A coalizão liderada pela Arábia Saudita que interveio no Iêmen para combater o grupo houthi, alinhado ao Irã, afirmou nesta quarta-feira (8) que está suspendendo todas as operações militares em escala nacional em apoio aos esforços da ONU por um cessar-fogo amplo diante do coronavírus. O armistício ocorre após cinco anos de guerra no Iêmen, que resultou em mais de 100.000 mortos e condições severas de fome e doenças. As informações são da agência Reuters.
LEIA: Coalizão saudita executou mais de 257.000 ataques aéreos no Iêmen em cinco anos
Segundo o coronel Turki al-Malki, porta-voz da coalizão, a medida pretende facilitar diálogos mediados pelo enviado especial da ONU Martin Griffiths por um cessar-fogo permanente e foi assumida em parte para prevenir um potencial surto de coronavírus no Iêmen, embora o país não tenha reportado casos até então.
O cessar-fogo entra em vigor às 12h desta quinta-feira (9) e será válido por duas semanas, passível de extensão, afirmou al-Malki em declaração.
O anúncio é considerado o principal avanço significativo desde que as Nações Unidas reuniram as partes em conflito na Suécia para realizar negociações, no final de 2018, ocasião na qual assinaram um cessar-fogo para a cidade portuária de Hodeidah, costa do Mar Vermelho.
Não está clara ainda a aderência do movimento houthi ao cessar-fogo. O porta-voz Mohammed Abdulsalam afirmou que o grupo rebelde enviou à ONU um programa abrangente que inclui o fim da guerra e do “bloqueio” imposto ao Iêmen.
“[Nossa proposta] deixará fundações para o diálogo político e para um período de transição”, declarou Abdulsalam em sua página do Twitter nesta quarta-feira.
Horas após o anúncio da coalizão saudita, o ministério de informações do Iêmen relatou que houthis dispararam mísseis contra Hodeidah e contra a cidade central de Marib. A imprensa local filiada ao movimento houthi, por sua vez, reportou que a coalizão atacou as províncias de Hajja e Saada.
Na última semana, Griffiths enviou uma proposta às partes relevantes, isto é, ao governo iemenita reconhecido internacionalmente, à coalizão saudita (que o apoia) e ao movimento houthi – que controla a capital Sanaa e a maior parte dos território no norte do Iêmen.
LEIA: Iêmen precisa de água potável para se proteger de doenças, alerta ACNUR
Griffiths agradeceu a medida de cessar-fogo e convocou as partes em conflito a “utilizar esta oportunidade para dar fim a todas hostilidades com a maior urgência e avançar em direção a uma paz abrangente e sustentável.”
Ameaça do coronavírus
Espera-se que os adversários na guerra do Iêmen reúnam-se por videoconferência para debater a proposta da ONU, que pede o fim de todas as hostilidades via ar, mar e terra.
Um oficial de alto escalão da Arábia Saudita, em entrevista a repórteres em Washington, afirmou que o governo em Riad espera que o Conselho de Segurança das Nações Unidas ajude a pressionar os houthis a “suspender hostilidades”, em particular nas próximas duas semanas, a fim de anuir ao cessar-fogo. O oficial saudita também fez um apelo à agência da ONU para “levar a sério tal engajamento com o governo iemenita”.
A ONU e representantes ocidentais destacaram a ameaça do coronavírus para pressionar as partes em conflito no Iêmen a concordar com a realização de novos diálogos e suspender a guerra, ao menos por ora.
O conflito deixou milhões de pessoas vulneráveis à doença. Estados Unidos e Grã-Bretanha são responsáveis por fornecer armas, inteligência e apoio logístico à coalizão saudita.
O Iêmen vivenciou um breve intervalo nas ações militares após Arábia Saudita e houthis darem início a negociações no fim de 2019. Entretanto, um novo pico de violência sobre cidades portuárias estratégicas voltou a ameaçar os frágeis acordos de paz estabelecidos até então, incluindo mísseis disparados em direção a Riad, no mês de março, e retaliação saudita por meio de sucessivos ataques aéreos.
O Iêmen – país mais pobre entre os estados árabes – é assolado por violência desde que os houthis depuseram o governo do poder na capital Sanaa, no final de 2014.
O conflito é considerado guerra por procuração entre Arábia Saudita e Irã e resultou em grave crise humanitária na região, que levou milhões à margem da fome, além de forçar grande parte da população a buscar abrigo em campos de refugiados. A crise também resultou em surtos de cólera e difteria.
O príncipe Khalid bin Salman, vice-ministro da defesa da Arábia Saudita, afirmou via Twitter que a monarquia contribuirá em US$500 milhões para auxiliar no programa humanitário da ONU para o Iêmen, em 2020, além de US$25 milhões para ajudar no combate ao novo coronavírus.
As Nações Unidas fizeram um apelo por US$4 bilhões adicionais em 2019 para conceder a devida assistência à crise humanitária local. Espera-se que volte a pedir por bilhões de dólares complementares para enfrentar a crise ainda vigente em 2020.
LEIA: Ataques aéreos sauditas atingem estábulos no colégio militar de Sanaa