O Presidente da Turquia Recep Tayyp Erdogan afirmou neste domingo (22) que seu país não será capaz de lidar com mais uma onda de refugiados sírios e alertou que os países europeus serão aqueles a sentir o impacto de tamanho influxo migratório caso não se interrompa a violência na região noroeste da Síria. As informações são da agência Reuters.
A Turquia abriga hoje cerca de 3.7 milhões de refugiados sírios, a maior população de refugiados em todo o mundo, e teme outra onda migratória proveniente da região de Idlib, no noroeste da Síria, onde até três milhões de sírios vivem na última porção significativa de território mantido pelos rebeldes.
Forças da Rússia e do regime sírio de Bashar al-Assad intensificaram os bombardeios sobre alvos em Idlib. Assad promete recapturar a região e os ataques efetivamente resultaram em mais uma onda migratória em direção à Turquia.
Ao discursar em uma cerimônia de prêmios em Istambul, na noite deste domingo, Erdogan afirmou que mais de 80.000 pessoas provenientes de Idlib estão hoje viajando em direção à Turquia.
“Caso não pare a violência contra o povo de Idlib, este número aumentará ainda mais. Neste caso, a Turquia não carregará tamanho fardo sozinha,” declarou Erdogan. “O impacto negativo de tamanha pressão à qual seremos submetidos será algo também sentido por todas as nações europeias, especialmente a Grécia,” alegou o presidente turco, reiterando que logo será inevitável repetir-se a grave crise migratória de 2015.
Erdogan também afirmou que a Turquia está fazendo todo o possível para suspender os bombardeios russos sobre o território de Idlib e acrescentou que uma delegação de seu país deverá ir a Moscou para discutir as questões da Síria ainda nesta segunda-feira (23).
Em ocasiões anteriores, Erdogan ameaçou “abrir os portões” para os refugiados entrarem na Europa, a menos que a Turquia receba maiores auxílios para abrigá-los.
A Turquia busca hoje apoio internacional para realizar seus planos de assentar aproximadamente um milhão de refugiados sírios em parte do território noroeste da Síria, local tomado pelas forças turcas e aliados rebeldes sírios das mãos da facção curda YPG (Unidades de Proteção Popular), em uma incursão transnacional executada no último mês de outubro.
Ancara recebeu pouco apoio do público a esta proposta e condenou reiteradamente seus aliados pela falta de apoio. A ofensiva turca também foi criticada veementemente por seus aliados, incluindo Estados Unidos e Europa.
“Pedimos aos países europeus que utilizem sua energia para interromper o massacre em Idlib, ao invés de tentar intimidar a Turquia por suas medidas legítimas tomadas na Síria,” declarou Erdogan, referindo-se às três operações militares executadas pela Turquia no território sírio.
Após um fórum global sobre a questão dos refugiados realizado em Genebra, Suíça, na última semana, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) anunciou que diversos estados prometeram mais de US$ 3 bilhões em apoio aos refugiados e ao estabelecimento de aproximadamente 50.000 locais de reassentamento. Erdogan, no entanto, que participou do fórum, declarou no domingo que a soma não será suficiente.
Agências da ONU denunciam que centenas de pessoas foram mortas em Idlib no decorrer de 2019, após ataques contra áreas residenciais. Os exércitos da Rússia e do regime sírio de Bashar al-Assad negam as acusações de bombardear indiscriminadamente áreas civis e alegam que combatem militantes fundamentalistas islâmicos inspirados na Al-Qaeda que ocupam os locais.
Equipes de resgate informaram que seis pessoas foram mortas na região de Maarat al-Numam, além de outras onze pessoas em aldeias próximas, na última sexta-feira (20).
Ainda no início do domingo, a agência de notícias estatal turca Anadolu reportou que cerca de 205.000 pessoas foram deslocadas de suas casas em Idlib desde novembro, devido aos ataques militares. A agência também relatou que civis estão em fuga em direção a áreas sírias tomadas pela Turquia em suas recentes operações militares ou a outras partes da província de Idlib.