O movimento libanês Hezbollah sepultará seu secretário-geral Hassan Nasrallah no domingo (23), em um funeral de Estado, quase cinco meses após ser morto por um ataque aéreo de Israel, reportou a agência Reuters.
Nasrallah foi morto em 27 de setembro, durante encontro com oficiais na periferia de Beirute.
Nasrallah, visto como uma das mais eminentes personalidades árabes de sua geração, chefiou o grupo xiita por décadas, em meio a sucessivos conflitos com Israel, ao elevá-lo a uma força política e militar de ampla influência regional.
As procissões no subúrbio sul de Beirute devem honrar também Hashem Safieddine, assassinado por Israel uma semana depois de Nasrallah, considerado então sucessor natural do líder libanês.
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Safieddine será sepultado na segunda-feira (24).
Segundo Mohanad Hage Ali, analista do Centro Carnegie para o Oriente Médio, “o funeral é uma plataforma de lançamento para a próxima fase”.
“Um funeral grandioso, que atraía centenas de milhares de pessoas, é uma forma de dizer a todos que o Hezbollah ainda está ativo, que ainda é o principal representante da comunidade xiita no Líbano”, acrescentou Hage Ali.
Israel infringiu enorme destruição civil em sua campanha contra supostos núcleos do Hezbollah, em particular ao sul do Beirute.
Sadeq al-Nabulsi, clérigo próximo do Hezbollah, reiterou que adversários no Líbano e no exteriores cogitaram a derrota do grupo, mas que o funeral de Estado deve emitir uma mensagem oposta, como “prova de sua permanência”.
A cerimônia será realizada na maior arena esportiva do Líbano, o Estádio Municipal Camille Chamoun, ao sul de Beirute.
Nasrallah seguirá para ser sepultado em um cemitério próximo.
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O evento deve contar com a presença de diversos aliados, incluindo o ministro de Relações Exteriores do Irã, Abbas Araqchi.
Uma delegação do Iraque, com políticos e combatentes xiitas, pousará em Beirute, com chegada prevista em um avião presidencial, segundo dois deputados iraquianos. A Iraqi Airways anunciou voos adicionais para suprir a demanda ao funeral, reportou o Ministério dos Transportes em Bagdá.
O Ansar Allah, ou houthis, também enviará uma delegação de alto escalão, liderada pelo Grão-Mufti do Iêmen, Shams al-Din Sharaf al-Din.
Nasrallah foi sepultado temporariamente ao lado de seu filho, Hadi, morto em combate em 1997.
O funeral estava previsto para ocorrer após a retirada do exército israelense do sul do Líbano, sob o acordo de cessar-fogo de novembro de 2024. O prazo atualizado expirou nesta terça-feira (18), embora Israel tenha mantido violações e presença de tropas em ao menos cinco posições.
Conforme os termos acordados, o Hezbollah se retirou ao norte do rio Litani.
O Líbano vivenciou 13 meses de disparos transfronteiriças entre Israel e Hezbollah, incluindo dois meses de invasão por terra e bombardeios ininterruptos. A escalada coincidiu com o genocídio israelense em Gaza, com ao menos 48 mil mortos e dois milhões de desabrigados, entre outubro de 2023 e janeiro de 2025.
No Líbano, até o cessar-fogo, quatro mil pessoas foram mortas, além de cerca de 1.4 milhões de deslocados à força.
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