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Autoridades de Gaza denunciam vídeo ‘colonialista’ de Trump

28 de fevereiro de 2025, às 11h17

Manifestante ergue cartaz com os dizeres “Donald Trump, vá para o inferno! Gaza não está à venda”, durante protesto pró-Palestina em Berlim, na Alemanha, em 22 de fevereiro de 2025 [Emmanuele Contini/NurPhoto via Getty Images]

Autoridades de Gaza denunciaram nesta quinta-feira (27) um vídeo compartilhado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, nas redes sociais para promover planos de limpeza étnica e gentrificação do enclave palestino, ao descrever o conteúdo como “colonialista”.

O vídeo de 33 segundos de duração, compartilhado na rede social de Trump, conhecida como Truth, abre com uma imagem de Gaza em ruínas — causadas pelos 15 meses de genocídio israelense —, com a inscrição “Gaza 2025” em verde, seguida por “E agora?”, em vermelho, branco e azul.

O vídeo mostra arranha-céus característicos dos empreendimentos de Trump — muitos deles falidos ou sob numerosos processos judiciais — e crianças em meio a uma chuva de dólares.

Segundo Ismail al-Thawabta, diretor do Gabinete de Imprensa do governo em Gaza, em contato com a agência Anadolu, a divulgação da peça por Trump reflete “uma tentativa desesperada de legitimar a limpeza étnica perpetrada pela ocupação israelense, com o pleno apoio dos Estados Unidos”.

“Condenamos veementemente este vídeo deplorável, que incita rechaçados esquemas colonialistas contra Gaza, após o persistente crime de deslocamento forçado imposto a nosso povo, ato que constitui crime de lesa-humanidade”, reiterou.

Thawabta instou a comunidade internacional a agir para “conter a retórica de Trump e responsabilizar devidamente Israel pelo deslocamento à força e pelas violações ainda em curso contra civis palestinos”.

De acordo com o oficial, as investidas de Trump exigem resposta das “nações livres”, à medida que representam uma extensão de “projetos colonialistas” que não cabem em lugar algum do mundo, incluindo a Palestina.

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“Gaza sem foi e sempre será parte integral da Palestina”, reiterou Thawabta. “Qualquer tentativa de torná-la uma entidade amorfa e desconexa da história, cultura e valores de nosso povo, com suas raízes profundas, não passa de uma ilusão colonialista incapaz de angariar êxito algum”.

No vídeo, o bilionário Elon Musk come hummus em uma praia turística e um menino é visto com um balão dourado com o rosto de Trump. O próprio presidente é retratado dançando em uma boate, enquanto a entrada de um arranha-céu lê a inscrição “Trump Gaza”. Nas ruas do enclave, se apresenta ainda uma estátua dourada de Trump.

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu — foragido em mais de 120 países, sob mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional (TPI) — é retratado ao lado de Trump, bebendo à beira de uma piscina.

O vídeo apresenta ainda uma canção, com a sugestiva letra: “Donald está vindo para te libertar, para trazer a luz para que todos vejam. Chega de túneis. Chega de medo. Gaza de Trump chegou! A Gaza de Trump brilha, um futuro dourado, banquetes e dança. O acordo está feito. A Gaza de Trump, número um!”

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Trump, desde sua posse em janeiro, insiste em “assumir controle” de Gaza, destruída pelo genocídio israelense, na tentativa de expulsar a população palestina a Jordânia e Egito, a fim de instaurar um investimento de gentrificação imobiliária que caracterizou como a “Riviera do Oriente Médio”.

A proposta supremacista de Trump foi rechaçada por países árabes e pela comunidade internacional, incluindo aliados como França, Reino Unido e Alemanha. De acordo com analistas e ativistas de direitos humanos, o plano configura limpeza étnica.