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‘Israel matou 90 de uma única família sem imperativo militar’, confirma Monitor Euromediterrâneo

25 de fevereiro de 2025, às 15h52

Sobreviventes de massacre israelense contra a família Juha no leste de Gaza [Monitor Euromediterrâneo/Reprodução]

Como parte de seu genocídio em curso contra os palestinos de Gaza, desde outubro de 2023, o exército de Israel alvejou a residência da família Juha sem alerta ou imperativo militar, revelou uma investigação do Monitor de Direitos Humanos Euromediterrâneo, ong radicada em Genebra.

Segundo as informações, o ataque resultou no massacre de 90 civis, dentre os quais 71 mulheres e crianças, além de dezenas de feridos.

A ong reiterou a demanda de sanções políticas e econômicas a Israel, fim imediato das vendas de armas ao Estado ocupante e revogação de todas as licenças e acordos que o favoreçam no cenário internacional, especialmente em violações de colonos e soldados contra civis palestinos.

A ong notou que Israel lançou uma ataque de larga escala na região leste da Cidade de Gaza pouco após expirar a primeira trégua, no início de dezembro de 2023. A operação teve como maior alvo o prédio então habitado pela família Juha, na área densamente povoada de Sha’af, junto ao distrito de Shujaya.

Aeronaves israelenses investiram contra a casa da família na manhã de 6 de dezembro, com ao menos uma bomba de lançada contra o complexo habitacional de dois prédios. O ataque destruiu as estruturas, matando todos os ocupantes.

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Investigações revelaram que 117 pessoas viviam no local, sobretudo mulheres, crianças e idosos. Os prédios abrigavam não então não somente seus habitantes originais como parentes deslocados previamente à força do bairro de Zeitoun.

A maioria das vítimas não sobreviveu; alguns poucos foram resgatados de debaixo dos escombros, enquanto outros foram arremessados pela explosão. Dezessete moradores sofreram queimaduras, lesões e ferimentos graves, incluindo amputações.

A explosão despedaçou corpos de muitas das vítimas, com membros espalhados pelas ruas e mesmo nos telhados vizinhos. Desde então, contudo, trinta e quarto corpos não foram resgatados com êxito, ainda debaixo dos destroços.

Em suas tentativas de resgate, residentes enfrentaram desafios, em particular a falta de comunicação possível com ambulâncias ou equipes da defesa civil, devido ao blecaute imposto por Israel a serviços de internet e telecomunicações.

Sem resposta, a família Juha e vizinhos escavaram com as próprias mãos.

O Monitor Euromediterrâneo realizou diversas pesquisas de campo no local do ataque. As investigações envolveram testemunhos, perícia da devastação causada e das armas utilizadas, bem como análise comparativa do caso com outros incidentes.

As equipes da ong entrevistaram residentes que testemunharam o ataque em primeira mão, além de nove sobreviventes. Além disso, revisaram registros de satélite e imagens aéreas que documentaram o antes e depois, além de vídeos in loco.

O Monitor Euromediterrâneo confirmou então a inexistência de qualquer indicativo de presença da resistência armada nos edifícios em questão, seja dentro ou nos arredores da casa da família Juha.

Segundo o dossiê, princípios de distinção, proporcionalidade e precauções — requisitos da lei internacional — foram violados. O momento dos ataques, o tipo de munição e a destruição generalizada e indiscriminada subsequente são designados, portanto, como “injustificáveis”.

Para a ong, o massacre da família Juha constitui um padrão de crimes de guerra e lesa-humanidade conforme a lei internacional, como parte da agressão deliberada, de larga escala israelense contra a população civil de Gaza, desde outubro de 2023.

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O padrão inclui a destruição total ou parcial de 436 mil residências — ou 92% das casas em Gaza —, bem como o assassinato de mais de 54 mil palestinos, em maioria, dentro de suas próprias casas ou abrigos, como indício de estratégia deliberada israelense em atacar famílias e infraestrutura civis.

Os métodos abrangem ainda, prosseguiu o dossiê, um objetivo nítido: a eliminação da população palestina de Gaza.

O Monitor Euromediterrâneo reforçou, portanto, os apelos à comunidade internacional para pressionar Israel a permitir investigações independentes, incluindo de equipes das Nações Unidas, sobre as condições em Gaza, para além de adesão às determinações do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) para proteger civis.

O relatório pede um inquérito imediato sobre os crimes perpetrados por Israel contra a família Juha e outras centenas de milhares de famílias palestinas.

A organização instou o Tribunal Penal Internacional (TPI), além do TIJ, ambos sediados em Haia, a somar as provas compiladas a suas investigações sobre crimes de guerra em Gaza, ao emitir mandados de prisão e conduzir julgamentos conforme os parâmetros e diretrizes do Estatuto de Roma e outros acordos internacionais.

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Ao citar o Artigo 6 do Estatuto de Roma, o relatório pede ao TPI que reconheça os atos coletivamente conduzidos em Gaza como crime de genocídio e considere, portanto, as ações de Israel como prerrogativa a mandados de prisão.

O relatório pede por fim que todos os países colaborem com as investigações de Haia, ao compartilhar memorandos e dados factuais e judiciais sobre os crimes israelenses, evitar qualquer interferência ou pressão contra as investigações e auxiliar na execução dos mandados de prisão deferidos contra o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, e seu ex-ministro da Defesa, Yoav Gallant.