Em 6 de março, a Europa comemora o Dia dos Justos, um dia destinado a homenagear aqueles que se posicionaram contra a opressão, o genocídio e os crimes contra a humanidade, resistindo às injustiças de seu tempo. O conceito está enraizado no reconhecimento da coragem moral — especialmente em tempos em que falar ou agir contra a injustiça envolve grande risco pessoal.
Mas olhando para o comportamento dos governos europeus hoje em relação às vozes pró-Palestina falando contra a devastação de Gaza e seu povo por Israel, o contraste é impressionante: a Europa celebra heróis do passado enquanto pune aqueles que mostram retidão hoje.
Um dia destinado a inspirar coragem moral
O Dia dos Justos tem suas raízes no reconhecimento daqueles que desafiaram a tirania. O conceito foi institucionalizado pela primeira vez por “Justos entre as Nações” do Yad Vashem, homenageando não judeus que salvaram judeus durante o Holocausto. A ideia mais tarde se expandiu e, em 2012, o Parlamento Europeu designou 6 de março como o Dia Europeu dos Justos, ampliando o escopo para reconhecer aqueles que resistiram a regimes totalitários, genocídio e opressão em vários contextos históricos, incluindo stalinismo e apartheid.
Figuras como Oskar Schindler, que salvou mais de mil judeus, ou a estudante alemã e ativista política antinazista Sophie Scholl, são amplamente elogiadas por seus atos de desafio. Esses indivíduos se opuseram aos crimes de seu tempo, muitas vezes correndo grande risco pessoal. Nelson Mandela também é amplamente reverenciado por sua luta contra o apartheid, apesar de ser uma figura impopular na época.
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A Europa se orgulha de lembrar desses atos de bravura. As escolas ensinam sobre eles. Ruas têm seus nomes. Políticos os citam em discursos. Mas o verdadeiro teste de retidão não está em olhar para trás, está em se levantar agora. E hoje, aqueles que ousam expor crimes de guerra, falar a verdade ao poder e desafiar a opressão estão sendo sistematicamente silenciados, excluídos, desplataformados ou criminalizados.
Retidão seletiva não é retidão alguma
A hipocrisia é impossível de ignorar. Os mesmos governos que nos dizem para admirar aqueles que resistiram ao apartheid na África do Sul agora condenam aqueles que condenam o apartheid israelense. Eles honram aqueles que se manifestaram contra genocídios passados enquanto punem aqueles que exigem ação contra aquele que se desenrola diante de nossos olhos. Eles ensinam as crianças sobre os perigos de permanecer em silêncio diante da injustiça, enquanto criminalizam aqueles que se recusam a ficar em silêncio hoje.
O que significa celebrar a coragem moral se ela só é elogiada quando é politicamente conveniente? Se a retidão é punida no presente, o que a história dirá sobre aqueles que impuseram esse silêncio?
Em toda a Europa, jornalistas, ativistas, estudantes e acadêmicos que denunciam o assassinato em massa de palestinos estão perdendo seus empregos, sendo expulsos, sendo difamados como extremistas ou enfrentando ações legais.
Essas são as mesmas pessoas que poderiam, em outra era, ser lembradas como justas. No entanto, hoje, elas estão sendo esmagadas sob o peso da repressão estatal, cumplicidade corporativa e preconceito da mídia.
O Dia dos Justos não deve ser um ritual vazio, nem uma ferramenta para os governos honrarem seletivamente o passado enquanto suprimem o presente. A verdadeira medida da retidão não está nas palavras, mas na ação. Está em se posicionar contra a injustiça, não décadas depois, quando é seguro e politicamente aceitável, mas agora, quando ela vem com consequências.
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