Segundo estimativas, mais de 4.8 milhões de crianças sírias nasceram durante os nove anos de guerra civil no país, tanto na Síria quanto no exterior, revelou o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF).
No domingo (15), data que celebrou o aniversário da revolução síria, Henrietta Fore, diretora executiva da agência da ONU, declarou: “A guerra na Síria representa hoje mais um marco histórico vergonhoso.” Conforme a guerra entra em seu décimo ano, crianças continuam a ser algumas das mais graves vítimas, argumentou Fore. “Milhões de crianças entram em sua segunda década de vida cercadas pela guerra, violência, morte e deslocamento.”
A organização ainda afirmou que dados compilados desde 2014 – quando começou o monitoramento oficial sobre a guerra civil e seus efeitos – mostram que “mais de 9.000 crianças foram mortas ou feridas no conflito”, além de “aproximadamente 5.000 crianças – a partir dos sete anos de idade – recrutadas ao combate e quase 1.000 instalações médicas e educacionais atacadas.”
O bem-estar das crianças sírias no futuro próximo não parece promissor. A agência alertou que o “verdadeiro impacto desta guerra nas crianças é provavelmente ainda mais profundo.” Isso se deve principalmente pelas enormes consequências dos conflitos e da devastação sobre seu acesso à saúde e educação, particularmente nas áreas mantidas pela oposição, no noroeste da Síria.
Desde abril de 2019, quando o Presidente da Síria Bashar Al-Assad e seus aliados russos lançaram campanha intensiva para capturar o último posto avançado da oposição, na província de Idlib, famílias que residiam ali ou que se abrigaram no local – supostamente zona de desescalada – sofreram bombardeios e foram expulsas em direção à fronteira com a Turquia, mais ao norte.
Segundo a UNICEF, este processo resultou no deslocamento de 960.000 residentes locais, incluindo 575.000 crianças.
As crianças são afetadas especialmente pela falta de acesso à educação, observou a agência: “Mais de 2.8 milhões de crianças estão fora das escolas na Síria e nos países vizinhos.” Segundo relatos, os danos são tão generalizados que duas em cinco escolas não podem ser utilizadas devido à destruição, resultando em abrigos sem estrutura para famílias deslocadas ou mesmo utilizadas para fins militares.
Ted Chaiban, Diretor Regional da UNICEF para o Oriente Médio e Norte da África, afirmou que a crise vigente apresentará ainda mais “consequências severas às crianças”.
Em nome do bem-estar das crianças afetadas, Fore fez um apelo para que todos os lados do conflito atenuem as tensões e parem de atacar instalações humanitárias. “Nossa mensagem é clara: parem de atacar escolas e hospitais. Parem de matar e mutilar crianças. Garanta-nos acesso transnacional para que possamos chegar àqueles em necessidade. Crianças demais sofreram por tempo demais.”
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