Através de oceanos e continentes, as mulheres palestinas — seja nos bairros sitiados de Gaza ou nas extensas cidades do Brasil — estão unidas por um profundo legado de resistência. Diante da ocupação, do exílio e da discriminação sistêmica, sua força não é apenas a sobrevivência — é o poder de liderar, organizar e exigir justiça em seus próprios termos.
Para as mulheres palestinas que fizeram do Brasil seu lar, sua jornada é de equilíbrio e celebração de suas raízes palestinas, ao mesmo tempo em que abraçam as oportunidades e os desafios da vida brasileira. Essas mulheres têm um pé em dois mundos — um marcado pelas lutas de seus ancestrais e o outro pela paisagem vibrante e em constante mudança do Brasil.
Essa mistura única de herança palestina e influência brasileira criou uma identidade distinta para essas mulheres, permitindo que contribuam profundamente para suas comunidades. Do ativismo à preservação cultural, as mulheres palestinas no Brasil estão causando um impacto duradouro.
Quando muitos palestinos começaram a emigrar, principalmente nas décadas de 1950 e 1960, o Brasil se tornou um dos maiores destinos para refugiados palestinos, especialmente aqueles que fugiam das consequências da guerra e da ocupação. Entre eles, as mulheres palestinas levaram sua herança para o Brasil, não apenas como sobreviventes, mas também como portadoras de cultura, histórias e um profundo senso de identidade.
Um dos aspectos mais visíveis dessa herança tem sido o papel que as mulheres palestinas desempenharam na paisagem cultural do Brasil. Por meio da gastronomia, da arte e da música, elas ajudaram a introduzir a cultura palestina na sociedade brasileira. Pratos tradicionais palestinos, como musakhan, homus e falafel, encontraram espaço nas cozinhas brasileiras, e as mulheres palestinas se tornaram figuras-chave na preservação e no compartilhamento dessas tradições culinárias.
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Mas, além da comida, as mulheres palestino-brasileiras têm atuado ativamente na preservação de sua herança por meio da educação e das artes. Embora a preservação cultural seja um aspecto importante da diáspora palestina no Brasil, as mulheres palestinas no país também estão alcançando avanços significativos nas áreas de ativismo social e engajamento político. Enquanto o mundo continua a lidar com questões como desigualdade de gênero, violência contra as mulheres e justiça social, as mulheres palestino-brasileiras têm se mostrado ativas em levantar suas vozes e criar mudanças.
Da mesma forma, muitas mulheres palestinas se envolveram no movimento feminista no Brasil, destacando os desafios singulares enfrentados por mulheres de comunidades imigrantes. No contexto do cenário político brasileiro, essas mulheres têm trabalhado para amplificar as vozes de comunidades marginalizadas, garantindo que as lutas das mulheres palestinas e de outras populações imigrantes não sejam ignoradas.
Esse espírito ecoa na vida de mulheres como Fátima Hussein, dentista e a primeira mulher muçulmana a se candidatar à Câmara Municipal de Florianópolis. Sua campanha não se limitou a quebrar barreiras na política local — foi também uma declaração de presença. “Estou aqui para dar voz aos que não têm voz”, declarou ela, representando não apenas as comunidades muçulmana e árabe-brasileira, mas também a luta mais ampla das mulheres marginalizadas em todo o Brasil.

Fátima Hussein em sua clínica odontológica. [Monitor do Oriente Médio]
Na academia, Soraya Misleh, pesquisadora brasileira de origem palestina, tem trabalhado para desmantelar estereótipos sobre as mulheres árabes, revelando a profundidade histórica de seu envolvimento na literatura e na resistência política. Sua pesquisa sobre os papéis das mulheres palestinas do século XIX ao período pós-Nakba mostra que sua luta nunca foi nova — apenas raramente contada.
Entre as notáveis mulheres palestino-brasileiras que moldam suas comunidades está Shahla Othman, cuja história pessoal exemplifica resiliência e orgulho cultural. Nascida no Brasil, filha de um refugiado palestino, Shahla cresceu profundamente conectada tanto às suas raízes palestinas quanto à sua herança brasileira. Essa dupla identidade alimentou seu compromisso em construir pontes de entendimento, defender apaixonadamente os direitos dos refugiados e celebrar a cultura palestina na sociedade brasileira.
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Por meio de seu ativismo e engajamento público, Shahla enfatiza consistentemente como sua origem palestina influenciou profundamente seus valores de perseverança e solidariedade, enquanto sua educação brasileira enriquece sua abordagem ao diálogo multicultural e à justiça social. Shahla Othman se destaca como um símbolo vibrante de como as mulheres palestino-brasileiras contribuem de forma única para a formação de comunidades inclusivas e dinâmicas.
Oula Al-Saghir, uma cantora palestino-brasileira, incorpora uma fusão vibrante de suas ricas raízes culturais com o espírito dinâmico de sua terra natal adotiva, o Brasil. Filha de refugiados palestinos na Síria, Oula descobriu sua paixão pela música por meio do pai, um tocador de alaúde, e começou a se apresentar publicamente com apenas quatro anos de idade. Forçada pelo conflito a se mudar para o Brasil, ela continuou perseguindo seus sonhos artísticos, fundando a banda Nahawand, que reúne músicos palestinos, tunisianos e libaneses-brasileiros, destacando instrumentos tradicionais do Oriente Médio, como o bazuq, o qanun e o riq, para celebrar e preservar a herança cultural palestina.
A jornada artística de Oula ressoa profundamente com a resiliência inabalável e a resistência inabalável demonstradas pelas mulheres palestinas em Gaza. Assim como Oula canaliza o deslocamento em poderosas expressões de preservação cultural por meio da música, as mulheres em Gaza se destacam como símbolos de força, sustentando suas famílias e comunidades em meio a imensas dificuldades.
A médica Bacila Badwan, renomada cardiologista radicada em Santo Ângelo, Rio Grande do Sul, é filha de um refugiado palestino deslocado durante a Nakba de 1948. Nascida em Uruguaiana, cidade no sul do Brasil, ela não apenas construiu uma distinta carreira médica, mas também se destacou como uma proeminente líder cívica e cultural.
Como presidente do Rotary Club Feminino de Cruz de Lorena e membro ativa da Federação Árabe Palestina do Brasil (FEPAL), Badwan exemplifica o duplo compromisso que muitas mulheres palestino-brasileiras carregam: servir suas comunidades locais e, ao mesmo tempo, permanecer profundamente conectadas à luta por justiça na Palestina.
Seus esforços foram formalmente reconhecidos quando ela foi nomeada Cidadã Honorária de Santo Ângelo pelo Prefeito Jacques Gonçalves Barbosa.
A história de Badwan faz parte de uma ampla rede de mulheres palestinas em todo o Brasil que estão moldando a sociedade com propósito e resiliência. Sejam médicas, educadoras, artistas ou ativistas, essas mulheres estão entrelaçando sua herança palestina ao tecido social brasileiro — construindo pontes entre continentes e gerações.
Suas histórias refletem as de mulheres na Palestina que, diante das adversidades diárias, permanecem pilares de força. Seja criando famílias sob ocupação, organizando comunidades ou liderando a resistência por meio da educação, essas mulheres refletem a mesma resiliência vista em suas irmãs da diáspora.
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