A iniciativa da Agência da USP de Cooperação Acadêmica Nacional e Internacional (Aucani) de promover uma feira intercultural internacional com a participação do consulado de Israel, programada para 23 de abril, gerou indignação do veterano intelectual da própria universidade, defensor de direitos humanos e dirigente brasileiro de comissão da ONU, Paulo Sergio Pinheiro, que escreveu uma carta às autoridades da instituição pedindo a exclusão da diplomacia israelense.
“Apelo à AucaniI para que não permita a participação do consulado do Estado de Israel , cujas ações são frontalmente contrárias aos valores da comunidade acadêmica da USP. Esses fatos são pateticamente maquiados por este consulado com atividades na Feira Intercultural como “Shalom & Sugar! Aprenda Hebraico e ganhe um doce!” (sic) e “dança tradicional Israelita Harkada”. escreve ele.
Pinheiro questiona o fato de a Aucani não ter levando em conta a decisão do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) que acionado contra Israel por genocídio, e do Tribunal Penal Internacional (TPI) que ordenou a prisão de Netanyahu por crimes de guerra e contra a humanidade.
Fundador, em 1987, Núcleo de Estudos da Violência, NEV/USP e ex-ministro de Direitos Humanos, no governo FHC, Pinheiro lamenta um evento de promoção de Israel em meio a violações contínuas dos direitos palestinos.
ASSISTA: MEMO conversa com Paulo Sergio Pinheiro
“ Enquanto escrevo esta mensagem, escreve ele, Israel segue bombardeando Gaza, forçando deslocamentos internos da população palestina, fazendo limpeza étnica destruindo hospitais e impedindo a chegada de ajuda humanitária. Entre os crimes de guerra mais recentes, conforme noticiado pela Globo e pela BBC em 2 de abril de 2025, está o assassinato de 15 paramédicos e membros de equipes de resgate pelas forças israelenses”
Pinheiro tem vínculos fortes com a USP, como pesquisador e professor titular de ciência política aposentado da FFLCH, e questiona a instituição para a qual trabalhou por anos: “ É profundamente lamentável que a Universidade de São Paulo – instituição historicamente comprometida com os direitos humanos e o direito humanitário internacional – conceda espaço ao consulado do Estado de Israel, cujo governo e políticas de Estado violam, de forma sistemática, os princípios que nossa Universidade promove e difunde”.
O intelectual também é presidente da comissão independente internacional da ONU de investigação sobre a República Árabe Síria Genebra desde 2011, e lembra agressões de Israel à comunidade internacional: “Em 2023, Israel chegou ao ponto de declarar o Secretário-Geral da ONU como persona non grata no país… . No dia 1º de abril de 2024, Volker Turk, Alto Comissário de Direitos Humanos da ONU – organização com a qual colaboro há três décadas –, condenou veementemente essas mortes”. Na carta, Pinheiro reproduz as notícias sobre os fatos relatados.