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No Líbano, mulheres são mortas em suas casas durante o isolamento

Chamadas a linhas de denúncia contra a violência doméstica aumentaram em cem por cento neste período

Conforme o mundo vivencia seu maior, mais amplo e mais restritivo isolamento na história, como tentativa de impedir a propagação do novo coronavírus, a violência de gênero demonstra aumento à medida que vítimas permanecem presas em suas próprias casas, junto de seus agressores.

Desde o início da quarentena, mais mulheres têm denunciado abusos no Oriente Médio e norte da África. Segundo a ABAAD, organização de direitos humanos que defende a igualdade de gênero no Líbano, chamados a linhas de denúncia contra violência doméstica aumentaram 110% em março deste ano, em comparação com o ano anterior. Conforme os registros, onze mulheres foram mortas em decorrência de violência doméstica desde o início do bloqueio.

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“Vivemos tempos difíceis em muitos níveis, em particular, no Líbano – o sistema, a corrupção, as falhas do governo, além das ansiedades em torno da pandemia”, constatou Ghida Anani, diretora da entidade, ao MEMO, ao reiterar que a violência de gênero precisa ser tratada como prioridade, vista como “problema fundamental de saúde pública e verdadeira pandemia, capaz de nos afetar mesmo na segurança de nossos lares”.

Abuso verbal, psicológico, físico e sexual são todas formas de violência doméstica. Grupos como a ABAAD defendem o desenvolvimento de políticas e leis que possam melhorar o papel e condições de vida da mulher na sociedade. A equipe de ativistas, advogados, consultores, assistentes sociais e pesquisadores adota uma abordagem holística para fornecer serviços de proteção e apoio, para ajudar não apenas cidadãos libaneses, mas também refugiados e trabalhadores domésticos imigrantes.

Desde o início do lockdown, o número de pessoas que solicita acesso a abrigos de emergência no Líbano aumentou para quatro a seis mulheres por semana.

A ABAAD atende a uma média de 340 mulheres por ano através de seus abrigos. “Neste ano, já atingimos esse número e ainda estamos no primeiro trimestre”, relatou Anani.

Entre ameaças de morte e pensamentos suicidas, pessoas que pedem asilo em abrigos de emergência, muitas sob apelos de apoio para subsistência, frequentemente denunciam: ‘Ele vai nos matar e matar meus filhos; não temos comida em casa e ele está furioso’.

 

Sessões de aconselhamento por Skype são realizadas para vítimas e mesmo homens com histórico de violência, como medida preventiva; simultaneamente, campanhas levaram a uma nova onda de vítimas em busca de apoio, por meios discretos, como redes sociais e vias online. A abordagem virtual previne o risco do agressor ouvir a vítima no telefone e resultar em retaliações. Muitas mulheres evitam denunciar abusos como resultado de pressão social ou medo de serem ostracizadas.

Anani argumenta que questões de gênero devem ser priorizadas pelo governo. “Infelizmente, sequer estão integradas ao plano de resposta à crise”, destaca a ativista. “Eu diria, com segurança, que a pandemia ao menos dobrou a magnitude do problema. Esperamos que o lockdown não se prolongue por muito mais tempo, pois pode levar a implicações devastadoras e bastante dramáticas”.

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