A administração de Donald Trump está pressionando a Arábia Saudita a mostrar “progressos tangíveis” para indiciar e condenar os responsáveis pelo assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi. Os Estados Unidos desejam que a monarquia complete tais processos antes do aniversário de um ano do crime, afirmou um oficial do alto escalão do governo, segundo a agência Reuters.
Como resposta aos críticos que acusam o presidente americano Donald Trump de ignorar a responsabilidade dos sauditas na morte de Khashoggi, o oficial declarou à Reuters nesta semana que a mensagem ao reino se trata de reafirmar o caso como uma “questão bastante forte” e que “é preciso que eles a levem a sério.”
Legisladores democratas e republicanos, ao mencionar evidências do papel do príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman no caso Khashoggi e indignados pelas baixas civis causadas pela campanha aérea saudita no Iêmen, mobilizaram esforços a fim de interromper as negociações de Trump para vender armas à Arábia Saudita.
O oficial declarou, sob condição de anonimato, que os sauditas precisam completar a investigação e agir ainda antes do aniversário do crime; contudo, não especificou qualquer consequência caso a monarquia ignore as exigências. A administração de Donald Trump, até então, reagiu somente a passos mínimos.
Khashoggi, colunista do The Washington Post, residente nos Estados Unidos e crítico veemente do príncipe saudita, desapareceu após entrar no consulado saudita em Istambul, em 2 de outubro de 2018. Onze suspeitos sauditas foram indiciados para serem julgados em procedimentos secretos, embora apenas poucas audiências tenham ocorrido desde janeiro.
“Haverá cada vez mais sensibilidade ao assunto às vésperas do aniversário,” alegou o oficial. “Seria do melhor interesse para todos algum progresso tangível até lá.”
Segundo fontes do governo, a CIA determinou, sob “confidência média a alta”, que o príncipe herdeiro, conhecido pelas iniciais MbS e considerado governante de fato da Arábia Saudita, ordenou o assassinato. A agência de inteligência continua a monitorar e reunir informações, mas não está conduzindo qualquer inquérito de larga escala, afirmou o oficial americano.
Oficiais sauditas negaram o envolvimento do príncipe Mohammed.
Trump recentemente expressou dúvidas sobre a avaliação da CIA e argumentou que Washington não pode arriscar sua aliança com Riad, pedra angular da política de segurança americana no Golfo e contrapeso regional ao Irã.
O assassinato de Khashoggi manchou a reputação internacional do príncipe herdeiro. Ele então decidiu avançar em uma ambiciosa agenda doméstica acompanhada por repressão violenta contra qualquer dissidência.
No mês passado, o Congresso americano reagiu com indignação quando Trump declarou que a ameaça iraniana era uma emergência que o forçava a contornar os trâmites legislativos e vender US$ 8 bilhões em armas para a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos.
Nesta semana, o Senador americano Chris Murphy acusou a administração de “fazer vista grossa” ao assassinato de Khashoogi.
A administração, portanto, decidiu enfatizar aos sauditas que a controvérsia continuará até que demonstrem um “caso bastante claro de culpabilidade,” afirmou o oficial do governo americano.
Em uma entrevista ao portal de notícias Axios, Jared Kushner, conselheiro da Casa Branca e genro de Donald Trump, que cultivou um relacionamento bastante próximo com Mohammed bin Salman, recusou-se a recriminar o príncipe herdeiro sobre a morte de Khashoogi.