Estados Unidos e Egito é, há décadas, um dos alicerces da política externa americana no Oriente Médio, incluindo a normalização com o regime ocupante de Israel há mais de quatro décadas.

Segundo fontes, Rubio não repetiu as ameaças de Trump de cortar a assistência, apesar de pedir ao chanceler aliado que reconsiderasse a postura.

Em 2024, Washington alocou US$1.3 bilhões ao Egito; em dezembro, aprovou a venda de US$5 bilhões em armas.

Conforme artigo do jornal israelense Haaretz, de autoria do analista Zvi Harel, embora Trump insista no plano, Egito e Jordânia se veem diante de uma encruzilhada: recursos ou insurreição.

Ambos os países têm as maiores fronteiras com Israel, governados por autocracias que enfrentaram protestos incomuns em meio ao genocídio em Gaza.

Desde a deflagração do genocídio em Gaza, em outubro de 2023, Sisi insiste em jamais permitir o deslocamento dos palestinos do enclave — incluindo ao considerar o influxo como uma ameaça a sua “segurança”.

Neste entremeio, Gaza continua destruída, com ao menos 48 mil mortos e dois milhões de desabrigados após 470 dias de genocídio conduzido Israel — como investigado pelo Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), em Haia, desde janeiro de 2024.

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