Cinco funcionários da megacorporação de tecnologia Microsoft foram retirados de uma palestra aberta após conduzirem um protesto contra contratos de inteligência artificial (AI) e armazenamento em nuvem com o exército de Israel.
O ato ocorreu na segunda-feira (24), após uma reportagem investigativa da Associated Press (AP) revelar que o uso de modelos avançados da Microsoft e da OpenAI — firma criadora do ChatGPT — pelas forças da ocupação, no intuito de selecionar alvos para os recentes bombardeios em Gaza e no Líbano.
O dossiê expôs, entre outras violações, um ataque aéreo israelense de 2023 contra um veículo que transportava uma família libanesa, que culminou na morte de três meninas e sua avó.
Enquanto o diretor executivo (CEO), Satya Nadella, apresentava seus novos produtos na sede da empresa em Redmond, no estado de Washington, um grupo de trabalhadores, posicionados em um mezanino a sua direita, revelou camisetas com os dizeres: “Nosso código mata crianças, Satya?”
LEIA: Genocídio em Gaza alimenta boom na venda de armamentos testados em campo
Fotos e vídeos do protesto, com transmissão ao vivo nos canais da Microsoft, mostram o CEO seguindo com sua venda, quando dois seguranças se aproximam do grupo para removê-los do salão.
A Microsoft defendeu a censura: “Fornecemos diversos canais para que todas as vozes sejam ouvidas. Pedimos que seja feito de forma que não prejudique os negócios. Caso aconteça, pedimos aos participantes que se realoquem. Seguimos comprometidos em manter nossas práticas de negócios no mais alto nível [sic]”.
Não é a primeira vez que a Microsoft reprime protestos contra seus contratos firmados com Israel. Em outubro, a empresa demitiu dois funcionários por realizarem uma vigília para refugiados palestinos na sede de Redmond. A marca alegou “política interna” para justificar as demissões; contudo, sem detalhes.
Por meses, um grupo de funcionários da Microsoft alerta para a cumplicidade da marca para com a ocupação militar de Israel, sobretudo no que diz respeito a seus serviços de armazenamento de nuvem conhecidos como Azure.
A investigação da AP, que analisou documentos e dados internos da empresa, revelou o uso dos modelos Azure em cerca de 200 incidentes de crimes de guerra no contexto do genocídio em Gaza, após outubro de 2023.
Abdo Mohamed, cientista de dados demitido pela Microsoft em outubro, hoje ativista do grupo No Azure for Apartheid, criticou a companhia por priorizar o lucro à ética: “As demandas são claras. Satya Nadella e os executivos da Microsoft têm de responder aos seus empregados, que exigem o fim dos contratos com o exército de Israel”.
LEIA: Morte por algoritmo: Inteligência artificial na guerra em Gaza