Dia Internacional de Combate à Islamofobia

Francirosy Campos Barbosa
13 horas ago

O Dia Internacional de Combate à Islamofobia é celebrado em 15 de março, data estabelecida pela ONU em 2022 para conscientizar e combater a discriminação contra muçulmanos no mundo. A escolha do dia remete ao atentado de 2019 em Christchurch, Nova Zelândia, onde 51 pessoas foram mortas em duas mesquitas, evidenciando a necessidade urgente de enfrentar esse problema global.

A islamofobia manifesta-se como medo, preconceito e ódio contra muçulmanos, resultando em hostilidade, assédio e violência, tanto online quanto offline. Essa discriminação possui bases institucionais, políticas e culturais, refletindo o racismo estrutural que afeta símbolos e identidades muçulmanas.

O combate à islamofobia exige a condenação de discursos inflamatórios, a proteção da liberdade religiosa e a promoção do respeito e da compreensão mútua. Também é fundamental que plataformas digitais modifiquem suas políticas para reduzir discursos de ódio. A união de esforços é essencial para criar sociedades mais justas, inclusivas e pacíficas.

Desde 2020, o GRACIAS – Grupo de Antropologia em Contextos Islâmicos e Árabes, sob minha coordenação, desenvolve pesquisas, relatórios e artigos sobre islamofobia. Em 2022, elaboramos o I Relatório de Islamofobia no Brasil, seguido pelo II Relatório em 2023, nos quais analisamos os principais fatores que desencadeiam violência e discriminação religiosa no país.

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Entre os principais gatilhos da islamofobia no Brasil, destacam-se a associação do Islam ao terrorismo, impulsionada por discursos midiáticos sensacionalistas e por políticas de segurança que promovem a vigilância de muçulmanos. Casos emblemáticos incluem a detenção arbitrária de indivíduos muçulmanos em aeroportos, ataques a mesquitas e a disseminação de discursos de ódio nas redes sociais. Em 2018, por exemplo, um centro islâmico em São Paulo foi pichado com mensagens xenofóbicas e ameaças de violência.

Embora os ataques às Torres Gêmeas tenham intensificado esse tipo de violência, a islamofobia é anterior a essa data. Na Europa, por exemplo, o crescimento das comunidades muçulmanas tem sido acompanhado por políticas cada vez mais restritivas, como a proibição do uso do véu islâmico em espaços públicos na França e a ascensão de partidos políticos que propagam discursos anti-islâmicos. Além disso, o aumento de ataques a mesquitas, como o atentado em Christchurch em 2019, demonstra como a islamofobia se manifesta globalmente, muitas vezes com consequências fatais.

Esses episódios reforçam a necessidade de estudos aprofundados sobre a islamofobia e do desenvolvimento de políticas públicas para combater a discriminação religiosa. Nosso relatório revela que o registro de boletins de ocorrência relacionados à islamofobia é extremamente baixo, quase inexistente, o que faz com que muitos casos não sejam notificados e, consequentemente, invisibilizados. No entanto, é evidente que mulheres que usam hijab (véu) são as principais vítimas desse tipo de discriminação, enfrentando um conjunto de violências motivadas por racismo, xenofobia e intolerância religiosa.

As agressões variam desde insultos verbais, “piadinhas” e assédio até ataques físicos, além da exclusão do mercado de trabalho, resultando em demissões ou dificuldades para conseguir emprego. No Brasil, muitas pessoas ainda têm dificuldade em reconhecer que uma mulher que usa lenço pode ser autônoma e exercer sua própria escolha, o que reforça estereótipos negativos sobre o uso do hijab.

Esse processo de estigmatização da vestimenta islâmica não é exclusivo do Brasil, mas faz parte de uma dinâmica global. Em diversos países, políticas restritivas e discursos públicos associam a roupa islâmica à opressão, ignorando a pluralidade de experiências e as diferentes motivações das mulheres muçulmanas ao usá-la. Combater esses estereótipos e garantir a liberdade religiosa são passos essenciais para enfrentar a islamofobia e promover sociedades mais inclusivas.

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O Trabalho do GRACIAS no Combate à Islamofobia

Para contribuir com o enfrentamento dessas violências, o GRACIAS atua em três frentes: com pesquisadores que coletam informações na internet, com aqueles que realizam pesquisas junto à comunidade muçulmana e na divulgação dos resultados por meio do Instagram @grupogracias.

Acreditamos que a informação e a produção do conhecimento acadêmico desempenham um papel fundamental na educação sobre quem são os muçulmanos e no que acreditam. Grande parte da intolerância decorre da falta de conhecimento, e nossas pesquisas não apenas documentam o que vem acontecendo, mas também oferecem caminhos para enfrentar essa violência.

O protagonismo de mulheres e homens muçulmanos em nossa sociedade é essencial para alcançarmos mudanças significativas. Escolas e universidades podem – e devem – incentivar que seus alunos e professores conheçam a comunidade muçulmana, promovendo o diálogo e a convivência. As mesquitas estão sempre com suas portas abertas.

Neste momento, consideramos fundamental continuar produzindo conhecimento e reforçar a consciência de que o mundo precisa ser um espaço para todos, onde cada indivíduo seja respeitado. Se a pesquisa científica que desenvolvemos contribuir para esse objetivo, teremos certeza de que estamos trilhando um caminho significativo e necessário.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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