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Soldados israelenses em Gaza ostentam má conduta

Por que as agências de espionagem se interessam tanto por Gaza?

Palestinos protestam contra a ocupação histórica dos territórios palestinos por parte de Israel, perto da fronteira entre Gaza e Israel, 6 de setembro de 2019 [Mohammed Asad/Monitor do Oriente Médio]

A Faixa de Gaza, parte fundamental da Palestina histórica, é um território com mais de dois milhões de palestinos residindo em cerca de 365 km². A região litorânea é ocupada militarmente por Israel desde 1967, que impôs a Gaza quase treze anos de bloqueio por ar, mar e terra. É considerada uma das áreas mais densamente povoadas do planeta.

O território litorâneo foi submetido a inúmeras ofensivas militares israelenses, considerando três ataques de larga escala executados somente na última década. Por consequência, Gaza não possui recursos naturais e “menos de quatro por cento da água é adequada ao consumo humano, além do mar circundante estar gravemente poluído por emissões de esgoto.” Estatísticas humanitárias bastante trágicas – desemprego a 52 por cento; pobreza a 53 por cento; poluição das águas a 95 por cento; e cortes energéticos diários a 75 por cento – compõem um retrato sombrio. Um relatório divulgado pela Organização das Nações Unidas em 2018 advertiu que o território deverá se tornar inabitável por humanos até 2020.

No entanto, Gaza está presente em muitos corredores de poder em todo o mundo, tanto Ocidente quanto Oriente. Na semana passada, uma fonte de segurança em Gaza relatou-me ter descoberto até então a presença de oficiais de 25 agências de inteligência regionais e internacionais, em operação no território palestino.

Além disso, cada oficial ou candidato presente nas listas eleitorais israelenses já mencionou a questão da Faixa de Gaza como prioridade no decorrer de suas campanhas. O que prometem então fazer com Gaza?

Ron Ben-Yishai, correspondente militar do jornal israelense Yedioth Ahronoth, por exemplo, afirma que o Partido Likud planeja uma operação militar de larga escala por terra contra a Faixa de Gaza, a fim de conter o “poder militar” dos palestinos. Segundo o correspondente israelense, Israel deverá pedir ao mundo que desarme as forças de segurança em Gaza e que permita a ocupação a reconstruir a infraestrutura e economia locais. O Partido Azul e Branco (Kahol Lavan), de acordo com os relatos de Ben-Yishai, promete a eleitores em potencial que fará mais ou menos o mesmo que o Likud.

O jornalista veterano destacou que Avigdor Lieberman, líder do Partido Lar Judaico, promete a seus eleitores executar uma “forte” operação militar contra Gaza, a fim de remover “completamente” seu governo antes de reconstruir o território “da estaca zero”. Novamente, a intenção é subjugar a população desarmada sob os pés de Israel. A aliança Yamina, liderada pela ex-Ministra da Justiça Ayelet Shaked, promete executar também um ataque aéreo em massa contra Gaza, além de assassinar líderes palestinos, considerados “alvos específicos”.

Não é segredo que o Egito é agente majoritário na situação de Gaza. O Egito cumpre seu papel no bloqueio israelense com apoio internacional, além de manter uma unidade especial em quase todas as agências de segurança incumbidas de lidar com a Faixa de Gaza. Na prática, o Egito é o único estado além de Israel que possui fronteira por terra com o território palestino, mas o considera somente uma questão de segurança, através da qual aborda o assunto. Entretanto, é evidente aos palestinos que o estado profundo do Egito, desde a deposição do Presidente Hosni Mubaraki, em 2011, prioriza os interesses israelenses referentes às relações entre Cairo e Gaza.

Pelo fim do cerco a Gaza! – cartum [Sabaaneh/Monitor do Oriente Médio]

Os Emirados Árabes Unidos impuseram restrições severas a Gaza desde a vitória do Movimento Palestino de Resistência Islâmica (Hamas), nas eleições de 2006. O Hamas efetivamente governa Gaza desde então. Neste período até hoje, no entanto, Abu Dhabi, deportou ou expulsou centenas de palestinos originários de Gaza do território emiradense, além de administrar as atividades de agências de inteligência em terras palestinas, com ajuda de Mohammed Dahlan, ex-líder do Fattah, que hoje reside com sua família nos Emirados Árabes Unidos.

Durante a ofensiva militar israelense executada contra Gaza em 2014, serviços de segurança descobriram que um ostensivo comboio de suprimentos médicos entrou no território transportando equipes de inteligência no lugar de médicos e enfermeiros. Para evitar confrontos com os Emirados Árabes Unidos, oficiais de segurança de Gaza imediatamente deportaram os nacionais emiradenses.

A Jordânia também possui uma agenda secreta na Faixa de Gaza. Uma fonte de segurança relatou-me que um parlamentar jordaniano, em visita ao território durante a ofensiva israelense de 2014, foi descoberto coletando e reportando informações em nome de um país não-identificado. De imediato, o oficial foi deportado, sob ameaça de ser exposto à imprensa caso não deixasse prontamente seu hotel em Gaza.

Outros agentes ativos em Gaza incluem oficiais em nome da Arábia Saudita, potências ocidentais, Estados Unidos e Rússia. Ainda antes de 2008 e 2009, uma cidadã americana por volta de seus vinte anos de idade entrou em Gaza como jornalista e relatou a mim que era de fato agente da CIA. Israel, evidentemente, possui inúmeros colaboradores no território palestino.

Por que os países estrangeiros prestam tanta atenção à pequena fatia de terra conhecida como Faixa de Gaza? Pode ser porque Gaza é o único local em todo o mundo árabe que é governado por pessoas escolhidas democraticamente, via eleições populares, declaradas por entidades de monitoramento internacionais livres e justas, incluindo a ong administrada pelo ex-presidente americano Jimmy Carter. Pode ser também porque a Faixa de Gaza é uma “superpotência” que impõe tamanho medo sobre o resto do mundo? Talvez esta última hipótese seja verdadeira, considerando a legitimidade eleitoral, popular e democrática do território palestino.

 

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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