A ameaça brasileira de mandar todo escalão golpista liderado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro para a cadeia joga um pouco de areia nos olhos da extrema direita internacional. Depois da conquista do governo dos Estados Unidos, Brasília tornou-se um troféu menor para reorganização do fascismo mundial, mas ainda assim muito importante para a liderança da América Latina. O ex-presidente brasileiro, aliado de Trump, Netanyahu, Milei, além de amigos na França, Áustria, Holanda e Itália, tem gente empoderada a quem pedir socorro para tentar escapar das mãos do STF. Entre eles, tem Elon Musk, que já fez acusações à corte brasileira. Resta saber o que terá de ajuda além de uma possível embaixada argentina de porta aberta, se chegar a entrar.
A notícia sobre a denúncia da procuradoria geral do Brasil contra Bolsonaro e seus auxiliares, por tentativa de golpe de Estado e outros crimes denunciados pelo ex-ajudante de ordens Mauro Cid, correu o mundo por todas as agências internacionais e foi transmitida em árabe, chinês, espanhol, hindi, inglês. O bolsonarismo inflamado no Brasil é um ativo das forças que atuam contra o multilateralismo e pactos globais sobre direitos e planeta. Mas a resposta dos que poderiam correr em defesa do brasileiro tem sido bem contida.
A Conferência da Ação Política Conservadora (CPAC), realizada neste sábado nos EUA, com lideranças da direita de vários lugares, teria sido o momento para uma posição mais comprometida com a salvação de Bolsonaro. Mas Trump, por ora, limitou-se a mandar um olá para o colega através do seu filho. “Meu amigo Eduardo Bolsonaro, da Câmara dos Deputados do Brasil, obrigado. Diga olá ao seu pai. Obrigado. É uma ótima família. Um grande cavalheiro de uma ótima família”.
Eduardo pediu ajuda aos presentes e disse que o pai sofre o mesmo tipo de perseguição feita contra aliados que fazem oposição a governos de esquerda na América Latina – Bolívia, Venezuela, Cuba. O argentino Milei discursou para questionar as eleições brasileiras de 2022, que teriam sido, segundo ele, apoiadas por ONGs financiadas pelos EUA. Fora isso, a atenção da Conferência, para além dos assuntos dos EUA e os desmandos adicionais de Elon Musk, foi direcionada pelo vice-presidente de Trump, JD Vance, para o momento mais urgente vivido pela Alemanha.
O domingo começa com expectativas sobre as eleições no país europeu e ao crescimento da extrema direita representada pelo partido AfD (Alternativa para Alemanha na sigla em alemão), hoje em segundo lugar nas pesquisas. Vem atrás da liderança do candidato da União Democrata Cristã (CDU), em coligação com o União Social-Cristã (CSU), Friedrich Merz, mas a disputa da extrema direita pelo destino da Alemanha está nas ideias incutidas no eleitorado conservador. Se vencer, Merz já disse que fechará as fronteiras à entrada de ilegais e deportará os que chegarem, na linha Trump. JD Vance acrescentou uma cobrança aos próximos ocupantes da Câmara baixa e usou a presença de 80 mil soldados americanos, pagos pelos EUA, como argumento para cobrar o fim das leis que regulam as redes sociais contra discursos de ódio.
“Há milhares e milhares de tropas americanas na Alemanha hoje. Você acha que o contribuinte americano vai tolerar isso, se você for jogado na cadeia na Alemanha por postar um tuíte maldoso? Claro que não”, disse ele durante a CPAC.
O Brasil também sofre pressões nesse campo e outros que mobilizam a extrema direita. Com as bigtechs no centro da política dos EUA, o país é alvo potencial de campanhas retaliatórias contra as tentativas de regulação. Também é alvo dos lobbies sionistas desde a posição do governo Lula contra o genocídio na Palestina. Existe ainda o golpe da taxação do aço exportado pelo país aos EUA, que o país tenta superar com cautela. A ameaça de condenação de Bolsonaro é parte dos incômodos da extrema direita, mas talvez não tão importante na conjuntura dominada por Trump. O bolsonarismo mobilizado com essa prisão pode ser mais interessante para mexer com a América Latina do que o próprio Bolsonaro e família soltos por aí.
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