Uma companhia de armas israelense assinou um acordo no valor de US$ 100 milhões com o Exército da Índia e sua força aérea, sob o qual 1.000 kits de mísseis serão enviados ao país do sul da Ásia.
A empresa israelense Rafael Advanced Defence Systems – de fabricação de armas para o Exército de Israel – assinou o contrato com a subdivisão Kalyani Rafael Advanced Systems Ltd. India (KRAS), no valor de US$ 100 milhões. O acordo prevê o envio de 1.000 kits de mísseis Barak 8/MRSAM para o exército e a aeronáutica indiana, segundo informações do jornal Jerusalem Post.
O jornal israelense esclarece que o sistema de mísseis MRSAM “é uma configuração com base no solo para o sistema de defesa de longo alcance superfície-ar (LRSAM) ou para o sistema naval de defesa aérea Barak-8”.
A reportagem acrescenta que o conjunto “inclui um sistema de controle e comando, radar de rastreamento, mísseis e sistemas de lançamento móveis. Os mísseis, que podem ser disparados isoladamente ou em série a partir de uma posição vertical, são lançados de uma configuração de duas pilhas com oito cilindros cada; cada cilindro contém um míssel.”
O contrato assinado é parte de um acordo conjunto entre as duas companhias sob a iniciativa “Make in India”, promovida pelo primeiro-ministro indiano Narendra Modi, em 2014. Segundo uma reportagem publicada pelo jornal Haaretz em 2018, a iniciativa “[desde então] tornou-se um veículo para facilitar grandes acordos de defesa internacionais como empreendimentos conjuntos com agentes estrangeiros,” incluindo empresas da Suécia, França e Estados Unidos.
Este não é o primeiro acordo militar assinado entre Índia e Israel. Em janeiro deste ano, uma delegação do Conselho Nacional de Segurança de Israel, liderada por Meir Ben Shabat, visitou a Índia e reuniu-se com o primeiro-ministro. Segundo relatos, Shabat e Modi discutiram as negociações militares em curso entre os dois países e as possibilidades de ainda maior integração.
Em dezembro, foi divulgado que Israel se preocupava sobre o possível cancelamento, por parte da Índia, de uma compra de mísseis anti-tanque do modelo Spike, no valor total de US$ 500 milhões. O jornal econômico israelense Marker alegou que a Índia exigia melhores testes sobre o equipamento, em particular “em uma atmosfera de alta temperatura” antes de concluir a aquisição, embora Israel acreditasse ser somente “uma desculpa” para cancelar o contrato.
Na realidade, é provável que a Índia tente desenvolver domesticamente os mísseis que planeja comprar da empresa israelense, ao revogar o pedido de Israel e conceder algum desses contratos a produtores locais, como parte do programa “Make in India”.
A Índia ainda é o maior mercado de armas para Israel, estimado no valor de cerca de US$ 1 bilhão por ano. Um relatório publicado no primeiro semestre de 2019 pelo Instituto de Pesquisa da Paz Internacional de Estocolmo (SIPRI), com sede na Suécia, revelou que a Índia representa 46 por cento das exportações de armas israelenses. Azerbaijão e Vietnã são segundo e terceiro maiores consumidores, respectivamente.
As relações entre Índia e Israel também se estendem para além do mercado de armas. Em 2017, Modi tornou-se o primeiro chanceler indiano a visitar Israel; o primeiro-ministro da Índia referiu-se à visita como “pioneira”. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, referiu-se a ela como “histórica”, ao prometer “aprofundar os laços de cooperação em diversos setores – segurança, agricultura, água, energia – basicamente em todo setor no qual Israel esteja envolvido.”
Espera-se que Netanyahu também visite a Índia neste segundo semestre de 2019. A visita – supostamente uma iniciativa de Netanyahu – é prevista para acontecer no início de setembro, embora não se saiba ainda a data exata. A escolha do momento não é coincidência, considerando as novas eleições gerais israelenses, marcadas para 17 de setembro.
O primeiro-ministro tem o hábito de viajar para fora do país às vésperas das eleições. Em abril deste ano, logo antes das eleições gerais, Netanyahu visitou o Presidente dos Estados Unidos Donald Trump para uma assinatura cerimonial do reconhecimento americano das Colinas de Golã – território ocupado da Síria – como território israelense. O movimento foi visto como uma tentativa de explicitar os laços com o presidente americano e promover um histórico de sucessos diplomáticos.
Netanyahu também visitou o Presidente da Rússia Vladimir Putin, com o intuito de enfatizar a participação russa na devolução do corpo de um soldado israelense “desaparecido em combate” desde a invasão israelense ao Líbano, em 1982.