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Spyware desenvolvido em Israel é usado por sauditas para hackear dissidentes em Londres

O comediante dissidente Ghanem Almasarir protesta por justiça para Jamal Khashoggi – jornalista assassinado no consulado saudita em Istambul – em frente à Embaixada da Arábia Saudita em Londres, 24 de outubro de 2018 [Robin Millard/AFP/Getty Images]

O software criado por uma empresa israelense de spyware, aparentemente utilizado no caso do assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi, também se tornou evidente em um escândalo de hackeamento de informações envolvendo outro dissidente saudita. A última vítima é o comediante Ghanem Almasarir, de Londres, que foi atacado nas ruas da capital britânica por homens provavelmente fiéis ao príncipe herdeiro Mohammad Bin Salman.

De acordo com uma carta que pede a notificação de uma possível ação legal – enviada à monarquia, segundo informações do jornal de The Guardian –, Almasarir teria sido alvo da Arábia Saudita por meio de malware desenvolvido pelo NOS Group, controversa empresa israelense. O spyware (software espião) se infiltra em smartphones e monitora chamadas, textos, e-mails e contatos, além de ser capaz de utilizar o microfone e a câmera do dispositivo para vigilância.

A empresa em questão é famosa por fabricar o infame spyware Pegasus. Em outro escândalo envolvendo a empresa israelense, acredita-se que o software da NSO aproveitou uma brecha no WhatsApp, que ainda estava sendo corrigida até o final de semana passado. O WhatsApp agora está incentivando seus 1,5 bilhão de usuários globais a atualizar o aplicativo em seus dispositivos para reduzir o risco de novos ataques.

A carta sugere que as mesmas táticas teriam sido usadas para atacar Almasarir. Segundo o The Guardian, o comediante recebeu mensagens de texto suspeitas em junho do ano passado. Estas foram rastreadas por especialistas independentes até chegar a um operador da Pegasus “concentrado na Arábia Saudita” e que esteve ligado a outro ataque contra um crítico saudita.

“Uma grande quantidade de informações pessoais do Sr. Almasarir foi armazenada e comunicada via seus iPhones… Isso incluiu informações relacionadas à sua vida pessoal, sua família, seus relacionamentos, sua saúde, suas finanças e assuntos privados relacionados ao seu trabalho de promoção dos direitos humanos na Arábia Saudita”, declara a carta.

Ao The Guardian, o dissidente afirmou: “Nós usamos o espaço da liberdade no Ocidente, na Europa e na América, e os sauditas querem tirar essa liberdade de nós, fazendo com que eu e os outros nos sintamos como se estivéssemos vivendo na prisão”.

Autoridades sauditas não responderam a pedidos de esclarecimentos sobre as acusações contra Riad, a mais recente das quais chega semanas depois de uma conspiração descoberta pela CIA sobre potenciais ameaças a um ativista palestino que vive na Noruega. Iyad El-Baghdadi, ativista pró-democracia e crítico de Bin Salman, foi alertado sobre a ameaça em 25 de abril, quando as autoridades norueguesas o transferiram para um local seguro.

O incidente deve levantar novas questões sobre o modo como os programas israelenses de hackers estão sendo utilizados por regimes repressivos para atingir dissidentes e ativistas em todo o mundo. Tais atividades, que são consideradas um ataque à liberdade de expressão e à democracia, tornaram-se razões graves de preocupação. A Anistia Internacional, que também foi alvo dos ataques, descreveu a empresa israelense como “fora de controle”, citando seu papel em “uma série de flagrantes violações dos direitos humanos”.

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