Uma trabalhadora doméstica nigeriana, vítima de abusos, foi impedida de embarcar no Líbano em um voo de repatriação após seu empregador intervir e alegar “possuí-la”, relatou a rede britânica Middle East Eye (MEE).
Segundo o Ministro de Relações Exteriores da Nigéria Geoffrey Onyeama, neste domingo (24), cinquenta mulheres vítimas de tráfico humano retornaram à Nigéria do território libanês, junto de dezenove cidadãos que ficaram isolados no país devido às restrições do coronavírus.
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Ativistas que lutam contra o tráfico humano, entretanto, relataram à imprensa que oito mulheres foram impedidas de embarcar no voo de repatriação, incluindo Ariwolo Olamide Temitope, de 31 anos de idade.
Uma imagem de Temitope com máscara cirúrgica, boné de beisebol da equipe New York Yankees e bagagem de aeroporto circulou nas redes sociais.
Ativistas da campanha “This is Lebanon”, coalizão de ex-trabalhadores sob o sistema kafala, que decidiram expor os abusos perpetrados por seus patrões libaneses, afirmaram ter recebido mensagem de Temitope, denunciando que não lhe foi permitida embarcar no voo, pouco após o registro fotográfico.
Segundo os relatos, denunciou a mensagem: “Não fui permitida entrar no avião para a Nigéria. Disseram-se que minha patroa não aprovou minha saída do país do Líbano.”
Temitope was assaulted by her Lebanese employers who then stopped her from leaving on the emergency evacuation flight. Because they own her. @NaomiCampbell @IshaSesay https://t.co/STnK6nU7xp#lebanon#abolishkafala pic.twitter.com/IosajL63Ci
— This Is Lebanon (@ThisIsLebanonLB) May 25, 2020
Segundo denúncias, foi oferecido o valor de US$100 por mês a Temitope em troca de favores sexuais, além de grave agressão cometida por seu empregador, Mahmoud Zahran. Em 25 de abril, a imigrante nigeriana foi golpeada no rosto após o patrão acusá-la de roubar um telefone, enquanto falava com sua família na Nigéria.
Após o ataque, a cidadã nigeriana de 31 anos gravou um vídeo de si mesma para registrar a denúncia e o ferimento na boca. Visivelmente conturbada, afirmou: “Me ajude. Oh Deus. Quanto tempo ainda aguento fazer isso? E não peguei o telefone! Veja como me batem! Veja como me batem!”
Mais tarde, Temitope fugiu da residência em questão com ajuda de um líder da comunidade nigeriana no Líbano, segundo relatos da entidade “This is Lebanon”.
O vídeo de Temitope e um artigo da rede Al Jazeera sobre o caso resultou no banimento de seus empregadores, Zahran e sua esposa, Feyzeh Diab, do sistema de trabalho. Porém, a proibição é facilmente contornada ao contratar funcionários sob diferentes nomes.
Uma investigação criminal sobre o incidente também foi aberta, mas os resultados de tais inquéritos raramente vêm a público, o que resulta em preocupações concretas sobre a condução de fato dos devidos processos.
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