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‘Apenas gente doente guarda cadáveres’, diz Trump ao Hamas; mas e Israel?

12 de março de 2025, às 09h05

Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em Washington DC, em 28 de fevereiro de 2025 [Celal Günes/Agência Anadolu]

Na quarta-feira passada (5), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a ameaçar o grupo palestino Hamas com “consequências severas” caso não devolva, sem reciprocidade alguma, os prisioneiros de guerra israelense e os eventuais corpos ainda em sua custódia na Faixa de Gaza. “Apenas gente doente e perversa guarda cadáveres”, disse Trump em sua plataforma de rede social. “Vocês são doentes”.

“Shalom, Hamas! Isso quer dizer Adeus e Olá — vocês escolhem! Libertem agora todos os Reféns [sic] — e não depois — e devolvam imediatamente todos os corpos daqueles que vocês assassinaram [sic], ou ACABOU para vocês”, afirmou o presidente.

Contudo, Trump obviamente ignorou o fato de que Israel retém os corpos de ao menos 665 palestinos assassinados pelo exército ocupante, alguns há décadas. Segundo a ong palestina Campanha Nacional para Recuperação dos Corpos dos Mártires, Israel retém os corpos em mortuários sem identificação ou “cemitérios de números”. Seus túmulos nada mais são que uma placa de metal com um número de uso confidencial das forças ocupantes, em vez do nome do falecido.

Entre os corpos retidos estão 259 palestinos assassinados antes de eclodir o genocídio israelense em Gaza, em outubro de 2023. Há ainda 67 pessoas que morram nas cadeias da ocupação, 59 menores de idade e nove mulheres.

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Os números conhecidos, no entanto, não incluem os corpos de palestinos sequestrados em Gaza durante a campanha, cujas informações permanecem opacas.

Segundo estimativas da própria imprensa israelense, mais de 1.500 palestinos seguem em custódia, mortos, na infame penitenciária de Sde Teiman, no Negev (Naqab), no sul do território considerado Israel.

Ao ignorar a realidade dos corpos palestinos retidos por Isael, Trump insistiu em apoiar o Estado ocupante e suas reiteradas violações.

“Estou enviando a Israel tudo que precisa para terminar o trabalho. Nenhum membro da Hamas [sic] estará seguro se não fizerem o que eu mando!”, reafirmou o presidente. “Tomem a decisão mais ESPERTA. LIBERTEM AGORA OS REFÉNS OU UM INFERNO VAI CAIR SOBRE VOCÊS”.

Trump tem insistido em “tomar o controle” de Gaza e expulsar a população do enclave para dar lugar a um investimento turístico e imobiliário. Seus planos sofreram repúdio quase imediato do mundo árabe e da comunidade internacional, que denunciaram as medidas como limpeza étnica.

O genocídio de Israel contra os palestinos de Gaza matou ao menos 50 mil pessoas, em maioria mulheres e crianças, e feriu 112 mil pessoas desde outubro de 2023. Tamanho genocídio, que deixou o território em ruínas, foi suspenso, ao menos por ora, mediante um acordo de cessar-fogo e troca de prisioneiros em vigor desde janeiro.

O acordo escalonado em três fases compreende trocas de prisioneiros nas quais todos os israelenses em custódia palestina — vivos ou mortos — serão liberados, mediante a soltura de milhares de presos políticos palestinos. Até então, sob a primeira fase deste acordo, vinte e cinco prisioneiros de guerra israelenses e oito corpos foram rendidos ao lado ocupante, contra centenas de reféns palestinos.

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, porém, recusou-se a seguir com as negociações para a segunda fase do cessar-fogo, que implicaria no compromisso junto ao fim da guerra. Em vez disso, buscou estender o primeiro estágio de seis semanas, ao que tudo indica, para ganhar tempo. Em todo o caso, ordenou em 2 de março que toda a ajuda humanitária enviada a Gaza fosse impedida de atravessar a fronteira, apesar de a população seguir faminta e desabrigada.

O Hamas se negou a proceder sob tais circunstâncias coercitivas, ao insistir que Tel Aviv tem de respeitar os termos do acordo firmado em primeiro lugar, incluindo ao aderir a negociações imediatas para a próxima etapa — com a retirada completa das tropas de Israel em Gaza e cessação completa da guerra.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.